Ouvindo os dois pronunciamentos
da presidente Dilma, tive a clara percepção de que, de fato, estávamos sendo governados por uma pessoa que derrubou limites na sua
relação com a realidade. Era algo que já se identificava durante a campanha
eleitoral. À época, essa conduta foi inteiramente atribuída a um esforço para
esconder do eleitorado a crise já em curso. Certamente havia bastante disso,
sim, na publicidade eleitoral e nas orientações que, a peso de ouro, produzia
João Santana. Mas evidenciou-se nos
últimos meses que algo mais grave envolvia pessoalmente a presidente. Para
todos os efeitos práticos, Dilma presidia um país diferente. Exercia um outro
governo.
Mesmo diante de indicadores
gravíssimos, que
diagnosticavam a maior crise nacional em oito décadas, a presidente jamais lhe dedicou a atenção
necessária. Erro imperdoável! Quem não se acautela ante um inimigo
desse porte será implacavelmente abatido por ele. Essa é uma crise cujo
enfrentamento cobra ações sérias e responsáveis. Dilma desconsiderou as mais
prudentes advertências, desdenhou as reações das agências de risco. Condenou os
críticos da política econômica. O navio afundava e ela ouvia a orquestra dos
companheiros.
A corrupção grassava no governo.
Fortunas se acumulavam no seu entorno. É bom lembrar: esses escândalos não foram "descobertos" pela Lava Jato. Eles já enchiam as páginas das revistas semanais bem antes
de caírem nas mãos diligentes da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba.
E o que fazia a presidente? Estimulava a reação de sua militância contra as
publicações, sem enfrentar os fatos escabrosos que eram denunciados.
Quantas matérias foram produzidas
sobre os negócios de seu anjo da guarda, Luís Inácio Lula da
Silva, com empreiteiras nacionais em
arranjos bolivarianos e africanos envolvendo o BNDES? Quantas denúncias sobre o enriquecimento da família Lula da Silva? Quantas
informações circularam no país, durante anos, sobre os desmandos da Petrobrás? Ela
sempre ocupando postos, caneta e cadeira de mando. E quanta prosperidade ao seu redor! Não, não me impressionam as
alegações da presidente afastada sobre a própria honestidade. Não há mérito em não furtar. Os crimes que
se gaba de não ter praticado aconteceram com o que estava sob seu zelo!
Ademais, mentir não é honesto. Ocultar a verdade, tampouco. Já a tolerância, a
imprudência, a omissão, a negligência e a vista grossa compõem gravíssimos
deméritos.
Nos dois pronunciamentos com que
se despediu, Dilma Rousseff
reincidiu nos mesmos equívocos. Buscou
sacralizar um mandato conquistado no mais destapado estelionato eleitoral, tão escandaloso e tão rapidamente evidenciado que levou a
nação às ruas já antes de sua posse. Atribuiu seu afastamento a um complô golpista e não a um justificado
clamor popular e a um correto procedimento constitucional. Afirmou que seus
adversários são inconformados com as "conquistas
sociais" e com a "prosperidade
dos mais pobres". Somente
alguém destituído de juízo pode crer que investidores, empresários,
profissionais liberais, por exemplo,
se beneficiem da pobreza dos pobres.
Fosse assim, o mundo dos negócios se mudaria para Serra Leoa e para a Somália.
Quem não sabe disto? Ao contrário, o que de melhor aconteceu para a economia
mundial neste século foi proporcionado por 400 milhões de chineses que
começaram a produzir, consumir, e saíram da pobreza. Até o Brasil petista cresceu, mas a riqueza foi
consumida pelos piores meios e fins, e seus benefícios, hoje, atendem pelo nome
de desastre brasileiro. No entanto, no cérebro da presidente afastada, não
há esse tipo de registro. Ali só têm lugar meia dúzia de chavões ideológicos
que compõem os mandamentos de seu grupo político. Então, é melhor suportá-los
na oposição do que nos submetermos por mais tempo ao desastre que foi a gestão
petista.
Fonte: http://www.puggina.org
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