Não adianta chorar sobre o leite derramado, mas agora, finalmente, terá ficado claro aos olhos de todos por que, em vez do impeachment da Dilma, era absolutamente necessário exigir a anulação total das eleições de 2014 e a prisão dos membros do TSE?
Em março de 2015, o povo tinha força para isso. Bastava organizá-lo e dirigir suas energias para o alvo certo. A elite estava atordoada e amedrontada. Os Arruinaldos, Kims e demais impeachmentistas deram-lhe tempo de refazer-se e dispersar o povo. Foram, nisso, ajudados pelos seus adversários “intervencionistas”, que preferiam tudo esperar dos militares em vez de organizar o povo para a ação direta. A política do Brasil nos últimos anos tornou-se, para usar a expressão do Carlos Drummond de Andrade, “um vácuo atormentado, um sistema de erros”.
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Será que agora entendem — tarde demais — que o inimigo do Brasil não é só o petismo, mas o estamento burocrático inteiro?
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E será que entendem que no fundo do estamento burocrático está o
filisteísmo, o desprezo pelo espírito, que é a fé única e suprema das
nossas classes dominantes?
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E será que entendem que o comunopriapismo das nossas universidades nunca poderá fazer nada contra o filisteísmo, só reforçá-lo?
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Não haverá uma política decente no Brasil antes de (re)constituída
uma intelectualidade de alto nível capaz de fiscalizar com severidade o
discurso político.
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O reinado do pseudo-intelectual universitário ambicioso e sem
escrúpulos não parece, mas É um flagelo pior do que toda a corrupção
federal, a qual jamais teria vindo a existir sem ele. Quem prepara a
classe política, senão as universidades?
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Sempre que soube o que era preciso — e possível — fazer, eu o disse.
Agora já não sei mais. Se voltar a saber, avisarei, mas sem a menor
esperança de ser ouvido.
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Aécio Neves e Michel Temer, convocados pela História a tornar-se heróis nacionais, preferiram conservar a amizade dos cocôs. .
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Quando encontrar um militar, avise-o de que a nação, a conselho médico, não pode aguentar mais uma dose de cu-doce.
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Já observei que na literatura nacional só se encontram personagens
“irônicos”, no sentido da escala Aristóteles-Frye, isto é, coitadinhos
que estão sempre abaixo da situação e se deixam arrastar ou corromper
por ela sem nem ter consciência clara do que está acontecendo.Se vocês se lembram da máxima de Hugo von Hofmannsthal, “Nada está na política de um país que primeiro não esteja na sua literatura”, terão aí um bom estímulo para meditar sobre as raízes culturais da pequenez moral generalizada.
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Se bem me lembro, foi Michel de Montaigne quem disse que entre o
homem culto e o inculto há mais diferença do que entre um homem e um
ganso.
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Ah, já sei, aparecerá alguém com a história das pessoas simplezinhas
repletas de sabedoria. Confesso que no Brasil jamais vi uma pessoa
simplezinha, muito menos simplezinha e sábia. Quando mais inculto o
cidadão, mais metido e palpiteiro.
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Cá entre nós, o único sujeito simplezinho que conheci no Brasil fui
eu mesmo. Nunca fui nada além de um zé-mané que estudou. Não tenho nem
diproma.Fonte: Diário Filosófico - Olavo de Carvalho - Mídia Sem Máscara