O povo, o poderoso, todos sabemos, é esmagadoramente favorável ao impeachment de Dilma, e nada menos de 61% dos eleitores, segundo o Ibope, não votariam hoje em Lula de jeito nenhum
A mensagem
inicial da peça publicitária repete aquelas inserções de 30 segundos que
foram ao ar há alguns dias. Pessoas portando bandeiras de várias cores
formam o mapa do país, e o texto, de tão entusiasmado com a ideia da
união de todos, não teme nem o pleonasmo: “É hora de unir forças para
fortalecer o Brasil”, convidando-nos a todos a abrir mão até das nossas
opiniões. Ulalá! O PT está sempre querendo calar a divergência. Até
quando tenta parecer simpático e inclusivo.
Mas o PT é o
PT. Logo depois de conclamar a união de todos, os petistas evidenciam
que é preciso discriminar. A locutora pergunta: “Por que tanto ódio e
intolerância contra um partido neste momento em que o país precisa tanto
de união?”. Respondo com perguntas: seria por causa da roubalheira? Da Petrobras quebrada? Da recessão? Do desemprego? Da velhacaria?
E tem início
o discurso falacioso que separa a nossa história em a.PT e d.PT: antes
do PT e depois do PT. De modo quase bíblico, tudo, no passado, eram
trevas, até que chegaram os iluminados. O partido
que diz querer a união de todos avança na jugular da oposição: “Já
tentaram anular o resultado das eleições; não conseguiram. Aí pediram
para recontar os votos. Queriam ganhar no tapetão, mas não deu certo.
Quiseram, então, instalar uma comissão do impeachment na marra. Tiveram
que mudar o plano. Agora, atacam e caluniam o presidente Lula”.
E tem início
a sessão de adoração do líder, santificando-o, como se o ex-presidente
realmente estivesse acima das leis. A ironia é que o programa vai ao ar
um dia depois que o mago da eleição e da reeleição de Dilma, João
Santana, teve decretada a prisão provisória. A mistificação continua: “Desrespeitam todas as regras para chegar
ao poder a qualquer custo. Mas o Brasil já demonstrou que ninguém é mais
poderoso do que o nosso povo”.
Vamos ver.
Ninguém tentou “anular o resultado das eleições”. As oposições
recorreram ao TSE contra crimes cometidos pelo PT durante a disputa.
Quais regras estariam sendo desrespeitadas? O povo, o poderoso, todos
sabemos, é esmagadoramente favorável ao impeachment de Dilma, e nada
menos de 61% dos eleitores, segundo o Ibope, não votariam hoje em Lula
de jeito nenhum.
Isso mesmo! Deixem que o povo decida, então…
Aí a gente
ouve uma voz grave, em tom falsamente emocionado, a afirmar que “os que
hoje tentam manchar a sua história, Lula, são os mesmos de ontem…”. Curiosamente,
em recortes de jornal do passado, exibidos na tela, lê-se o nome de
Collor como o inimigo de então. É verdade! Ocorre que, hoje, o
presidente impichando é um dos fiéis colaboradores do petismo. Ele
próprio está sendo investigado na Lava Jato porque Dilma lhe abriu as
portas da BR Distribuidora, onde, segundo a PF e o Ministério Público, o
senador pinto e bordou.
Não! O PT
mente! Muitos dos inimigos de ontem do PT são seus amigos hoje e, ora
vejam, são também seus sócios no poder. E parceiros na lambança. O locutor
fala em “ofensas, acusações, privacidade invadida”. Qual privacidade? O
tríplex do Guarujá e o sítio Santa Bárbara não são assuntos privados. Ao
contrário: trata-se de questões de absoluto interesse público, uma vez
que já os empreiteiros que o chamavam de “chefe” e que lhe fizeram
favores são investigados no maior esquema criminoso jamais descoberto no
Brasil.
E eis,
então, que chega o demiurgo. Nota: no plano original, Lula não falaria.
Mas agora o prioridade zero do partido e tentar restaurar a imagem de
Lula, tarefa que parece impossível. Por isso ele encerra o programa. E
aí, como não poderia deixar de ser, a cara de pau atinge o estado da
arte. Segundo
Lula, virou “moda falar mal do Brasil”. É uma piada. Os brasileiros
criticam o PT, o governo, Dilma e ele próprio, não o país. Ao contrário:
a esmagadora maioria do povo os quer fora do poder justamente porque
espera o melhor para o Brasil e para si mesma. E sabe que, submetida à
canga petista, não será fácil sair do atoleiro.
Como se
ainda fosse o fiador de alguma coisa e como se milhões estivessem
interessados no seu juízo, afirma Lula, de mãos postas: “Olhem, eu digo
com absoluta certeza que, hoje, eu tenho muito mais confiança no Brasil
do que eu tinha quando tomei posse, em 2003”. E lá vem a cascata sobre
as grandes conquistas do governo do PT.
Como Lula é
Lula, como o PT é o PT, como aquela história da união de todos contra a
crise era mesmo papo furado, ele volta a investir no arranca-rabo de
classes. Depois de exaltar as grandes conquistas do seu partido, afirma:
“E é isso que no fundo incomoda essa gente que não gosta de dividir a
poltrona dos aviões com o nosso povo”.
Lula, o
“chefe” dos empreiteiros; Lula, cuja mulher é a “madame” do concreto
armado, tem a ousadia de falar como porta-voz dos pobres.
Mas as ruas
estão dando a resposta ao demiurgo e ao PT. As mentiras do partido não
colam mais. E é por isso que, mais uma vez, o Brasil vai se unir no
panelaço, no buzinaço, no “Fora PT”.
Mais do que nunca!
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo