Longe
dos microfones, economistas afirmam que a economia está ‘paralisada’,
‘estrangulada’, ‘desmilinguindo’
A recessão é grave e se aprofunda a cada semana, muito mais
rapidamente do que imaginavam economistas das principais instituições
financeiras do Brasil. Eles
próprios admitem, em conversas reservadas.
Oficialmente, a projeção de mercado para o desempenho do PIB este ano é de -1,24%. Mesmo tendo piorado significativamente nos últimos
seis meses, ela ainda é boa demais para
ser verdade, segundo a maioria dos economistas entrevistados pela Reuters em condição de anonimato.
Nesta
semana, Itaú e Bradesco, os dois maiores
bancos privados do Brasil, transpareceram publicamente essa preocupação.
Segundo o economista-chefe do Itaú e ex-diretor do Banco Central Ilan Goldfajn, -1,5% “parece otimista”. O
Bradesco divulgou relatório esperando recuo de 2% este ano.
Longe dos
microfones, colegas de Goldfajn de outras instituições financeiras não poupam palavras para descrever a
situação atual. A economia está “paralisada”,
“estrangulada”, “desmilinguindo”, segundo relatos de profissionais que
acompanham diariamente as condições econômicas.
Todas
as expectativas para o resultado do PIB do primeiro trimestre eram abaixo de zero. E o recuo
frente ao último trimestre de 2014 foi de 0,2%, segundo
dados do IBGE divulgados nesta sexta-feira.
As projeções para o segundo trimestre são ainda piores. A evidência mais recente foi o indicador de criação de empregos em abril, divulgado semana passada. Quase 100 mil postos de trabalho foram fechados no país, muito além do que os mais pessimistas temiam. Há muitos outros indícios, alguns triviais: o salário de admissão caiu 1,8% sobre abril de 2014 e o consumo de diesel recuou 3%.
As projeções para o segundo trimestre são ainda piores. A evidência mais recente foi o indicador de criação de empregos em abril, divulgado semana passada. Quase 100 mil postos de trabalho foram fechados no país, muito além do que os mais pessimistas temiam. Há muitos outros indícios, alguns triviais: o salário de admissão caiu 1,8% sobre abril de 2014 e o consumo de diesel recuou 3%.
Poderia ser pior: até o começo do ano, o medo era
de que o Brasil fosse rebaixado pelas agências de risco e entrasse em uma crise
financeira com disparada do dólar e quebradeira geral. O ajuste fiscal da
presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, contornou
esse problema e deve equilibrar as contas públicas nos próximos anos, segundo
economistas, embora esse equilíbrio seja mais precário do que o da década
passada.
Ainda
assim, a recessão é grave. A aposta generalizada
de que a economia bateria no fundo do poço no segundo trimestre já é questionada por muitos, que procuram (e não acham) razão para uma melhora no
segundo semestre. A economia brasileira já surpreendeu pela força no passado,
mas normalmente contava com aumento dos preços das commodities no
exterior e desvalorização cambial. O dólar subiu, é verdade, mas a inflação
corroeu parte dos ganhos reais e ele agora opera perto do equilíbrio, segundo
economistas e o próprio BC.
O consumo deve recuar ainda mais
com o aumento do desemprego, que caminha para 10% se os
dados do Caged mantiverem a tendência horrível de abril. Os
investimentos seguem paralisados, com construtoras de todo o Brasil lutando
para sobreviver ou reaprendendo a fazer negócios com o Estado após a Operação
Lava-Jato. As concessões de infraestrutura ainda estão no papel.
O aumento de juros pelo Banco Central, por ora, mais atrapalha do que ajuda na retomada da confiança
prometida por Levy com seu ajuste fiscal. Para muitos, o BC já fez o suficiente.
Ainda assim, mesmo que a confiança se recupere, por que investir se a capacidade ociosa é
tão ampla e se os estoques continuam elevados?
No lado externo, o dólar mais
caro ainda deve levar mais tempo para ajudar as exportações; se houver
algum benefício no curto prazo, será mais pela piora intensa das importações.
A
esperança é de que os investidores estrangeiros dobrem a aposta no Brasil e
repitam a entrada de capitais vista no mês passado. Economistas de duas
instituições disseram que esse pode ser o caminho: o
Brasil ainda desperta interesse lá fora, e parece cada vez mais barato em
dólares.
Outra possibilidade é que a
inflação menor em 2016 incentive o consumo. Mas, para isso, o desemprego não pode ser muito alto. Ambas,
no entanto, são apostas prematuras. Para o economista de um grande banco, sem
um socorro externo, o mais provável é que a economia doméstica só volte a gerar
riqueza daqui a vários anos, após um longo processo de redução de custos. Em
outras palavras, com desemprego e salários abaixo da inflação.
Por: Silvio Cascione / Reuters - O autor é
correspondente sênior do Serviço Internacional da Reuters no Brasil. As opiniões expressas são do autor do texto.