Dilma não é Collor, mas está encurralada
O leitor dos três principais jornais de circulação nacional tem diariamente diante de si uma narrativa que busca assemelhar o momento de Dilma ao de Collor, o presidente que sofreu impeachment nos anos 1990. São eixos da narrativa ou das semelhanças: a impopularidade, as denúncias se avolumando e se aproximando da presidente (faz poucos dias Dilma respondeu ao delator em uma aparente mudança de estratégia diante dos fatos), mas também o retrato de uma presidente isolada, que diz frases soltas e desconexas – como se vivesse em um mundo à parte, imagem semelhante à de Collor às vésperas de sair do Palácio do Planalto para, muitos anos depois, ser inocentado pelo STF.
Algo assim: vai se criando um clima, um nó, que para as coisas voltarem a andar, a funcionar no país (o que os ingleses chamariam de business as usual), será necessário tirar Dilma. Com o PT esfacelado, o movimento sindical insatisfeito, a opinião pública desiludida, os mais pobres (base social do antigo lulismo) pagando o pato do ajuste, quem resistirá?
O enredo faz sentido, não fosse pela pergunta: e o dia seguinte? É possível que as peças que se movimentam para cercar a presidente não tenham, ainda, encontrado resposta adequada. Até lá, tem jogo. E pode até virar, nunca se sabe. Se a política fosse uma disputa de xadrez é capaz que, transcorridos 6 meses de mandato, Dilma já tivesse perdido um cavalo, uma torre, dois bispos e, quem sabe, a Rainha. A esta altura, terminar o jogo empatado já será de bom tamanho para o governo. E para as oposições, até onde vai a brincadeira?
Em primeiro lugar não existe uma, mas várias oposições – a de Aécio não é a mesma de Alckmin, que não e a de Serra nem muito menos a de Eduardo Cunha, este campeão da (eficaz) ambiguidade. Não está claro se o objetivo é o xeque-mate ou uma situação permanente de acuamento. Dilma encurralada, enfim, cedendo até onde os olhos alcançam. A ser salva, quem sabe, pela economia, daqui alguns vários e longos meses, e olhe lá, na melhor das hipóteses.
Seja como for, as oposições parecem apostar em diferentes frentes de cerco, todas com características político-jurídicas. No TCU/Congresso com o julgamento das contas de governo; no STF/CPI com a Operação Lava Jato e no TSE onde há recursos pendentes impetrados pela oposição referentes à campanha de 2014. Esse caminho de ‘judicializar’ a política, como se costuma dizer, encontra, porém, constrangimentos.
Na atual conjuntura, e talvez o principal, no que diz respeito ao menos à Lava Jato, é que há um rol extenso de políticos – tanto da situação como da oposição – na mira de diferentes investigações. Observando o cenário à distância, não parece tão simples a costura de algum pacto “por cima”, nem tão ferrenha a disposição das partes de ir até o fim, doa a quem doer (um chavão muito utilizado na política quando se diz que tal coisa será investigada, de forma “rigorosa”, no mais das vezes).
Siga-me no twitter! (@rogerjord)
Fonte:Blog do Rogério Jordão
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/rogerio-jordao/dilma-nao-e-collor-mas-esta-encurralada-141454877.html