Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Collor. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Collor. Mostrar todas as postagens

sábado, 14 de janeiro de 2023

Lula não tem “agenda positiva” e só mostrou até agora o que vai destruir - J.R. Guzzo

Vozes - Gazeta do Povo

O Brasil não pode passar o resto da vida vivendo em função das invasões e da depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF; o novo governo não pode ficar restrito a administrar um crime, por pior que ele tenha sido. 
O país não acabou no dia 8 de janeiro. Há todo um imenso trabalho a fazer na administração das questões nacionais, a começar pela prioridade das prioridades – a economia. Jamais houve tanta desconfiança no público, em relação à gestão econômica, quanto há agora; as pessoas não acreditam na capacidade do governo de manter o processo de recuperação iniciado no ano passado. 
Não acreditam porque não confiam na competência, e sobretudo nas intenções, da equipe que comanda o Ministério da Fazenda – a pior, possivelmente, que o Brasil já teve em qualquer época, com exceção do período inicial de demência do governo Collor. É urgente, para um governo que mal começa, comprovar com fatos que essas expectativas não procedem. Não adianta ficar se enchendo de fúria contra a baderna – rende cartaz no Jornal Nacional, mas não resolve nada. Para resolver, é preciso decisões. Onde estão elas?
 
Os crimes cometidos contra os prédios dos Três Poderes estão sendo processados, os criminosos estão sendo individualizados e o problema todo, no fundo, está superado - não vai acontecer de novo, porque foi causado por uma minoria extremista que jamais conseguirá fazer uma verdadeira política de oposição e não representa, muito simplesmente, o povo brasileiro.  
Mas nada disso vai influir na inflação do mês de janeiro, nem no nível de emprego, nem no acesso ao crédito. Não vai fazer aparecer investimento. Não influi nas exportações. Não afeta as cadeias produtivas. 
Para essas coisas tem de haver decisões acertadas do governo – e o governo, depois de dois meses de preparação, com a sua equipe de transição” de 900 “especialistas” e tudo o mais, só foi capaz, até agora, de dizer o que não vai fazer. Sabe-se o que o Sistema Lula anunciou que vai destruir – a privatização do Porto de Santos, o departamento de apoio ao agronegócio no Itamaraty, o programa de alfabetização e por aí afora. Não há o mais remoto sinal sobre o que vai construir.

Jamais houve tanta desconfiança no público, em relação à gestão econômica, quanto há agora

O presidente Lula, aparentemente, percebeu isso – acaba de pedir uma “agenda positiva” dos ministros, para sair da obsessão repressiva do momento e tentar mostrar que o seu governo não se limita a prender gente, dar multas, fazer censura e reduzir ao mínimo a liberdade de expressão e a livre manifestação do povo nas ruas.  
O que resulta, em dividendos políticos concretos, encher com 1200 presos um ginásio de esportes de Brasília – ou acabar com o programa de alfabetização? 
Alguém vai achar que Lula e o seu governo ficam melhores com esse tipo de coisa? 
Quantos votos vão ganhar por transformarem o Brasil numa delegacia de polícia, na qual se pune quem vai para a frente do quartel e se dá cada vez mais liberdade para os piores criminosos e os piores corruptos? O governo Lula tem de mudar de assunto.

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 4 de dezembro de 2022

FOI O STF, ATRAVÉS DE “MANOBRA” EXECUTADA PELO TSE, QUE ELEGEU LULA - Sérgio Alves de Oliveira

Seria sem dúvida alguma uma ingenuidade sem precedentes duvidar da capacidade eleitoral de Lula da Silva eleger-se pela terceira vez Presidente da República do Brasil, mesmo após os desastrados e corruptos governos anteriores que comandou direta, ou indiretamente, de 2003 a 2016, incluindo o período da sua sucessora,e “poste”, Dilma Rousseff,de 2010 a 2016.

É claro que uma pessoa “normal”,cônscia dos seus deveres cívicos e políticos com a Pátria e com o Povo brasileiro,jamais poderia cogitar dessa absurda hipótese,ou seja, da possibilidade de nova vitória do encantador de burros em outubro de 2022.

Mas estamos falando de um eleitorado de milhões de pessoas, jamais se podendo afastar a possibilidade que dentre eles, os idiotas,os “burros”, e os deficientes de caráter político de toda espécie, não constituam a maioria decisiva dos eleitores, capazes de cometer um desatino dessa envergadura,elegendo novamente Lula.

O Brasil é cheio desses “desatinos” no seu passado politico mais recente,começando com o “destrambelhado” Jânio Quadros,que governou o país de 31 de janeiro de 1961, até 26 de agosto de 1961,quando renunciou, e foi substituído pelo Vice-Presidente, João Goulart,que acabou deposto pelo Regime Militar, em 31 de março de 1964.

Mas algo muito pior que Jânio Quadros estava reservado,na sequência, para o desatento povo brasileiro, após o encerramento do Regime Militar,em 1985. Fruto das chamadas “diretas já”,tão reclamadas pelos políticos opositores dos militares,acabou sendo eleito Fernando Collor de Mello,que governou o país de 15 de março de 1990 a 29 de dezembro de 1992, quando foi impichado, e substituído pelo Vice-Presidente Itamar Franco. [importante destacar que Collor sofreu um processo de impeachment e sendo condenado foi impedido na forma da lei - PORÉM, foi INOCENTADO pelo STF, SITUAÇÃO QUE NÃO OCORREU com o presidente eleito que foi descondenado, porém, NÃO FOI INOCENTADO.
Houve omissão do governo Bolsonaro que deveria ter recorrido de imediato do malabarismo jurídico que descondenou o criminoso, tornando sua ficha limpa e permitindo sua candidatura. É o primeiro, e acreditamos seja e continuará sendo, caso de alguém ter uma FICHA LIMPA porém manchada com crimes pelos quais foi julgado por nove diferentes juízes, condenado,  condenações confirmadas em três instâncias diferentes, foi descondenado, não sendo inocentado, mas sua ficha ficou limpa.]

E foi justamente no Governo de Itamar Franco que criaram o “monstro” chamado Fernando Henrique Cardoso,”onde tudo começou”,que às custas do Plano Real ,na qualidade de então Ministro da Fazenda,conseguiu “faturar”, injustamante,os méritos da relativa estabilização da economia,o que lhe valeu a candidatura presidencial e a vitória em 1994,governando de 1995 até 2003,após ter conseguido,com muito “toma-lá-dá-cá”, junto aos políticos, uma emenda constitucional que lhe garantiu a reeleição.

Foi exatamente nesse período de Ministro da Fazenda de Itamar Franco,”responsável” pelo Plano Real,que FHC fechou um acordo com a esquerda,ele representando o “Diálogo Interamericano”,com Lula da Silva, pelo PT e pelo Foro San Pablo,acordo esse denominado “Pacto de Princeton”,assinado em 1992, nos Estados Unidos,pelo qual a esquerda adotou a chamada “estratégia das tesouras”,com base nas ideias desenvolvidas por Hegel e adotadas por Karl Marx, pela qual a esquerda sempre competiria nas eleições com um candidato de esquerda “radical”,e outro mais “moderado”,mas sempre assegurando a sua vitória,ao final.

E assim foi feito. FHC ,começou a “política das tesouras”, pelo PSDB, governando de 1995 até 2003,prosseguindo com Lula, do PT,de 2003 a 2010,e Dilma/Temer (PT e MDB),de 2010 a 2018.

O Supremo Tribunal Federal, em habeas corpus deferido monocraticamente pelo Ministro Edson Fachin,dia 08.03.21,depois homologado pelo Plenário do STF, soltou Lula e anulou todas as suas condenações ,proferidas nas três instâncias do Poder Judiciário,de modo a permitir-lhe concorrer novamente à Presidência da República em outubro de 2022. Tudo feito às pressas, e praticamente na “última hora”,sem que houvesse o tempo necessário para qualquer reversão dessa “manobra ” jurisdicional.
[O presidente Bolsonaro deveria , ou mesmo a AGU,  de oficio, ou a PGR recorrer da descondenação e encetar uma batalha jurídica que se arrastaria   por vários anos. VACILOU, deixou a cobra erguer o pescoço, obrigando  a que milhões de brasileiros estejam tentando impedir que a cobra suba a rampa.]

Ora, depois de tanto “lixo” político que foi eleito a partir de Jánio Quadros/João Goulart,Collor de Mello/Itamar Franco ,FHC (2 vezes),Lula (2 vezes),Dilma (1,5 mandatos),e Temer (meio mandato),teria alguma surpresa uma nova eleição de Lula em 2022,em substituição a Jair Bolsonaro ? É claro que não !!!

Chega a me passar calafrios pela espinha dorsal quando recordo das sábias palavras de Nelson Rodrigues: (1) “A maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade”; e (2)”Os idiotas vão tomar conta do mundo,não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”.

Significa dizer que se não forem tomadas em tempo as medidas drásticas e urgentes que sejam requeridas, talvez dentro do permissivo contido artigo 142 da Constituição, o desastre político novamente baterá às portas do país, com a vitória de Lula na eleição de outubro de 2022,e sua posse em 1ª de janeiro de 2023, e por consequência muitas gerações de brasileiros acabarão pagando essa conta em face da corrupção que certamente voltará a reinar sem freios. E infelizmente tudo se passaria nas “barbas” dos guardiões da Pátria,as Forças Armadas.

Como podem as Forças Armadas,na condição de “Guardiões da Pátria”,se submeterem à humilhação de que foram alvo pelo total desprezo ao Relatório dos seus técnicos que apontou “fragilidades”e possibilidade de “manipulação” na eleição eletrônica para Presidente da República em outubro de 2022 ?

Mas o “recado” do que acontecerá após a instalação da ditadura da esquerda (se acontecer) já foi dado, antes mesmo de terminar o mandato de Jair Bolsonaro. Por “manobra” do senador Renan Calheiros,que por sinal ocupa mais de metade das prateleiras do STF com processos criminais a que responde,porém todos “engavetados”, já conseguiram assinatura de 31 senadores para editar a PEC DA “DEMOCRACIA”, atribuindo competência exclusiva,originária’, ao STF para processar e julgar atos considerados atentatórios à democracia. [31 assinaturas dos senadores e nada,são praticamente a mesma coisa.]

Isso significa que enquanto a“elite” da politica brasileira possui foro “privilegiado”,mais para serem “absolvidos”,ou “descondenados”,como Lula da Silva,o “povão”propriamente dito passou a ter esse mesmo “foro”, porém na qualidade invertida de FORO (DES)PRIVILEGIADO, para ser processado e julgado,e certamente “condenado”, exclusivamente pelos “tiranos” togados do STF,abolindo-se todas as instâncias ordinárias “inferiores” do Poder Judiciárias,reforçando o poder da ditadura de esquerda prestes a se instalar,e a consequente “harmonia depravada” entre os Três Poderes. [VADE RETRO, Satanás.]

Sérgio Alves de Oliveira  - Advogado e Sociólogo


sábado, 27 de agosto de 2022

Quando as crianças podiam votar - Carlos Alberto Sardenberg

Talvez nem fosse permitido pela lei eleitoral, mas os mesários toleravam, de bom grado, que pais e avós levassem filhos e netos para votar. Isso mesmo, votar. Às crianças mais crescidinhas e mais espertas era dada a oportunidade de apertar as teclas da urna eletrônica, em nome da família.

Uma diversão, brincadeira, mas também uma verdadeira aula de educação moral e cívica – não daquele tipo de doutrinação imposta pelo regime militar nos anos 70. Crianças percebiam a importância do ato. Ingenuidade? Saudosismo das antigas? Pode ser, mas o ambiente eleitoral era realmente diferente, para melhor, antes de 2018. E muito mais saudável do que nos dias de hoje.

Há algum tempo, os juízes do Tribunal Superior Eleitoral sequer cogitariam de proibir celulares na cabine de votação. E, sim, mesários também toleravam que pais e avós fotografassem as crianças por ali. [atualizando: em 2014 já era proibido = sob o pretexto de evitar que eleitores, especialmente os que moravam em favelas, fossem obrigados pelos traficantes a foro grafar seu voto, para comprovar que haviam votado nos indicados pelo tráfico.]

Já neste ano, a decisão do TSE de proibir os celulares foi correta e tomada a tempo. Pelas redes sociais, já dava para perceber que muita gente se preparava para montar vídeos fake e espalhar falsidades sobre a segurança das urnas. Também se discute, no TSE, sobre a porte de armas no dia e nos locais de votação. A discussão já é um péssimo sinal. 
Por que o eleitor desejaria entrar com uma pistola na sessão de votação? Ou porque pretende fazer coisa errada ou desconfia que alguém tentará ameaçá-lo. Péssimo de todo modo. [simples de responder: apesar das restrições ainda existentes no Brasil à posse/porte de armas, algumas pessoas possuem porte autorizado de armas por razões de segurança e que foram acatadas quando da emissão do porte;
Tais pessoas continuam correndo risco no percurso até o local de votação, não tendo sentido proibi-las de exercer um direito já concedido.]

Em resumo, está na cara que ninguém pode votar armado de qualquer coisa que não seja sua ideia.

E entretanto, estamos discutindo isso tudo.

Não há dúvida que o presidente Bolsonaro é o primeiro responsável por esse ambiente tóxico. É dele e de sua turma que partem as ameaças ao sistema eleitoral. [essa afirmação expressa uma obsessão: um grupo de bolsonaristas vai entrar em uma Seção Eleitoral e dar um golpe de Estado?derrubar o presidente Bolsonaro? Não podemos esquecer que o presidente Bolsonaro será, com as bênçãos de  DEUS, o presidente da República Federativa do Brasil, no mínimo, até o próximo 31 de dezembro.
Ou a obsessão leva a cogitar um golpe contra o presidente Bolsonaro?, visto que,  por óbvio,  um golpe de Estado ocorre contra a autoridade que exerce o cargo no dia do golpe.]  É nesse grupo que se cogita de golpe.

(...)

Na primeira eleição depois da queda da ditadura, em 1989, Collor espalhou um tipo de terrorismo. Dizia que a vitória de Lula – bem antes do modo “paz e amor” – seria um triunfo do esquerdismo e, pois, uma ameaça à liberdade e à propriedade privada.

Mas não se falava em golpe. E terminou que o próprio Collor, eleito, aplicou um dos maiores golpes à noção de propriedade privada, com o confisco da poupança. [devolveu até o último centavo retido.] Para provar, afinal, que direita e esquerda erram igualmente em matéria de economia. E que ações autoritárias, como tomar o dinheiro das pessoas, são um a tentação para direita e esquerda.

O plano econômico fracassou espetacularmente e Collor caiu acusado de corrupção. [acusado; não foi condenado, já que, foi INOCENTADO pela Justiça.] Não foram bons momentos para a história nacional, mas pelo menos pode-se dizer que a então novíssima democracia funcionou bem. O presidente foi afastado, o vice, Itamar Franco, assumiu, cumpriu o mandato regular e as eleições seguintes se deram livremente, na data certa. E pais e avós puderam votar com suas crianças.

(...)

Leia MATÉRIA COMPLETA - Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

Coluna publicada em O Globo - 27 agosto 2022


quinta-feira, 21 de julho de 2022

Desagravo à deputada Bia Kicis - Percival Puggina

 


“Até numa conversa com ele [Bolsonaro], brinquei, dizendo que tinha vontade de acreditar na fraude das urnas, porque, quando via nomes como Hélio Negão, Bia Kicis, ou coisas assim, pensava, poxa. Mas sei que eles foram eleitos, assim como tivemos, em outros momentos, como na vitória de Collor, a eleição de muita gente desconhecida”.(Ministro Gilmar Mendes em entrevista ao Correio Braziliense, publicada ontem, 20/07)

Falando ao Jornal da CBN, o ministro já havia, anteriormente, ironizado os dois parlamentares:

“Quem tinha ouvido falar aqui de Hélio Negão? Quem tinha ouvido falar de Bia Kicis? Nenhum de nós tinha ouvido falar deles. Não obstante, eles vieram nesse arrastão provocado pelo presidente Bolsonaro, o que prova que a urna é fiel ao voto que foi depositado”. (Ministro Gilmar Mendes, um ano atrás. Assista aqui.)

É por não respeitar a si mesmo e abraçar-se às próprias conveniências, ainda que isso afronte o mais legítimo interesse da sociedade, que o Congresso Nacional ouve calado frases como as proferidas pelo ministro Gilmar Mendes. 
Resulta em paradoxo alguns membros do Supremo se excederem no uso da liberdade de falar enquanto atropelam ou convalidam atropelos impostos por seus pares à liberdade de expressão dos cidadãos.

Haveria menos barulho de prato quebrado, muita louça institucional não se espatifaria em cacos pelo chão se todos os senhores ministros se mantivessem nos limites da função que exercem e se fossem menos falastrões. [vale lembrar que o ministro Fux, quando o deputado Daniel Silveira foi preso, com invasão do seu domicilio na madrugada, o ministro Fux ironizou, perguntando 'qual é o nome do deputado preso?']

Militantes de pautas identitárias ainda não reagiram à manifestação do ministro. Nem vão, porque essas pautas só têm validade para companheiros.  
Escrevo, pois, estas linhas em desagravo dos parlamentares e, em especial, da deputada Bia Kicis, e não por ser mulher, mas por ser excelente parlamentar.
Coisificá-la é coisa de quem tem outra coisa na cabeça.  Bia foi procuradora concursada do Distrito Federal. [ressalte-se que além de aprovada no concurso público para procuradora, obteve mais de 85.000 votos para deputada federal.]
 
Como cidadã, foi ativa no combate à corrupção, defensora das pautas conservadoras, líder na defesa do voto com impressora, auditável.
Como congressista, a contragosto de Gilmar Mendes e seus pares e ímpares no STF, precisou de pouco tempo para se tornar nacionalmente conhecida
Formamos amizade e, por isso, acompanho, à distância, seu trabalho como vice-líder do governo e presidente da CCJ, a mais importante comissão da Câmara dos Deputados.

Bia Kicis incomoda? Sim, incomoda, mas não foi eleita para acomodar. Parlamentares inócuos, placebos, já temos muito além da conta.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


quarta-feira, 8 de junho de 2022

Vocação para o engano - Guilherme Fiuza

Revista Oeste

Nenhuma embalagem é confiável. Confiáveis são os fatos

Da esquerda para a direita, os presidentes Fernando Collor de Mello, Lula, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro | Foto: Montagem Revista Oeste/Wikimedia Commons/Shutterstock
Da esquerda para a direita, os presidentes Fernando Collor de Mello, Lula, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro | Foto: Montagem Revista Oeste/Wikimedia Commons/Shutterstock

Collor, por exemplo. Era o caçador de marajás, representando uma espécie de “direita” moderna contra os vícios fisiológicos da velha política. No que assumiu já submeteu a população a um plano econômico com um nível de autoritarismo estatal que nem a “esquerda” arcaica tinha coragem de cogitar. Colocou uma espécie de czarina no comando das ações, transformando a tecnocracia atrapalhada de Zélia Cardoso de Mello numa lição histórica sobre o que acontece quando se confunde arrogância com perícia.

O confisco, ou embargo do acesso dos brasileiros às suas contas bancárias fora dos limites baixados pela czarina de Collor, foi um ato de fazer stalinista aplaudir de pé emocionado — contrariando diametralmente a embalagem do candidato “capitalista moderno”. O desastre de demagogia e prepotência desse governo aventureiro foi o maior combustível que o petismo e o lulismo receberam em toda a sua vida de farsa “contra os poderosos”.

A chegada de Itamar Franco ao Palácio do Planalto também foi a contradição de si mesma — no terreno das expectativas que a política cria. Por conta do naufrágio da aventura “direitista” moderninha (esses conceitos sempre ajudam as pistas falsas), Itamar virou uma espécie de esperança moralizadora nacional-progressista após o trauma do trem fantasma collorido — com PC Farias, Zélia, Pedro Collor, Rosane e grande elenco da modernidade arcaica feita de gel, petulância e gula.

Ninguém esperava mais nada sério vindo dali — e veio o Plano Real, a coisa mais séria feita no Brasil em décadas

Nesse astral de tirar a política dos porões da Casa da Dinda, Itamar entregou o comando da economia a um sujeito gente boa, simpatizante do Galo da Madrugada e da ecologia. De fato, simpatia é quase amor — o que não é pouco depois da carranca da Zélia. Mas daí a resolver o problema da hiperinflação vai uma certa distância. Para complicar um pouco mais, Collor tinha finalmente acertado com a nomeação de Marcílio Marques Moreira para a Economia — cuja gestão discreta e competente foi interrompida pelas boas intenções de Itamar. As aparências enganando de novo, dramaticamente, no sentido oposto.

Fernando Henrique foi nada menos que o quarto ministro da Fazenda de Itamar em pouco mais de seis meses. Ninguém esperava mais nada sério vindo dali — e veio o Plano Real, a coisa mais séria feita no Brasil em décadas. De novo a traição das expectativas: FHC era um intelectual perdido na política (segundo os estereótipos), um sujeito educado para explicar o fracasso com boas maneiras. O PT salivava e só esperava a hora de pegar a chave do Palácio. Esperou dez anos.

Hoje FHC representa a desonestidade intelectual na política, fazendo vista grossa para os crimes de Lula e envenenando a ação meritória de Paulo Guedes para surfar na caricatura antibolsonarista. Mas boa parte dos fundamentos que permitem avanços na política fiscal de Bolsonaro e Guedes foi plantada por FHC, numa gestão que não pode ser classificada como menos do que magistral — regendo uma equipe de excelência e inaugurando a transparência e a previsibilidade na condução macroeconômica.

As aparências enganaram com Collor (até no momento em que ele acertou), com Itamar, com FHC (antes e depois), com Bolsonaro (um nacionalista estatizante que deu sua guinada liberal) e também com Temer, que de vice da Dilma conduziu um período de saneamento da lambança petista. Assim como FHC, Temer fez o favor de também contrariar depois as boas expectativas, aderindo a conversas fiadas sobre “semipresidencialismo” e outros zumbidos golpistas.

Até Lula chegou a driblar as projeções (para o bem) ao assumir a Presidência, jogando fora todo seu discurso populista e adotando uma política macroeconômica responsável, em prosseguimento às reformas do Plano Real. Infelizmente isso durou pouco e ele preferiu voltar ao normal, fazendo a festa dos picaretas do bando. Ainda assim, contrariou as expectativas “socialistas” e preferiu o bom e velho capitalismo como local do crime.

Como se vê, nenhuma embalagem é confiável. Nem mesmo credenciais são plenamente confiáveis, tampouco seus portadores. Confiáveis são os fatos — se você não se importar de olhar para eles.

Leia também “Jantando a democracia”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 16 de março de 2022

"Jabuti não sobe em árvore" - Alexandre Garcia

"Jabuti não sobe em árvore", diz a sabedoria popular. Sexta-feira passada, no Senado, o presidente Rodrigo Pacheco  instalou uma comissão, presidida pelo ministro do Supremo Ricardo Lewandowski, tendo como relatora a ex-secretária-geral do Supremo na presidência de Lewandowski e mais nove integrantes, para, em 180 dias, oferecer ao Senado um anteprojeto de lei de impeachment, para substituir a Lei 1.079, de 1950. 

O normal é que isso comece na Câmara, porque o Senado é a casa revisora; o estranho é que, teoricamente, Lewandowski pode ser julgado no Senado, que é a Casa julgadora de ministros do Supremo;  
Estranho é que quem faz lei são os congressistas, e não integrantes de uma comissão composta de pessoas sem mandato popular para isso. 
Estranho é que vá presidir a comissão um ministro do Supremo que também é juiz do Tribunal Eleitoral, em ano de eleição
E logo Lewandowski, que entrou para a História por ter presidido julgamento no mesmo Senado, em que se rasgou o parágrafo único do art. 52 da Constituição, deixando elegível a presidente condenada. Tantas estranhezas levaram o senador Lasier Martins a expressar suas desconfianças na tribuna. O jabuti "ou foi enchente, ou mão de gente".
 
Um dia antes da instalação da comissão, Bolsonaro havia anunciado que a ministra da Agricultura e deputada, Tereza Cristina, seria sua candidata ao Senado por Mato Grosso do Sul, e o ministro do Turismo, Gilson Machado, por Pernambuco. Isso revela a estratégia de, nessas 27 vagas, reforçar uma bancada de voz ativa e poderosa no SenadoCasa julgadora de presidente e de ministro do Supremo. 
Talvez como força dissuasiva contra tantas incursões do Supremo sobre o Poder Executivo. 
São quase duas dezenas de pedidos de impeachment paradas no Senado, à espera de que Rodrigo Pacheco os ponha em exame — o maior número tem Alexandre de Moraes como alvo. A comissão instalada por Pacheco terá seis meses para deliberar, o que já dá ao presidente do Senado uma desculpa para esperar sentado sobre os pedidos até setembro, véspera das eleições.
 
O senador Lasier Martins disse ontem, na tribuna, que o real autor da iniciativa é o ministro Lewandowski e que ele pode legislar em causa própria dos ministros do Supremo. Na instalação, o ministro havia dito que é preciso punir quem apresentar pedido de impeachment não aceito e que é preciso deixar claro o que é crime de responsabilidade e que é preciso dar direito à ampla defesa e ao contraditório. 
Punir o denunciante se a denúncia não for aceita? 
Vai atingir os promotores também? [será que no anteprojeto de lei a ser elaborado, que segundo o senador Lasier Martins é de iniciativa do Lewandowski, vai deixar espaço para uma 'interpretação criativa' que só permita a punição do denunciante, não sendo a denúncia aceita, se a mesma for contra ministro do Supremo?]
 
Eu cobri o julgamento de Dilma, e ela teve todo o direito de defesa e do contraditório.  
Quanto a esclarecer o que seja crime de responsabilidade, basta ser alfabetizado e saber ler a lei 1.079, que trata do assunto há 72 anos. 
Está abundantemente esclarecido. O jurista Modesto Carvalhos, à revista Oeste, disse que "é uma lei primorosa, que nada tem a ser modificado".
 
A lei afirma que é crime do presidente agir contra o livre exercício do Legislativo ou do Judiciário e contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais. Imagino que isso valha reciprocamente para os três Poderes, como sonhou Montesquieu. 
Se alguém quer mexer na lei neste ano eleitoral, sem que isso se configure uma necessidade ou urgência, já que serviu para Collor e Dilma; se começou com um ato de subserviência do presidente do Senado, como sugere o senador Lasier; 
se há tanta esquisitice em torno desse jabuti que apareceu ex machina, o patrão desses servidores do público, que é o cidadão, o pagador de impostos, o eleitor, precisa saber o que estão preparando assim de forma tão estranha quanto um jabuti no galho.
 
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense
 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Estado de coma - Brasil tem tudo, menos o essencial: qualquer melhora no bem-estar da sua população - J. R. Guzzo

O Estado de S. Paulo

O universo político e os seus subúrbios discutem com paixão, no momento, os futuros ministros do ex-presidente Lula, a volta da propaganda política obrigatória no rádio e televisão ou a guerra pessoal do presidente da República contra a vacina da covid. Discutem mais uma tonelada de questões parecidíssimas; são levados extremamente a sério por si mesmos e pelos comunicadores sociais. Não há o menor risco, é claro, de mudarem de ideia ou de mudarem de assunto. O resultado prático disso tudo é uma desgraça. Fica garantido, enquanto as coisas continuarem assim, que o Brasil não vai resolver nenhum dos problemas que tem.

O paciente está com câncer; estão recomendando Melhoral ou, pior ainda, um tratamento com o curandeiro João de Deus. É uma calamidade que não poderia estar mais clara: desde 1980 a renda per capita do brasileiro não sai do lugar em que está. O Brasil, nesse período, chegou a um PIB entre US$ 1,5 trilhão e US$ 2 trilhões
Acaba de bater mais um recorde de exportações, com US$ 280 bilhões em 2021.  
Tem mais de 230 milhões de celulares, e outro tanto de computadores. Tem trinta e tantos anos de “Constituição Cidadã”, de “estado de direito” e de instituições protegidas à força de inquérito policial, cadeia e censura. Tem Poder Moderador. Tem Uber. Tem tudo, menos o essencial: uma melhora, qualquer melhora, no bem-estar da sua população. Está parado, aí, há 40 anos. 
 
Ninguém liga, é claro, porque quem tem voz neste País é a minoria que anda de SUV, ganha acima de R$ 15 mil ou R$ 20 mil por mês e faz “home office”. Mas a renda da população está há 40 anos em estado de coma – e isso é o atestado mais arrasador de fracasso que uma sociedade poderia ter. 
Para que serve um governo, no fim das contas, se não for para tornar mais cômoda a vida das pessoas? 
O poder público no Brasil, definitivamente, não faz isso – governa, com obsessão, para ficar com a maior parte da riqueza nacional e para cuidar unicamente de seus próprios interesses. O resultado é que o País vai ficando cada vez mais longe das sociedades desenvolvidas – e mesmo das nações pobres que vêm vencendo a sua pobreza.

Estar parado há 40 anos é a prova mais espetacular de que tudo o que o poder público fez, durante esse tempo todo, deu errado. Não se mexe no essencial – a concentração de renda cada vez mais alucinante por parte do Estado. Tanto faz, daí, a “política econômica”. Já tivemos Figueiredo-Delfim, Sarney-Mailson, Collor-Zélia, FHC-Malan, Lula-Palocci, Dilma-Mantega, Temer-Meirelles e Bolsonaro-Guedes. Para a renda do brasileiro, deu tudo na mesma.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Ex-presidente petista, ex-condenado, ex-presidiário, inventou o impostour - Revista Oeste

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem pela Europa | Foto: Divulgação
Ex-presidente [ex-condenado, ex-presidiário]  Luiz Inácio Lula da Silva em viagem pela Europa -  Foto: Divulgação [Não pode ser esquecido: o europeu não vota nas eleições do Brasil e tem uma tara para comparecer a eventos com personagens exóticos, desorientados, desonestos e com experiência em puxar cadeia.]
 
Caso fosse submetido ao Teste da Paulista, como se sairia o homem que o PT promoveu a maior líder popular surgido no País do Carnaval desde a chegada das primeiras caravelas? 
Lula não conversa com jornalistas independentes desde novembro de 2005, quando protagonizou um fiasco de bom tamanho no programa Roda Viva, em que foi interpelado por alguns entrevistadores sobre a história muito mal contada do escandaloso Mensalão. 
 
Ele passou a discursar apenas para plateias amestradas em julho de 2007, depois que a lendária vaia do Maracanã o impediu de fazer o discurso de abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio. (Deveria ter dito, como Nelson Rodrigues, que o Maracanã vaia até minuto de silêncio. Aturdido, preferiu imaginar que tudo fora orquestrado pelo prefeito César Maia.) E deixou de dar as caras na rua sem esquema de segurança desde a devassa, consumada pela Operação Lava Jato, do colosso de bandalheiras que o transformou no primeiro presidente da República condenado em duas instâncias pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Descrito pela imprensa velha, o giro pela Europa do candidato a uma terceira temporada no Planalto informa que o país que esquece a cada 15 anos o que ocorreu nos 15 anos anteriores já esqueceu tudo isso. Não há motivos, portanto, para a vida de ermitão que o mantém enfurnado no apartamento em São Bernardo, ou escondido no Instituto Lula, ou cochichando com devotos em hotéis de Brasília. 

Quem leu as primeiras páginas de jornais agonizantes pode acreditar que a viagem internacional do ex-presidente foi um sucesso. 
Recepcionado como estadista por governantes de fina linhagem, todos democraticamente eleitos, Lula teria escancarado o isolamento do atual chefe de governo, obrigado a conformar-se com audiências concedidas por déspotas de filme de horror na visita aos Emirados Árabes. 
Haja cinismo, constata quem examina a agenda de Lula e sua comitiva, formada pela companheira Janja, pelo senador Humberto Costa (codinome Drácula na lista da Odebrecht), pelo ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (codinome Grisalho), pelo ex-ministro Aloizio Mercadante (codinome Aracaju) e pelo ex-chanceler Celso Amorim, um dos parteiros da política externa da canalhice. 
Ao lado do quinteto, e com a indispensável contribuição do jornalismo de cócoras, o farsante patológico acabou de inventar o impostour.

A excursão que começou na Alemanha registrou na Bélgica a mais vistosa tapeação. LULA APLAUDIDO DE PÉ NO PARLAMENTO EUROPEU, mentiram em coro as primeiras páginas. Se assassinato da verdade desse cadeia, os editores estariam dividindo uma cela por noticiário fraudulento. Na escala em Bruxelas, o viajante desempregado foi aplaudido, sim. E de pé, é verdade. Mas não pelo Parlamento Europeu, e sim por integrantes de uma certa Conferência de Alto Nível da América Latina, que promoveu na sede do Parlamento Europeu um encontro denominado “Juntos durante a crise para uma nova agenda progressista”. Mais de 95% da agenda foi consumida em jogar conversa fora com personagens da série B. “Dia intenso de muito diálogo”, tuitou em Paris. “Me despedi da França com um reencontro com meu querido companheiro Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa.” Os únicos chefes de governo em exercício que o receberam foram o francês Emmanuel Macron, sempre disposto a confraternizar com qualquer transeunte que grite “Fora, Bolsonaro” ao passar diante do Champs Élyséese o companheiro socialista Pedro Sánchez, presidente da Espanha.

Esses encontros invariavelmente precederam discurseiras delirantes. Numa delas, Lula explicou que reivindica um terceiro inquilinato no Palácio da Alvorada para acabar com a fome que até agora jurava ter erradicado em 2007, no segundo mandato, quando enxergou na descoberta do pré-sal a iminente nomeação do Brasil para a presidência de honra da OPEP. Noutro palavrório, garantiu que sempre manteve uma relação de “profundo respeito” com o ex-governador tucano Geraldo Alckmin, que qualificou de “corrupto” na campanha eleitoral de 2006. O ofendido revidou com a instalação de Lula no comando supremo da quadrilha do Mensalão. Felizes com o sucesso imaginário do giro, seguidores da seita que tem num larápio condenado seu único deus resolveram berrar que, enquanto isso, Bolsonaro só visitava ditadores. Má ideia, mostrou o troco imediato: adversários do inventor do impostour evocaram algumas das incontáveis demonstrações de admiração, simpatia, amizade incondicional ou amor profundo que homenagearam genocidas de verdade.

 Da esquerda para a direita, começando por cima: Lula ao lado de Yasser Arafat, Muammar Kadafi, Bashar al-Assad‎, Teodoro Obiang, Nicolás Maduro, Mahmoud Ahmadinejad, Hugo Chávez, Cristina Kirchner e Evo Morales -  Foto: Reprodução

Depois de uma visita ao Gabão, por exemplo, o palanque ambulante informou que circulara pelo país africano para aprender como se faz para desfrutar do poder por 37 anos consecutivos — e ainda por cima candidatar-se a outra reeleição. Numa reunião de governantes africanos, Lula caprichou na melosa saudação ao tirano líbio Muammar Kadafi: “Meu amigo, meu irmão, meu líder”. Naqueles tempos, o Datafolha e o Ibope atribuíam ao presidente índices de aprovação que ameaçavam chegar a 100% (ou 103%, se a margem de erro oscilasse para cima). Excitado com as façanhas sucessivas, Lula considerou-se capaz de pacificar o Oriente Médio e reaproximar dos Estados Unidos o Irã dos aiatolás atômicos. De lá para cá, as coisas mudaram. Confrontado com a ladroagem do Petrolão, por exemplo, Barack Obama rebaixou O Cara a delinquente comum. E mesmo os institutos de pesquisa andam evitando incursões pela estratosfera.

Pensando bem, Lula prova que não perdeu de todo o juízo ao rejeitar o Teste da Paulista. É improvável que consiga caminhar 5 metros sem começar a ouvir a reprise miniaturizada da vaia do Maracanã.

Leia também “Lula e a mulher-aranha

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Bolsonaro coloca a bola no campo do STF - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino

A nota divulgada pelo presidente Bolsonaro nesta quinta gerou enorme celeuma no país. Do lado dos patriotas que foram às ruas no dia 7 para um lindo espetáculo cívico pedindo liberdade, e que estão indignados com os arbítrios supremos, houve um misto de decepção e revolta inicial. Do lado dos autoritários de esquerda, a reação inicial foi atacar Bolsonaro, chamado de frouxo, tigre de papel, rato.

Minha própria reação foi exacerbada: enxerguei fraqueza no tom excessivamente conciliatório, sugerido por Temer, e cheguei a constatar que era o fim na luta contra o arbítrio do sistema. Nos grupos de bastidores da direita, o sentimento era de frustração e revolta, além de certo desespero: "eles venceram". Mas nada como um dia após o outro...

Refletindo com mais calma sob vários ângulos, fica mais claro que jornalistas experientes como Augusto Nunes têm um ponto: Bolsonaro pode ter feito uma jogada inteligente. E cá entre nós: a esquerda já saiu da euforia acerca da "covardia" do presidente para a preocupação e até revolta com o "papelão" de Temer na possível pacificação da República. E quando a esquerda não gosta muito de algo, eu já passo a gostar mais!

Falam num acordo costurado por Temer, Ciro Nogueira e Artur Lira, que traga mais harmonia aos poderes. O inquérito ilegal das Fake News, por exemplo, seria transferido para a PGR, seu caminho legal. Entre outros pontos de recuos mútuos. Não vamos esquecer que o principal fator de revolta do lado patriótico é o ativismo de Moraes, que foi indicado ao STF pelo Temer.

Se fui precipitado e injusto em minha reação inicial - e torço muito por isso - volto atrás e assumo o erro sem problema. Nunca tive compromisso com erro. Sigo desconfiado de acordo com esse sistema, mas não sou revolucionário, e sim um liberal com viés conservador. Se houver recuo do lado de lá também, então o Brasil ganha. E meu compromisso é e sempre foi com o povo brasileiro.

A situação colocada pela greve dos caminhoneiros agravou bastante o quadro. Cheguei a criticar os métodos na véspera, alegando que poderia prejudicar o povo, os mais pobres. Tem uma turma do "vai ou racha", do "tudo ou nada", que quer ver o circo pegar fogo pois acha que o seu lado leva a melhor na guerra: esquerdistas que apostam na queda de Bolsonaro e bolsonaristas que apostam numa ruptura revolucionária de direita. Esse nunca foi meu perfil, e tentei em diversos momentos alertar para o perigo de levarem o país nessa direção. Ninguém quer uma convulsão social, uma guerra civil.

O que Bolsonaro fez foi acenar para a pacificação, e resta saber o custo dela. Paz na escravidão não serve, e se o arbítrio continuar, haverá caos certamente. Mas há uma possibilidade de mudança de postura. Afinal, Bolsonaro colocou a bola no campo do STF, demonstrou capacidade de ceder, rechaçando a narrativa midiática de que é um golpista. Ele nunca quis fechar o STF, e sim fazê-lo retornar ao seu campo, dentro das quatro linhas da Constituição.

Ninguém sabe ao certo se isso vai mesmo acontecer. Mas se os ministros mais ativistas insistirem em suas ações e falas, ficará mais escancarado ao mundo todo quem de fato acena para o golpismo. Espera-se que o tal acordo tenha sido feito de uma posição de força do presidente, com base na multidão que ele arrastou para as ruas no feriado da Independência. Os veículos de comunicação que agem como partido de oposição ficaram perdidos e sem discurso. Queriam o Bolsonaro "golpista", da ruptura.

Se houver um recuo de ambos os lados, o Brasil ganha. O sistema é forte demais, poderoso, ainda que podre. Antes da nota do presidente, gravei o podcast da Gazeta e comentei exatamente isso: ninguém pode menosprezar a resiliência dos "monstros do pântano", que estão aí desde sempre, passando por confisco do Collor, FHC, PT. São sobreviventes num ambiente hostil, controlam o jogo, são os tais donos do poder. Não se peita o sistema impunemente, e o Brasil não vai virar a Suíça num mandato de direita.

É absolutamente compreensível a angústia dos patriotas, a decepção com os recuos do presidente. Muitos foram nas ruas acreditando numa bala de prata, numa intervenção divina - ou ao menos militar. Mas uma ruptura tem enorme custo e é bem arriscada, pode lançar o país no caos e o resultado final é incerto. Poucas revoluções acabaram bem na história. 
Por isso o conservador é mais prudente, cauteloso, paciente. 
As mudanças podem vir de dentro do sistema, sem sua implosão? 
Ou seu estágio de putrefação já é avançado demais para isso?

Eis a dúvida. Mas quero crer na possibilidade de reformas graduais, sem mergulhar o país numa guerra civil. Se há ainda essa chance, então Bolsonaro pode ter acertado. Cabe agora ao STF devolver a bola com suavidade, ciente do risco de dar uma bicuda nela.

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Melhor deixar pra lá - Alon Feuerwerker

Análise Política
 
Ficará para a história que a revogação da Lei de Segurança Nacional foi sancionada por Jair Bolsonaro, o presidente admirador dos governos comandados por generais (1964-1985), e cujos seguidores até outro dia saíam às ruas pedindo a volta do Ato Institucional número 5. Desde a redemocratização, passaram pelo Planalto Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma e Temer. Mas quem revogou a LSN foi Bolsonaro. Assim é a vida. Nenhum dos antecessores teve a vontade, a coragem ou as condições políticas para fazer. Bolsonaro fez.
 
É provável ter influído na decisão do presidente os correligionários e admiradores dele andarem acossados pela Justiça com base no texto agora revogado. Vale aqui Ortega y Gasset: cada um é ele mesmo e suas circunstâncias. Mas o que fica é o que se faz. 
Quanto as circunstâncias influíram? Os historiadores debaterão até o fim dos tempos.
 
Cada um ser ele mesmo e suas circunstâncias ajuda a explicar também por que boa parte das vítimas da censura no período militar carreguem agora a bandeira do “combate às fake news”. Ou seja, criminalizar a mentira. Outro acerto de Bolsonaro: vetar na legislação que substitui a LSN dispositivos que poderiam abrir (mais) espaço para a censura.
Segundo o “dicionário nacional do oportunismo político” (atenção: isso foi uma ironia), “fake news” é a mentira que nosso adversário político conta, enquanto “liberdade de expressão” é o nosso direito inalienável de mentir, neste caso para a sociedade evitar o risco de ser tragada por ditaduras brutais.
 
Entre o propósito alardeado de viver num país fundado em concepções liberais e a intenção de proteger a sociedade da desinformação mora um problema insolúvel: criar uma regra justa sobre quem vai deter o poder de estabelecer o que é verdade e o que é mentira. Um exemplo singelo: se a Teoria da Evolução for definida como a verdade oficial, a que tipo de punição estarão sujeitos religiosos e religiões que defendem o universo ter sido criado por Deus em seis dias (consta que Ele descansou no sétimo)? [NENHUMA PUNIÇÃO - a teoria da evolução teve um ponto inicial e quem criou tal ponto?]
Contra esse exemplo, poder-se-á argumentar que a legislação afinal vetada pretendia punir não exatamente quem mentisse na eleição, mas quem divulgasse maciçamente informação sabidamente falsa.
 
Aí piora. Segundo a Constituição brasileira, que ainda está formalmente em vigor, só é considerado culpado quem tem sentença transitada em julgado. Detalhe facilmente verificável em cada caso, bastando consultar os anais da Justiça. Inclusive pela Internet.
Ora, mas se é assim, chamar o candidato Fulano de “corrupto” sem ele ter condenação por corrupção transitada em julgado é fake news com registro em cartório e firma reconhecida. O mesmo se dará quando alguém, inadvertidamente, acusar o candidato Beltrano de “genocida” sem ele ter sido condenado definitivamente por genocídio.
 
Exemplos abundam
Deveríamos ter punido quem garantiu que a revogação da CPMF baratearia os produtos e serviços? 
Ou punir quem assegura que a cada “reforma trabalhista” milhões de empregos serão criados por causa da redução do custo de contratar?
Melhor deixar pra lá.
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
 

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Bolsonaro enfrenta a maldição do terceiro ano - Alon Feuerwerker

Análise Política
E Jair Bolsonaro acaba de topar com o primeiro obstáculo realmente relevante no caminho para concluir seu mandato e tentar um novo: a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado sobre a Covid-19. Ou melhor, a CPI sobre as ações federais na Covid-19. Tem sido rotina nos terceiros anos dos quadriênios presidenciais. É quando invariavelmente aparece alguma barreira que vai demandar esforço e concentração redobrados, se o mandatário não quiser ficar pelo caminho.
[Bolsonaro já está preocupado com a maldição do sétimo ano = terceiro ano do seu segundo mandato.

Em 1992, Fernando Collor topou com as acusações do irmão. Elas desencadearam a CPI que acabou levando ao impeachment. Fernando Henrique Cardoso teve esse tipo de problema nos dois terceiros anos de seus dois mandatos. Acusação de compra de votos para a reeleição em 1997 e ameaça de uma CPI da Corrupção em 2001. 
Luiz Inácio Lula da Silva recebeu pela proa os torpedos de Roberto Jefferson em 2005. E Dilma viu em 2013 a emergência das “jornadas de junho”.

Que deram a largada para a deposição dela em 2016. Nem a reeleição em 2014 interrompeu o processo. Deve ter algo de coincidência, mas é prudente não desprezar a possibilidade de o ano imediatamente anterior às eleições presidenciais despertar os instintos mais primitivos dos políticos. No caso atual, Bolsonaro cuidou bastante bem de estreitar a porteira para acusações de corrupção, habitualmente usadas nessas ocasiões. Mas não teve o mesmo cuidado para reduzir a margem de manobra dos adversários no assunto da pandemia.

Na Covid-19, o presidente foi dobrando a aposta a cada rodada. Poderia ter ficado contra o isolamento social, mas a favor do afastamento. Ou contra o afastamento e compensar isso apresentando-se como radical defensor das vacinas. Mas preferiu a crítica a tudo, com exceção do tratamento medicamentoso já aos primeiros sintomas. Que está sob fogo cerrado da maioria da comunidade médica. Ainda que uma parte relevante apoie a linha de Bolsonaro. Recentemente, reposicionou-se no assunto vacinal, mas continua carregando com ele um evidente déficit de imagem no tema.

A aposta de Bolsonaro parece ter se baseado na premissa de que teríamos uma onda da epidemia aqui no Brasil, e quando ela entrasse na descendente a preocupação das pessoas com a própria situação econômica prevaleceria, e aí o presidente colheria os frutos de ter desde o começo advertido sobre o risco de ruína material dos indivíduos, das famílias e das empresas. Por causa do que sempre atacou como radicalismo no isolamento social.

Essa linha de ação e comunicação pagou-se em algum grau, tanto que Bolsonaro mantém um núcleo resistente de apoiadores em torno de 30%. Mas, na medida em que a primeira onda não foi a única, e quando a segunda apresenta picos de mortalidade várias vezes a da anterior, o medo e a angústia com a doença continuam dominantes. E agravaram-se. E o presidente está evidentemente ilhado no núcleo fiel. Este é forte, mas minoritário.

É a situação clássica propícia para a ofensiva adversária. Uns escaparam (FHC, Lula), outros naufragaram (Collor, Dilma). O tucano safou-se na primeira vez porque o povão achava que a economia ia bem, e na segunda porque tinha base parlamentar, e ninguém queria a sério interromper seu mandato. O petista sobreviveu porque era popular e porque os inimigos ficaram com receio de uma guerra aberta de rua contra ele. Veremos nas próximas semanas e meses que variáveis dessas vão prevalecer agora para Jair Bolsonaro.

 Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Agora, e só agora, o centrão virou problema? Percival Puggina

O Centrão, justificadamente, tem péssima imagem no país. Salvo um ou outro episódio que custo a lembrar, sua principal utilidade ocorreu durante o processo constituinte. E mais especificamente, no ano de 1988, quando um grupo numeroso de parlamentares liderados pelo PMDB se uniu para tentar abrandar um pouco as insanidades que o bloco de esquerda pretendia ver constitucionalizadas. [apesar de alguma razão assistir ao ilustre articulista quanto a função de contenção aos malefícios que os insanos esquerdistas pretendiam constitucionalizar, o conjunto a obra - a cidadã - não recomenda a nenhum dos que a elaboraram.] Esse movimento deu causa ao racha do PMDB, que havia elegido mais da metade do plenário da Constituinte.

Como escrevi várias vezes referindo esse período, se fosse politicamente mais homogêneo, o partido de Ulysses Guimarães poderia ter redigido a Carta de 1988 numa sala de seu Diretório Nacional. Entre os senadores, apenas 14 não eram do PMDB. Na Câmara, 53% dos deputados eram a ele filiados. O partido, no entanto, rachou pelo lado esquerdo. Em fins de 1987, nove senadores e 39 deputados federais criaram o PSDB. Esse grupo já vinha trabalhando com o bloco de esquerda, sob liderança de Fernando Henrique e Lula.

E o Centrão? Mesmo na Constituinte, se de um lado diminuiu o estrago, como mencionei acima, de outro ajudou Sarney a derrubar o parlamentarismo que seria aprovado e o presenteou com um mandato especial de cinco anos, quando o previsto era quatro anos. Esse foi o tempo certo para o Centrão sentir o gosto do governo, dos cargos, dos bônus e nunca mais sair. Ficou com Sarney, seguiu duas vezes com Fernando Henrique, outras duas com Lula, outras duas com Dilma, depois com Temer e, agora, com Bolsonaro.

O mais curioso é que o Centrão, malgrado estar no poder há 32 anos, também sabe ser oposição. Mostrou isso nos primeiros 18 meses de Bolsonaro, paralisando, arquivando, derrubando, desfigurando todas as tentativas do presidente de dirigir o carro do Executivo com geometria e balanceamento adequados às expectativas vitoriosas na eleição de 2018. A gente viu no que deu.

O Centrão está ciente e a história faz prova: quem não tem maioria no Congresso ou não termina o governo (Getúlio, Jânio, Jango, Collor e Dilma) ou não consegue governar, caso de Temer, que ficou cumprindo o carnê. Na situação em que Bolsonaro estava em meados do ano passado, seu rumo estava ditado pela história. Ou o Centrão, ou mais quatro anos estéreis para o país, ou porta da rua serventia da casa, via Congresso ou TSE.

Agora, partidos que, governando com o Centrão promoveram toda a lambança possível, e órgãos de imprensa que faturavam bilhões com a publicidade oficial fingem prestar atenção para essa longa história. Agora lhes caem as escamas dos olhos para a vida que passou diante deles durante mais de três décadas – vistosa, ruidosa e dadivosa como uma escola de samba na avenida! Me poupem dessa hipocrisia.

Pode parecer estranho, mas será o modo como Bolsonaro vai operar a relação com o Centrão que vai influenciar mais diretamente o resultado eleitoral de 2022. Se ele não andar por onde outros atolaram e se extrair do Centrão aquilo que se espera de uma base do governo, terá prestado um bom serviço à nação.

Publicado originalmente em Conservadores e Liberais, o site de Puggina.org.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.