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sábado, 20 de abril de 2019

“A imprensa é essencial para a chama da democracia”. Quem disse isso?

O que fez o presidente do STF? Agiu como deve agir o presidente do mais alto tribunal do país? Não.


Pois foi ele mesmo, o capitão que até pouco tempo vivia a criticar a Imprensa, especialmente quando as notícias não lhe eram favoráveis. E como nestes 100 primeiros dias de governo notícia favorável ao governo Bolsonaro era uma raridade, ele estava sempre incomodado. Ou o capitão, ou seus garotos, estavam sempre a fazer comentários desabonadores contra a Imprensa que registrava as tolices, as parvoíces e os preconceitos que fazem parte da alma do presidente e seus descendentes.

Nesta semana que Domingo de Páscoa se encerra, a palavra censura voltou a assombrar nossa vida. Tudo porque o orgulho do presidente do STF se magoou com uma notícia que ele queria confirmar como fake, quando, ao contrário, era verdadeira e séria. A Revista Crusoé e o site O Antagonista, como é de seu hábito e faz parte de seu ideário, só publica o que verifica e confirma como exato. E o que publicou que tanto incomodou o ministro Dias Toffoli? Bem, a revelação que o “amigo do amigo de meu pai” se referia a Dias Toffoli (traduzindo: o ‘amigo de meu pai’ é o Lula e ‘o amigo do amigo de meu pai’ é o Dias Toffoli).

O que fez o presidente do STF? Agiu como deve agir o presidente do mais alto tribunal do país? Não. Longe disso. Encarregou um colega de abrir um inquérito para comprovar que ele não era ‘o amigo do amigo de meu pai’, que isso era, além de fake news, ofensivo e insultuoso.  Estranhei isso. Afinal, Lula era ( ou é) amigo de Emilio Odebrecht. Toffoli fora funcionário do PT durante algum tempo e foi indicado para ministro do STF – apesar do espanto de muita gente pelo homem que era seu amigo e amigo do amigo de Emilio Odebrecht. Portanto, por que o espanto?

Esqueceram de ler Michel de Montaigne, o notável ensaísta francês que deixou para a posteridade este grande conselho: “Proibir-nos de algo é nos levar a querer conhecê-lo”. Não queriam que soubéssemos quem era o amigo do amigo de meu pai? Ah!, então é isso que queremos saber, foi o que pensei. Quem foi o colega escolhido pelo presidente do STF? O ministro Alexandre de Moraes. Foi escolhido em plenário? Foi sorteado? Como o caso foi entregue a ele? Simples: por escolha pessoal do presidente Dias Toffoli. “É ele e pronto!”.

[apesar do recuo estratégico do ministro Moraes - que renunciou sumariamente ao cargo de censor e revogou o ato censório; 
e,  das dificuldades que o ministro presidente do STF, Dias Toffoli, terá para convencer os demais ministros da Corte Suprema de que a instituição SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL e seu presidente são uma só, se confundem
 - ofendeu um, ofendeu  outro - , 
nenhum dos dois terá direito ao jus sperniandi, quando o Plenário do STF estiver deliberando sobre o assunto.]

O colega Alexandre de Moraes achou por bem abrir um inquérito para confirmar a verdade sobre quem “é ou era o amigo do amigo de meu pai”. Resultado: ficou comprovado que o que os dois ministros do STF, Dias Toffoli e Alexandre de Moraes intitulavam de fake news, era, ao contrário, notícia verdadeira e séria. O capitão, que não é bobo. apesar de seu sorriso apertadinho dar a impressão que o é, ‘engavetou’ o sorrisinho e resolveu passar a ser o campeão da Imprensa, instituição sem a qual seu governo desmoronaria tal qual os prédios da Muzema. E deixou bem claro numa palestra ontem em homenagem ao Dia do Exército:“É aquela velha história: melhor uma imprensa capengando, que não ter imprensa. Então, logicamente, da minha parte quero sim conversar com a imprensa”.
E disse mais: “ Imprensa brasileira, tamo junto hein? Tenho certeza que esse namoro, esse braço estendido, estará sempre à disposição de vocês.”
Digam a verdade: não foi lindo?


Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa é professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005.