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sábado, 20 de abril de 2019

“A imprensa é essencial para a chama da democracia”. Quem disse isso?

O que fez o presidente do STF? Agiu como deve agir o presidente do mais alto tribunal do país? Não.


Pois foi ele mesmo, o capitão que até pouco tempo vivia a criticar a Imprensa, especialmente quando as notícias não lhe eram favoráveis. E como nestes 100 primeiros dias de governo notícia favorável ao governo Bolsonaro era uma raridade, ele estava sempre incomodado. Ou o capitão, ou seus garotos, estavam sempre a fazer comentários desabonadores contra a Imprensa que registrava as tolices, as parvoíces e os preconceitos que fazem parte da alma do presidente e seus descendentes.

Nesta semana que Domingo de Páscoa se encerra, a palavra censura voltou a assombrar nossa vida. Tudo porque o orgulho do presidente do STF se magoou com uma notícia que ele queria confirmar como fake, quando, ao contrário, era verdadeira e séria. A Revista Crusoé e o site O Antagonista, como é de seu hábito e faz parte de seu ideário, só publica o que verifica e confirma como exato. E o que publicou que tanto incomodou o ministro Dias Toffoli? Bem, a revelação que o “amigo do amigo de meu pai” se referia a Dias Toffoli (traduzindo: o ‘amigo de meu pai’ é o Lula e ‘o amigo do amigo de meu pai’ é o Dias Toffoli).

O que fez o presidente do STF? Agiu como deve agir o presidente do mais alto tribunal do país? Não. Longe disso. Encarregou um colega de abrir um inquérito para comprovar que ele não era ‘o amigo do amigo de meu pai’, que isso era, além de fake news, ofensivo e insultuoso.  Estranhei isso. Afinal, Lula era ( ou é) amigo de Emilio Odebrecht. Toffoli fora funcionário do PT durante algum tempo e foi indicado para ministro do STF – apesar do espanto de muita gente pelo homem que era seu amigo e amigo do amigo de Emilio Odebrecht. Portanto, por que o espanto?

Esqueceram de ler Michel de Montaigne, o notável ensaísta francês que deixou para a posteridade este grande conselho: “Proibir-nos de algo é nos levar a querer conhecê-lo”. Não queriam que soubéssemos quem era o amigo do amigo de meu pai? Ah!, então é isso que queremos saber, foi o que pensei. Quem foi o colega escolhido pelo presidente do STF? O ministro Alexandre de Moraes. Foi escolhido em plenário? Foi sorteado? Como o caso foi entregue a ele? Simples: por escolha pessoal do presidente Dias Toffoli. “É ele e pronto!”.

[apesar do recuo estratégico do ministro Moraes - que renunciou sumariamente ao cargo de censor e revogou o ato censório; 
e,  das dificuldades que o ministro presidente do STF, Dias Toffoli, terá para convencer os demais ministros da Corte Suprema de que a instituição SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL e seu presidente são uma só, se confundem
 - ofendeu um, ofendeu  outro - , 
nenhum dos dois terá direito ao jus sperniandi, quando o Plenário do STF estiver deliberando sobre o assunto.]

O colega Alexandre de Moraes achou por bem abrir um inquérito para confirmar a verdade sobre quem “é ou era o amigo do amigo de meu pai”. Resultado: ficou comprovado que o que os dois ministros do STF, Dias Toffoli e Alexandre de Moraes intitulavam de fake news, era, ao contrário, notícia verdadeira e séria. O capitão, que não é bobo. apesar de seu sorriso apertadinho dar a impressão que o é, ‘engavetou’ o sorrisinho e resolveu passar a ser o campeão da Imprensa, instituição sem a qual seu governo desmoronaria tal qual os prédios da Muzema. E deixou bem claro numa palestra ontem em homenagem ao Dia do Exército:“É aquela velha história: melhor uma imprensa capengando, que não ter imprensa. Então, logicamente, da minha parte quero sim conversar com a imprensa”.
E disse mais: “ Imprensa brasileira, tamo junto hein? Tenho certeza que esse namoro, esse braço estendido, estará sempre à disposição de vocês.”
Digam a verdade: não foi lindo?


Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa é professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005.

 

quinta-feira, 20 de abril de 2017

A arrogância do parceiro de Lula na seleção dos corruptos

Alguém precisa lembrar a Emílio Odebrecht o que ele de fato é: um quadrilheiro que escapou da cadeia pelo atalho da delação premiada

Quem assiste aos vídeos com os depoimentos de Emílio Odebrecht pode acreditar que quem está falando não é um marechal do imenso exército dos corruptos que consumou a maior roubalheira de todos os tempos, mas uma sumidade em assuntos brasileiros. Falante, risonho, ele não depõe: dá aulas sobre a alta ladroagem, interrompidas só de vez em quando por perguntas em tom respeitoso da autoridade judicial. O responsável pelos questionamentos nem aparece na tela, que o mestre divide com o advogado cuja expressão apalermada é acentuada pela franja Febem.

Num determinado momento, o chefão da usina de maracutaias, velhacarias, vigarices e bandalheiras ensina que a ladroagem bilionária nada tem de novidade. “As coisas são assim há trinta anos”, reescreve a história o pai e mentor de Marcelo Odebrecht. (Se fosse verdade, a Petrobras teria falido em 1986). Noutro vídeo, proclama-se vítima de um tipo de burocracia que só pode ser derrotado por montanhas de dólares. (Conversa de 171: o grande assalto foi concebido em 2003, no primeiro governo Lula, e sangrou os cofres públicos até 2014, quando a Operação Lava Jato começou a ofensiva contra os gatunos da classe executiva).

Numa terceira lição, Emílio garante que a imprensa não tem o direito de surpreender-se com a ultrapassagem de todos os limites da abjeção. “Os jornalistas sempre souberam do que acontecia”, acusa. (Talvez soubessem disso os que a Odebrecht arrendou, alugou ou comprou. Os decentes nem de longe imaginavam que, entre 2006 e 2014, a empreiteira gastou em propinas US$ 3,37 bilhões. (Dólares, não reais, frisa a coluna de Carlos Brickmann nesta quarta-feira. “Até 2008, a Odebrecht gastava em propinas, agrados, pixulecos, mimos, 0,5% de sua receita anual”, detalha Brickmann. “A partir daí, o volume aumentou muito. Em 2012, o custo do escândalo já era de 1,7% da receita – e a receita também tinha aumentado, graças ao fermento da propina”.

Alguém precisava lembrar ao bandido arrogante o que ele de fato é: um quadrilheiro de alta patente que escapou da cadeia por ter concordado em revelar minuciosamente as atividades criminosas em que se meteu. Foi o que começou a descobrir durante a conversa com o procurador Sérgio Bruno, parcialmente reproduzida no vídeo abaixo.  “Deixa de historinha”, cortou o homem da lei quando o desenvolto fora da lei tentava transformar uma audiência judicial em outra conversa de botequim. A repreensão foi oportuníssima. Mas Emílio Odebrecht anda implorando por castigos bem mais severos.

As revelações que tem feito ajudam a Justiça a cumprir o seu papel. Mas não transformam um culpado em inocente. O dono da empreiteira que apodreceu será sempre lembrado como um titular absoluto da seleção brasileira dos corruptos ─ esse timaço que encontrou em Lula, o “Amigo”, o inesquecível camisa 10.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes 

 

 

terça-feira, 18 de abril de 2017

Reação impôs a delação

Foi a pressão da sociedade, contou Emílio Odebrecht, que o levou a decidir fazer a “lavagem espontânea de tudo" na mega delação de 77 executivos

Aconteceu numa sexta-feira, duas semanas depois do carnaval de 2016, ele conta:
— Fevereiro, 26 de fevereiro conversei com nosso pessoal e decidimos. Foi a primeira vez ...
Um dos seus advogados interrompeu:
— 26 e 27 de fevereiro estive em Curitiba..

O promotor fica em dúvida sobre a data de início das tratativas com a Procuradoria. — Me dê um voto de confiança — apela o empresário, cuja fortuna pessoal fora estimada por revista americana em R$ 13 bilhões, o equivalente a metade do produto Interno Bruto de Sergipe. Acrescentou, enfático: — A decisão foi por convicção.
— E o que mudou — perguntam-lhe.
— A reação é que nos fez repensar. 

A “reação" veio da sociedade. É aquele tipo de lucidez coletiva, censura perceptível na mistura de ecos dos protestos nas ruas, com a frieza da vizinhança e o medo das famílias.
Na própria casa ele assistia à vida se transformar num suplício, com aflições da mulher, Regina, e da filha, Márcia. E na empresa, que voltara a comandar desde a prisão do filho, sem crédito e com os contratos suspensos. 

Foi decisivo, insistiu Emílio Alves Odebrecht, 72 anos: — Eu tenho certeza, jamais imaginaríamos que ia ter aqui 77 colaboradores, cada um fazendo (delação) nessa amplitude. Posso lhe afirmar, o que houve foi uma, vamos dizer assim, uma lavagem espontânea de tudo — disse no 15º depoimento daquela terça-feira, 13 de dezembro de 2016, gravado em vídeo numa sala da Procuradoria-Geral da República, em Brasília.

Seu herdeiro, Marcelo, já atravessara o aniversário de 48 anos, Natal, Ano Novo e carnaval na cadeia, onde chegara há seis meses. Varava os dias na cela em disciplina prussiana de exercícios para controlar a labilidade emocional, entre barras de cereais.
Em novembro de 2015, Odebrecht mobilizou sindicatos, centrais trabalhistas e patronais, que remunerava, numa ofensiva para mudar a legislação vigente sobre delação premiada. 

Foi ao Palácio do Planalto e entregou uma proposta de lei a Jaques Wagner, chefe da Casa Civil do governo Dilma Rousseff. — Ele entendeu que isso atendia também ao governo.
No 18 de dezembro, Dilma assinou a Medida Provisória 703, no formato desejado pela Odebrecht:  Alguns pontos que deveriam ser contemplados, foram, não tenho dúvida.

Não adiantou. O ronco das ruas e a fragilidade do governo fizeram a MP 703/2015 adormecer no Congresso pelos seis meses seguinte. Perdeu a validade em 29 de maio de 2016, quando Dilma já estava longe do poder.  Odebrecht não esperou. Jogou a toalha antes, em fevereiro: — Nós paramos — lembrou. — Com a reação, recolhemos o flap. 

Quiseram, então, saber se Jaques Wagner solicitara alguma ajuda, em contrapartida.
— Não. Até porque nós estávamos muito fragilizados. Eles ‘tavam', nós ‘távamo' muito mais.
Odebrecht começa a rir:
— Era o torto pedindo ao aleijado... — diz rindo, sem parar.

Seu advogado tenta contê-lo. Ele abre os braços, sem parar de rir: — Rapaz, eu tenho que ser Emílio. Se eu não for eu, transparente... Torto pedindo ao aleijado...
Odebrecht ri da própria desgraça, enquanto ouve o incentivo interessado de um representante do Ministério Público:
— Fique à vontade, não se reprima.

Fonte: José Casado - O Globo


 

segunda-feira, 17 de abril de 2017

A responsabilidade de Lula

Há um antes e um depois de Lula na corrupção nacional, capaz até de assustar Emílio Odebrecht

Há quem veja nas delações da Odebrecht e nas centenas de inquéritos delas decorrentes, tanto no Supremo Tribunal Federal (STF) como na primeira instância, a confirmação de que toda a política nacional está corrompida. A disseminação da corrupção seria de tal ordem que já não teria muita serventia a identificação dos culpados. Com leves variações de tons, todos os políticos seriam igualmente culpados. Ou, como desejam alguns, todos seriam igualmente inocentes.

Como corolário desse duvidoso modo de ver as coisas – como se a deformação da política tivesse pouca relação com a atuação desonesta de pessoas concretas –, há quem entenda que as descobertas mais recentes da Lava Jato desfazem a impressão, tão forte nas primeiras etapas da operação, de que Lula e sua tigrada tiveram uma participação especial na corrupção no País. Eles seriam tão somente um elo a mais na corrente histórica de malfeitos. A responsabilidade por tanta roubalheira caberia, assim querem fazer crer, ao sistema político.

Longe de relativizar a responsabilidade do PT na crise ética da política, as revelações sobre os ilícitos da Odebrecht, delatados por seus diretores e executivos, confirmam e reforçam o papel deletério de Lula na política nacional. Seu papel foi decisivo e central para o abastardamento da vida política brasileira. Foi ele o autor intelectual e material do vil assassinato do interesse público nos dias que vivemos.

A corrupção levada a cabo nos anos do PT no governo federal não é mera continuidade de um sistema corrupto. Há um antes e um depois de Lula na corrupção nacional, capaz até de assustar Emílio Odebrecht. “O pessoal dele (de Lula) estava com a goela muito aberta. Estavam passando de jacaré para crocodilo”, disse o presidente do conselho de administração da empreiteira, em relato por escrito à Procuradoria-Geral da República.

É evidente que já existia corrupção antes de Lula da Silva chegar à Presidência da República. A novidade trazida pelo ex-sindicalista foi a transformação de todos os assuntos estatais em negócio privado. Sem exagero na expressão, Lula da Silva pôs o Estado à venda. A Odebrecht e outras empresas envolvidas no escândalo apenas compraram – sem nenhuma boa-fé – o que havia sido colocado na praça.

Ao perceber que todos os assuntos relativos ao governo federal poderiam gerar-lhe benefícios, pessoais ou ao Partido dos Trabalhadores, Lula da Silva procedeu como de costume e desandou a negociar. Com alta popularidade e situação econômica confortável – o País desfrutava então das reformas implementadas no governo anterior e das circunstâncias favoráveis da economia internacional –, Lula não pôs freios aos mais escusos tipos de acordo que sua tigrada fazia em seu nome, em nome do governo e em nome do partido, como restou provado no mensalão e no petrolão.

Lula da Silva serviu-se do tradicional discurso de esquerda, de ampliação da intervenção do Estado na economia, para gerar novas oportunidades de negócio à turma petista. São exemplos desse modo de proceder as políticas de conteúdo nacional e da participação obrigatória da Petrobrás nos blocos de exploração do pré-sal. Aquilo que era apresentado como defesa do interesse nacional nada mais era, como ficaria evidente depois, que uma intencional e bem articulada ampliação do Estado como balcão de negócios privados.

Lula não inventou a corrupção, mas criou uma forma bastante insólita de fazer negócios escusos. Transformou a bandalheira em política de Estado. Com isso, corruptos, velhos e novos, tiveram ganhos nos anos petistas que pareciam não ter limites. Não foi por acaso nem por patriotismo, por exemplo, que o governo petista estimulou as empreiteiras a expandir sua atuação para novas áreas, como a exploração de petróleo. Assim, incluía-se mais uma oportunidade ao portfólio de negociatas da tigrada de Lula.

Todos os inquéritos abertos a partir das delações da Odebrecht merecem especial diligência. Seria equívoco não pequeno, no entanto, achar que o envolvimento de tanta e diversificada gente nas falcatruas de alguma forma diminui a responsabilidade de Lula da Silva pelo que aí está. A magnitude dos ilícitos descobertos pela Lava Jato, da Odebrecht e de tantas outras empresas e pessoas, só foi possível graças à determinação de Lula da Silva de pôr o Estado à venda. Não lhe neguemos esse mérito.

Fonte: Editorial - O Estado de S. Paulo

 

sábado, 15 de abril de 2017

Lula, você é a TRAIÇÃO - Lula desde os anos 70 já traía os trabalhadores

Emílio Odebrecht conta como Lula já defendia interesses da empreiteira desde os anos 70

Delator diz que empresa contribuiu para todas as campanhas do petista

Próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva há mais de trinta anos, o empresário Emílio Odebrecht relatou, em seu depoimento de delação premiada, como o ex-sindicalista que se tornou presidente da República ajudou, durante décadas, a empreiteira que leva seu sobrenome. 
Emílio conheceu Lula no fim da década de 1970, apresentado por Mário Covas, já falecido. Na época, o empresário enfrentava uma greve geral no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, e precisava de ajuda para aplacar os ânimos de seus funcionários. “Ele (Lula) criou as condições para que eu pudesse ter uma relação diferenciada com os sindicatos”, relata Emílio. [Lula era, foi e sempre será, um traidor nato. além das traições que fazia aos 'companheiros' filiados a sindicatos - durante a assembleia agitava para os operários optarem pela greve e após ia beber whisky com os patrões e combinar formas de neutralizar o movimento grevista.
Lula também foi informante do delegado Romeu Tuma, chefe do DOPS durante o Governo Militar.
Lula é o Silvério dos Reis dos tempos modernos. 
Seu codinome quando informante do DOPS era 'boi'] 

Rapidamente, a relação entre os dois se fortaleceu. Emílio diz que ficou impressionado com o petista: “Ele pega as coisas rápido. Ele percebe aquilo que tem a ver com intuição pura. É um animal político, um animal intuitivo”, diz o empresário.

E conta que sempre “apoiou Lula”, com conselhos e financeiramente. Um dos pontos em que o empreiteiro teria ajudado a orientar a visão de mundo do petista foi na confecção da famosa “Carta ao Povo Brasileiro”, o documento divulgado durante a campanha de 2002 por Lula para serenar os ânimos do mercado financeiro em relação a sua possível eleição.

Emílio diz que a Odebrecht contribuiu para todas as campanhas de Lula, mas que o petista nunca tratou de valores. Por outro lado, quando Lula finalmente virou presidente, qualquer que fosse o problema enfrentado pela empresa, Emílio ia até o Palácio do Planalto pedir a intervenção do chefe da República. E era quase sempre atendido.

Em alguns casos, Emílio precisou transpor obstáculos colocados pela ex-presidente Dilma Rousseff, quando ministra de Minas e Energia e depois da Casa Civil, e Lula deliberou pelo menos em uma ocasião em prol do amigo. Emílio só chamava Lula de “chefe”, mas parece se gabar de, apesar da proximidade, nunca ter tido relação íntima, ou ter frequentado a casa do petista: “Só estive uma vez no apartamento de Lula quando era sindicalista. E foi a melhor coisa que eu fiz. Pra ele e pra mim. A nossa relação, eu sou muito transparente. Eu gosto do Lula, confio nele, valorizo ele”, conta.

“BON VIVANT"
Uma preocupação grande de Emílio era quanto à possibilidade de “reestatização” da Petrobras. Um dia, quando já era real a chance de Lula se eleger, o empreiteiro procurou o petista e ele garantiu que não estatizaria o setor petroquímico. O empresário relembra uma conversa com o general Golbery Couto e Silva sobre Lula para dar sua visão sobre o ex-presidente:

“‘Emílio, Lula não tem nada de esquerda. Ele é um ‘bon vivant(teria dito o general). E é verdade. Ele gosta da vida boa, gosta de uma cachacinha, gosta de fazer as coisas e gosta de ver os outros, efetivamente, a coisa que ele mais quer é ver a população carente sem prejuízo, essa que é a versão mais correta, sem prejuízo de quem tem. Não é aquele negócio de tirar de um pra dar pro outro. Essa é a minha visão, por isso teve um alinhamento muito grande”.

Com Lula instalado no Planalto, Emílio tinha a liberdade de ir até o presidente e reivindicar que negócios feitos pela Petrobras em prejuízo da Braskem (braço da Odebrecht) fossem desfeitos, o que acabou acontecendo. Em outro momento, foi a Lula impedir que a Petrobras comprasse os ativos da Petroquímica Ipiranga, o que detonaria os planos da subsidiária da Odebrecht de espraiar seus mercados. “Como negócio, seria um desastre”, resume Emílio aos procuradores. Dois anos depois de conseguir impedir o negócio, a própria Braskem comprou a Petroquímica Ipiranga.

Mais adiante, já no segundo mandato de Lula, em 2007, Emílio precisou dele devido a um problema na hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, obra tocada pela Odebrecth.  Uma das licenças ambientais que deveriam ser dadas ao empreendimento pelo Ibama estava travada por conta da reprodução dos bagres, que ocorria justamente no local previsto para a barragem. “Eu disse: ‘O país precisa de energia e vai ser paralisado por causa do bagre? O senhor precisa tomar uma decisão’. Ele perguntou se eu já tinha falado com a ministra Dilma eu disse que sim, mas que era inócuo. ‘O senhor já deve ter percebido que eu não tenho simpatia por ela, que é muito dona da verdade. É uma pessimista em tudo’”, relatou Emílio ao procurador, revelando que não estendeu a relação que mantinha com Lula à sua sucessora.

Lula encampou a tese da empreiteira e transformou o episódio do bagre em uma referência frequente em seus discursos sobre como havia demora excessiva na concessão de licenças ambientais. O caso marcou o enfraquecimento da então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que acabou deixando o governo. As ajudas de Lula a Emílio foram recompensadas não apenas com as doações, que Emílio garantiu que ocorreram por meio de caixa um e caixa dois: “Fique certo: Lula não conversava comigo sobre isso, sobre os valores. Mas quero deixar uma coisa muito clara. Eu quando falava com (Pedro) Novis (presidente da Odebrecht antes de Marcelo Odebrecht assumir) e com Marcelo eu não dava a opção de dar ou não dar. Eu dizia: negociem, mas é para dar”.

SÍTIO DE ATIBAIA
Já no fim de 2010, quando Lula estava se despedindo da Presidência, Emílio relatou que o executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar, que o ajudava a fazer a interface com Lula, contou que a ex-primeira-dama Marisa Letícia pediu um favor: que o empreiteiro ajudasse a concluir as obras do sítio de Atibaia para fazer uma surpresa ao presidente assim que seu período no comando do governo terminasse.

O empreiteiro explicou aos procuradores a sofisticada logística montada para executar a missão, tirando gente de várias obras da Odebrecht, mas sem que a empresa parecesse envolvida institucionalmente na empreitada. Ao todo, disse, a reforma custou mais de R$ 700 mil. Mas nem Lula nem Dona Marisa procuraram saber esse valor. “Ele (Alexandrino) me falou isso em outubro e se eu não me engano no penúltimo dia do ano, dia 30, eu estive com ele (Lula) no Palácio do Planalto e eu disse: ‘olha, chefe, o senhor vai ter uma surpresa e nós vamos garantir o cumprimento do prazo naquele programa do sítio’. Ele não fez nenhum comentário, mas também não botou nenhuma surpresa, coisa que eu entendi não ser mais surpresa. Quando foi que ele soube eu não sei. Por quem que ele soube, não sei. Por mim não foi”, explicou.

Emílio Odebrecht também disse que a empresa dele financiava palestras do ex-presidente Lula em países africanos para que a imagem da Odebrecht ficasse atrelada ao carisma do petista, como forma de impulsionar os negócios. Segundo Emílio, a empreiteira custeava o transporte, em aviões fretados, hospedagem e demais gastos do ex-presidente durante esses eventos. 

Os honorários era o próprio presidente quem definia: variavam entre US$ 150 mil e US$ 200 mil por palestra. Em troca, a empreiteira pegava carona na imagem de Lula e estampava seu logotipo nos eventos dos quais ele participava. O empreiteiro contou que apresentou Lula à elite e às autoridades africanas — e, a partir disso, passou a financiar as palestras que o petista fazia. “Quem introduziu o Lula fomos nós, em todos os países (da África) que nós levamos ele.”

INSTITUTO LULA
Emílio também disse que comprou um terreno em São Paulo, por meio de uma empresa de um laranja, para Lula instalar uma nova sede de seu instituto. No fim, o petista quis manter a sede onde ela já estava instalada, e o dono da Odebrecht vendeu o terreno.  Emílio Odebrecht também disse que Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho de Lula, recebeu “cerca de US$ 200 mil” da empreiteira em Angola sem ter prestado nenhum serviço em troca. Segundo o delator, a empresa de Taiguara foi contratada a pedido de Lula para prestar serviço para a Odebrecht no país africano.


Depois de uns meses de trabalho, com a crise do petróleo em Angola, as oportunidades diminuíram para Taiguara e ele escreveu uma carta ao ex-presidente para reclamar da situação. Emílio soube da carta e logo providenciou um adiantamento para o sobrinho, por “serviços futuros”. Ainda segundo o delator, a contratação da empresa de Taiguara foi um pedido expresso de Lula a Alexandrino – que, por sua vez, pediu autorização ao dono da empresa para fazer o contrato e recebeu o aval dele. Emílio não soube dizer quanto o sobrinho do ex-presidente faturou durante o tempo que prestou serviço efetivamente.

“Numa viagem dessa para o exterior, Lula falou com o Alexandrino: ‘olha, eu tenho um sobrinho, que tem uma sociedade em Portugal, com um sócio português, e, se vocês puderem dar uma oportunidade de trabalho...’”, relatou Emílio Odebrecht.

Fonte: O Globo


terça-feira, 14 de março de 2017

Lula lá? Entre a herança maldita do PT e a herança da Lava Jato

Dilma foi deposta pela repulsa ao modelo criado pelo PT. A repulsa à política é a melhor chance que as esquerdas têm de voltar ao poder

Lula será ou não candidato à Presidência da República? Se não se enroscar com a Justiça, será. Em abril, o partido deve fazer o, vamos dizer, lançamento da pré-candidatura. Será antes de 3 de maio, quando ele comparece à 13ª Vara Federal de Curitiba para prestar depoimento ao juiz Sergio Moro no inquérito que apura repasse ilegal de recursos da OAS para a compra do tal tríplex do Guarujá e para guardar parte do acervo de presentes recebidos quando era presidente. Nesta terça, ele depõe na 10ª Vara Federal de Brasília. O ex-senador Delcídio do Amaral o acusa de participar de uma operação para comprar o silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras.

Indagado se será mesmo candidato, Lula preferiu driblar a questão. Mas atribuiu eventuais dificuldades à idade, não ao risco de se atolar na Justiça. Afirmou que o tempo é implacável. Mas se disse também com vontade de voltar a ter 35 anos — bem, até eu, né? — para percorrer o país em defesa de conquistas sociais que estariam ameaçadas pelo governo Temer. A fala já é de candidato.

A andança, de algum modo, já começou. Nesta segunda, ele discursou na abertura do 12º congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Na próxima quarta, informa a CUT, ele estará no protesto marcado pelas esquerdas, na Avenida Paulista, contra as reformas trabalhista e da Previdência. No dia 19, estará em Monteiro, na Paraíba, para participar de um evento sobre a transposição do São Francisco.
Mas, afinal, Lula será ou não candidato?

Vamos às dificuldades objetivas. Se for condenado por um tribunal de segunda instância, torna-se inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Há outras ameaças rondando o líder. Uma das delações da Odebrecht  asseguraria que ele controlava, para uso pessoal, uma parte correspondente a R$ 23 milhões daquela conta corrente que o grupo mantinha com o PT. É evidente que isso tudo caracteriza óbices importantes. Há quem sonhe com a possibilidade de Sergio Moro decretar sua prisão preventiva em razão de seu suposto controle da tal conta… Por aí, acho pouco provável.

As contingências
Ainda que não seja candidato, esteja preso ou não, é claro que ele será um eleitor importante. E há, sim, é inequívoco, contingências distintas e combinadas que jogam em seu favor — ou, mais genericamente, em favor das esquerdas. Não é tão difícil identificá-las.

Vamos lá. Enquanto Lula depõe à Justiça nesta terça, há a chance de Rodrigo Janot divulgar a tal “lista” derivada das delações da Odebrecht. De A a Z, haverá políticos de todas as tendências e de todos os partidos. Com a ironia que o caso pede, diria que, com raras exceções, todos os políticos que importam estão nela, e quem não está é porque não importa. É evidente que as eventuais culpas de Lula começam a ser diluídas na simulação de um mar de lama.

O depoimento de Emílio Odebrecht a Sergio Moro nesta segunda (ver texto) foi mesmo muito eloquente, não? O caixa dois era o modelo reinante no país, disse ele, desde quando a empresa estava sob o controle de Norberto, seu pai. E o que valia para a sua empresa valia para as outras.  Como alertei aqui tantas vezes, de maneira praticamente solitária, a especificidade dos crimes cometidos pelo PT está se perdendo na constatação obviamente errada de que todos são iguais. Digamos que seja verdade que todos os partidos meteram a mão no cofre… Ainda assim, só o PT tentou meter a mão na democracia. Digamos que seja verdade que todos roubaram. É preciso constatar, então, que ninguém antes havia profissionalizado esse assalto. Infelizmente, esses aspectos foram perdendo importância, sendo substituídos pela ideia de que todo o sistema é podre.

Há que se acrescentar ainda a reação negativa às reformas, em especial à da Previdência. Como se não fosse o seu partido o responsável pelo desastre que toma conta do país, Lula se oferece para falar em nome das “conquistas”. E não se envergonha de dizer que não pode ser o povo a pagar a conta. Ora, o povo já paga a conta, sim, da herança maldita que seu partido deixou: maior recessão a história, 13 milhões de desempregados, renda média do trabalho no chão… As reformas, como sabem as pessoas razoáveis, são precondições da retomada da economia.

Alguém poderia sugerir que Lula não teria coragem de apelar aos baixios da demagogia… Pois fiquem certos de que teria, sim. Dilma foi deposta pela repulsa ao modelo criado pelo PT. A repulsa à política é a melhor chance que as esquerdas têm de voltar ao poder.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo

 

 

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Arena do Corinthians foi presente para Lula, diz Emílio Odebrecht

Em acordo de delação, patriarca da família disse que estádio foi uma retribuição pelo crescimento dos contratos da empresa durante as gestões petistas

A Lava Jato deve chegar logo ao estádio do Corinthians, o Itaquerão. Reportagem da Folha de S.Paulo deste domingo informa que Emílio Odebrecht, presidente do conselho de administração do grupo que leva seu nome, teria afirmado, em acordo de delação premiada, que a arena foi uma espécie de “presente” ao ex-presidente Lula, torcedor corintiano. 

O agrado, segundo Emílio, foi uma retribuição à suposta ajuda do petista à empreiteira baiana nos oito anos em que Lula comandou o país, de 2003 a 2010. Sob governos do PT, de 2003 a 2015, o faturamento do grupo Odebrecht foi multiplicado por sete: passou de 17,3 bilhões para 132 bilhões de reais. O tal acordo de Emílio Odebrecht com a Lava Jato ainda está em fase de negociação. Além dele, outras 80 pessoas ligadas à empresa devem colaborar com a força-tarefa.

O ex-presidente do Corinthians e deputado federal pelo PT, Andrés Sanchez, divulgou nota negando as informações da reportagem. No texto, ele diz o seguinte : “Alguém, por mais mal informado que seja, afirmar que o estádio foi um presente para quem quer que seja, quando a Arena Corinthians custou R$ 985 milhões mais juros do empréstimo, é no mínimo não ser razoável em sua forma de pensar”.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo