Ruy Castro
Bolsonaro se vê como um leão. O STF se verá como uma hiena?
[dois pesos e duas medidas.
Não precisa ser douto para deduzir que a depender da vontade do ilustre colunista o presidente Bolsonaro seria preso, condenado à morte e provavelmente enforcado - o fuzilamento para quem, ao ver do colunista, cometeu tão horrível crime, seria uma pena honrosa.
Tudo isso por um vídeo que circulou em redes sociais, circulação que supostamente foi autorizada pelo presidente Bolsonaro - que já se desculpou e prestou as devidas explicações - chama o presidente de LEÃO e o STF e terceiros de hienas.
Estranho é que o autor de tão veemente defesa do STF e acusação ao presidente Bolsonaro, tem o atrevimento (classificação atribuída pelo decano do STF a uma suposta conduta do presidente da República Federativa do Brasil, JAIR BOLSONARO) de xingar Bolsonaro como alguém inferior à porra - justificando até a defesa dessa, por ser comparada a algo tão inferior.
Não bastasse tripudiar sobre o presidente da República, Chefe do Poder Executivo, ainda encerra o artigo com uma provocação àquela Corte Suprema: "o STF é uma hiena. Resta ver se o STF fará jus à descrição."
Resta claro que a intenção do articulista é emparedar o STF, visto que deixa espaço para interpretação que se a Corte Suprema não triturar o presidente da República será uma hiena, animal que entre seus defeitos está o da traição, da covardia.
Finalizamos lembrando que o presidiário Lula da Silva, em passado recente, chamou a Suprema Corte de 'corte acovardada'.]
Quando se julgavam esgotados os epítetos, afrontas e apodos dirigidos a
Jair Bolsonaro — nunca um presidente da República se prestou tanto a ser
desqualificado —, eis que ele próprio acrescentou à sua galeria o título
que lhe faltava. O vídeo produzido por sua equipe e protagonizado por um
leão identificado com o seu nome, acossado por hienas marcadas com os
logotipos de seus supostos inimigos, não deixa dúvida. Ele é o rei dos
animais.
Essa repentina majestade, no entanto, não o livrará de continuar a ser
tratado com casca e tudo, inclusive pela turma com quem andava antes de
chegar ao Planalto. Outro dia, seu próprio colega de partido, um certo
Delegado Waldir, chamou-o de “vagabundo” e “essa porra” —quase fazendo o
colunista sair em defesa da porra, injustamente rebaixada a Bolsonaro.
Turma aquela que, de tão íntima, parece na iminência de lhe custar caro.
Fabrício Queiroz, seu ex-boy, ex-motorista, ex-oficial de gabinete,
ex-coordenador de contratações escusas e ex-amigo, ressuscitou em áudio
esta semana, dando dicas a “Jair” sobre como melhor conduzir o poder e
se queixando de que, alvo de um processo perigoso, está sendo abandonado
pelos cúmplices, digo colegas. O vocabulário de Queiroz não é dos mais
ricos. Consta de dez ou doze palavras, metade das quais, palavrões. Mas é
injusto tirar as crianças da sala quando se sabe que ele vai falar na
TV. Todo o governo Bolsonaro justifica que se tirem as crianças da sala.
Ao escalar o time de hienas que hostilizam o leão, Bolsonaro arrolou uma
nova instituição ao seu rol de inimigos imaginários: o STF. O fato de o
vídeo ter sido “apagado” e, como sempre, Bolsonaro ter se “desculpado”
—desta vez, 24 horas depois—, não impede o vídeo de continuar no ar,
atingindo milhões de pessoas. E, em todas as exibições, lá está o
insulto: o STF é uma hiena.
Resta ver se o STF fará jus à descrição.
Ruy Castro, jornalista - Folha de S. Paulo