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sexta-feira, 29 de maio de 2015
Putin: recrudescer a repressão é a ordem
Vladimir Putin convocou uma reunião plenária dos altos funcionários do Serviço Federal de Segurança da Federação Russa (FSB), polícia política e serviço secreto de seu regime, segundo informou o jornal de Paris Le Figaro.
Dirigindo-se a seus “camaradas” e súditos, o antigo espião da KGB pintou o quadro de uma Rússia rodeada de inimigos e ordenou-lhes enfrentar um vasto leque de ameaças heterogêneas que perturbam sua imaginação: desde o terrorismo caucasiano até a oposição liberal na Duma, passando pelas tentativas de “abalar o sistema financeiro”. Putin insistiu que só “uma Rússia mais forte” poderá realizar as “mudanças positivas”.
Nessa ótica, deve ser reforçado o regime ditatorial. E as “mudanças positivas” já foram apontadas por Putin, pelos seus funcionários imediatos e até pelo Patriarca de Moscou na Duma: os “valores soviéticos”. Segundo Putin, “ONGs e grupos politizados” russos servem à espionagem ocidental e “planificam ações em função das eleições parlamentárias e presidencial de 2016 e 2018”. O objetivo desses inimigos internos seria de “desacreditar o poder e desestabilizar a situação interna da Rússia”. Putin não deve ter penado muito para redigir seu discurso. Perorações análogas eram feitas nos prólogos dos expurgos da era soviética. “Estamos convencidos de que existe gente querendo uma mudança de regime na Rússia e emissários americanos passeiam atualmente com esta finalidade por diferentes capitais”, glosou um porta-voz vizinho ao Kremlin.
O presidente russo disse que achava “importante dialogar” com a oposição. A prevenção era de rigor após o assassinato suspeito do oposicionista liberal Boris Nemtsov em Moscou. Mas, logo a seguir, trocou a letra e defendeu que essa discussão “careceria de sentido” porque, segundo ele, a oposição é suspeita de “trabalhar sob as ordens de países estrangeiros”. “Putin está convencido de que alguém que sai à rua para manifestar está trabalhando obrigatoriamente para a espionagem ocidental”, observou o politólogo Alexeï Makarkine.
Segundo Putin, as empresas russas vivem sob a ameaça de uma “competência” que visa “comprometer sua reputação”. Na categoria de empresas de certa dimensão só sobrevivem as estatizadas, ou “privatizadas” pela nomenklatura putinista. Elas navegam em oceanos de corrupção e ilegalidade e encaminham-se para a falência devido à queda vertiginosa da cotação do petróleo e das entradas do governo. “São pouco numerosos os que estão prestes a trabalhar honestamente com o empresariado russo”, queixou-se o “todo-poderoso”, que exigiu dos chefes da repressão “reagir corretamente” face aos empresários ainda livres ou estrangeiros.
Nada de bom, enquanto se discute a verdade sobre a morte de Christophe de Margerie, chefe executivo da petrolífera francesa TOTAL, em estranho acidente no aeroporto internacional Vnukovo, de Moscou. Putin mostrou-se pasmo com os abalos monetários que jogaram o rublo – a moeda nacional – no fundo dos infernos. Segundo ele, trata-se de “maquinações das sombras”, que também devem ser perseguidas pelos serviços especiais. Como se o anterior fosse pouco, Putin exortou os “camaradas” a “reforçar” as fronteiras do Cáucaso e da Ásia. Na fronteira ucraniana, os separatistas não devem encontrar “obstáculos”.
Porém, aqueles que “realizam operações punitivas” – como é o caso das forças leais ao governo ucraniano – e “embaralham as pistas ou planificam assassinatos em território russo”, deverão ser “desmascarados”.
“A situação vai melhorar, não se fraquejarmos e começarmos a balbuciar como crianças, mas somente se nos tornarmos mais fortes”, concluiu Putin, a quem os cidadãos russos cordatos denunciam de ter-se apossado brutalmente do poder no país.
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