Parte do PT usou com
a presidente Dilma Rousseff a tática própria de um partido de oposição, certo? Resolveu criar o fato
consumado para obrigá-la a negociar. Refiro-me à aprovação de uma
alternativa ao fator previdenciário, que
é a fórmula 85/95: as mulheres se aposentam quando a soma de idade e tempo
de contribuição chegar a 85, e os homens, 95. Para tanto, o tempo mínimo de contribuição tem de ser, respectivamente, de 30 e 35
anos. Quem quiser a aposentadoria antes, submete-se às atuais regras do
fator. Em dez anos, calcula-se, o INSS
teria um aumento de R$ 40 bilhões no rombo.
Muito bem! Houve defecções em
todas as bancadas governistas, mas, de significativo mesmo, contam-se os nove votos
do PT e toda a bancada do sempre fiel PCdoB. Deram de ombros para o governo. O voto mais patético é o do deputado Carlos
Zarattini (PT-SP), que é nada menos do que o relator da MP 664 e vice-líder do
governo na Câmara. Ou por outra: entre as suas funções, está conseguir
votos para o governo. Não só não se empenhou nisso como, ele próprio, votou
contra.
Não há a menor chance
de a alteração ser derrotada no Senado. Vai passar. Petistas da casa já disseram
que não estão nem aí para Dilma: votarão “sim”. A presidente terá de vetar a alteração, com o risco de o
veto ser derrubado, a menos que ela negocie uma alternativa. Negociar com quem? Com as centrais
sindicais, muito especialmente com a CUT. Ora, não é isso o que começou a pregar Lula? Não é o que ele vem
dizendo em encontros fechados com sindicalistas e com petistas? O homem já decidiu
iniciar em junho andanças pelo país com o objetivo de, consta, unir as
esquerdas e os movimentos sociais em defesa do PT.
Ou por outra: o partido de Dilma
passou a empregar com ela a tática do fato consumado. Se o governo é uma bagunça na área política — e é —, obedecendo a vários
comandos e, no fim das contas, a nenhum, a algaravia de orientações
não é menor no PT. Dilma é hoje vítima da construção da candidatura de Lula em
2018 e do esforço do partido de se “religar” com as tais bases.
O fator previdenciário
é um exemplo acabado do estelionato eleitoral petista. Ocorre que, quando as vacas andavam mais gordas, o
assunto havia deixado de ser urgente. Agora… Explico-me: a fórmula foi
criada no governo FHC. A Previdência está capenga, como sempre, mas só não
quebrou em razão do dito-cujo. Quando aprovado, PT e
CUT botaram a tropa na rua. Chegaram a inventar a canalhice de que FHC teria
chamado os aposentados de “vagabundos”.
Lula se elegeu em 2002, entre outras
coisas, atacando a fórmula.
Pois é: o PT está no 13º ano de poder e não mexeu no fator previdenciário. É
mais estelionatário do que burro. Com a maioria esmagadora que sempre
mantiveram no Congresso, os petistas poderiam ter imposto o modelo que bem
desejassem. Só que as contas iriam para o vinagre. O partido fazia o quê? Jogava o fator nas costas de FHC e se
aproveitava de seus benefícios. Fez o mesmo com a Lei de Responsabilidade
Fiscal e com as privatizações, às quais o partido também se opôs. Poderia, se
quisesse, ter revertido tudo. Não o fez porque sabia ser bom para o país. FHC
fez uma boa síntese no seu discurso de terça em Nova York: ele perdeu, sim,
muitas vezes, a popularidade, mas não a credibilidade. Os petistas preferem ser
populares…
Agora que a noite esfriou, que o dia
não veio, que o bonde não veio, que o riso não veio, que não veio a utopia, que
tudo acabou, que tudo fugiu, que tudo mofou… E agora, Dilma? E agora você? Cito, como boa parte de vocês deve
ter percebido, o poema “E agora, José”, de Carlos Drummond de Andrade. Agora que o cobertor ou cobre os pés ou
cobre a cabeça, agora o PT resolveu,
instigado por Lula, lustrar as suas origens. E joga Dilma na fogueira. Houvesse um tantinho
de dignidade, de honra, de decência, de vergonha na cara, o partido teria
lutado nesta quarta como fera ferida contra a alteração do fator
previdenciário: afinal, se ele foi mantido com as vacas gordas, por que seria
alterado quando a crise é evidente?
Ocorre que, mais uma
vez, fica evidente que o PT está pouco se
lixando para o Brasil. O partido só pensa na própria sobrevivência. Se o país morrer
primeiro, paciência! Mas aí a companheirada administraria o quê? Não interessa.
Conhecem a fábula do sapo que dá carona a um escorpião na travessia do rio,
certo de que não será picado porque, afinal, se isso acontecer, os dois
morrerão? No meio do caminho, o batráquio sente a ferroada e, racionalista que
era, se espanta antes do penúltimo suspiro: “Por que você fez isso? Nós dois
vamos morrer”. Ao que responde o outro: “Não posso fazer nada, é a minha
natureza”.
O PT tem a natureza do
escorpião. Por isso deve ser banido do
país por intermédio das urnas.
Por:
Reinaldo Azevedo