Se não escolher rapidamente um novo candidato, o PT corre o risco de não ir para o segundo turno e perder relevância como partido
Com
negação, pelo STF, do recurso em favor de soltura de Lula, as chances de
ele obter liberdade passam a depender de uma distante e incerta decisão
do STF revogando a súmula que tratou da prisão após decisão de segunda
instância. Dificilmente isso acontecerá nas próximas semanas. O PT e
Lula estão, assim, diante de um difícil dilema. Uma decisão
eleitoralmente racional é aceitar que o ex-presidente está fora da
corrida presidencial, escolhendo imediatamente o novo candidato. Outra
saída, eleitoralmente irracional, é manter a ideia de registrar a
candidatura de Lula no próximo dia 15 de agosto.
A decisão
racional requer um líder com coragem e força para levar a má notícia a
Lula. Embora ele tenha escrito uma carta liberando o partido para
decidir sobre o assunto, ninguém o levou a sério, pois isso equivaleria a
abandoná-lo. A manutenção da candidatura serve até como consolo para
enfrentar suas atuais agruras e para preservar a esperança de breve
saída da cadeia.
Como
parece não existir esse líder neste momento, o PT pode ser forçado a
manter a candidatura de Lula. Acontece que o Tribunal Superior Eleitoral
pode impugnar o registro em duas ou três semanas, dada a relevância do
assunto. Poucos duvidam de que o ex-presidente se tornou inelegível com a
condenação no TRF-4 de Porto Alegre. O PT
teria, então, menos de um mês para construir uma nova candidatura. Além
disso, Lula perde a cada dia a capacidade de transferir votos. Isso
requer que ele seja visto muitas vezes com o candidato que apoia, em
diferentes lugares. Trata-se de missão praticamente impossível.
Se assim
for, as preferências por Lula, hoje de mais de 30% do eleitorado, seriam
deslocadas para outros candidatos de esquerda. O nome petista, pouco
conhecido e pouco associado a Lula, não conseguiria passar para o
segundo turno. Pela primeira vez desde 1989, o PT ficaria fora da
disputa final. Uma
consequência negativa adicional da estratégia suicida poderia ser a
redução da bancada do PT no Congresso e a redução do número de
governadores eleitos pelo partido. A menor bancada acarretaria uma
diminuição dos recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de
Financiamento de Campanha, os quais são distribuídos proporcionalmente
ao número de parlamentares.
O PT correria o risco de uma nova queda da
sua bancada no Congresso nas eleições de 2022. Assim,
caso não consiga livrar-se do dilema, o PT pode, além de ficar fora do
segundo turno das próximas eleições presidenciais, perder relevância
como partido político a cada nova eleição de deputados e senadores.