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terça-feira, 24 de maio de 2016

Fantasias na instabilidade



Machado, 69 anos, atravessou os governos Lula e Dilma Rousseff no comando da Transpetro. É a subsidiária da Petrobras. Presidiu a empresa durante dez anos e sete meses 

Sobram motivos para temer na cúpula da PMDB. A conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com Romero Jucá, ex-ministro e presidente do partido, é pequena amostra do volume de informações acumulado pela Procuradoria da República, sob supervisão do Supremo Tribunal Federal.

O clima de instabilidade no Congresso ainda vai aumentar, e muito, preveem autoridades encarregadas dos inquéritos sobre corrupção nas empresas estatais, indicando novas delações e documentos, coletados no país e recebidos de 28 países. O que está em curso é a exumação do condomínio político-governamental nascido na era Lula e falecido na gestão Dilma Rousseff.

Nela revela-se o método de governança escolhido na parceria, ou cumplicidade, entre PT, PMDB e PP. Não se limita a esses partidos, e inclui até expoentes da oposição. O “grampo” de uma reunião há mais de dois meses de Jucá e Machado, divulgado ontem pelo repórter Rubens Valente — uma semana depois da abertura do impeachment de Dilma —, reintegra o imponderável na cena política: o rumo dos inquéritos sobre corrupção nas estatais.

Expõem conivência até na aflição: — Eu estou preocupado — disse Machado —, porque estou vendo que esse negócio (o processo) da filha do Eduardo (Cunha) e da mulher foi uma advertência para mim... O interesse (da procuradoria) é pegar vocês. Nós. E o Renan, sobretudo.
Não, o alvo na fila é o Renan — respondeu Jucá — depois do Eduardo Cunha... É o Eduardo Cunha, a Dilma, e depois é o Renan.
Foi uma c***** — xingou Machado. — Foi uma c***** o Supremo fazer o que fez com o negócio de prender em segunda instância, isso é absurdo total ... Isso aí é para precipitar as delações. Romero, esquentou as delações, não escapa pedra... Não escapa pedra sobre pedra.
É esse o esquema — continuou. — Agora, como fazer? Porque arranjar uma imunidade não tem como, não tem como. A gente tem que ter a saída, porque é um perigo.

Machado, 69 anos, atravessou os governos Lula e Dilma Rousseff no comando da Transpetro. É a subsidiária da Petrobras. Presidiu a empresa durante dez anos e sete meses. Saiu em fevereiro do ano passado, depois de Dilma receber o terceiro aviso sobre a negativa de auditores externos em subscrever uma contabilidade eivada de suspeitas, especialmente em contratos R$ 8,8 bilhões feitos com 27 empresas privadas (entre 2004 e 2012).

Machado não foi uma escolha aleatória de Lula. Resultou de uma composição de interesses do PT com o PMDB, num processo de decisão cujos parâmetros foram definidos no começo do governo, quando os ministros Dilma Rousseff (Minas e Energia), Luiz Gushiken (Comunicação), Silvio Pereira (secretário-geral do PT), Delúbio Soares (arrecadador), e o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, lotearam a estatal. No impasse, quem resolvia era o chefe da Casa Civil, José Dirceu.

A fantasia da ponte para limitar o futuro das investigações sobre corrupção já abateu Lula, Dilma, Dirceu, Cunha, Mercadante e Delcídio, entre outros. Agora, Jucá e Machado. Achavam que viviam num filme preto e branco, acabaram expostos em multicores, sob a luz solar da opinião pública, que dos governantes só exige o essencial: honestidade.

Fonte: José Casado – O Globo