No mais das vezes, questões não cobram do presidente um esclarecimento sobre fato apurado. Ao contrário: pedem que o chefe do Executivo se posicione sobre conjecturas
Rodrigo Janot, procurador-geral da
República, está por trás das 82 perguntas enviadas pela Polícia Federal
ao presidente Michel Temer. Todo mundo sabe disso na PF. Todo mundo sabe
disso na PGR.
As perguntas, com o beneplácito, mais
uma vez, de Edson Fachin, relator do petrolão no STF (e esse caso nada
tem a ver com a Petrobras), são parte da guerra movida por Janot contra o
presidente e, em certa medida, contra “os políticos”. Um conhecido
caçador de oportunidades, como Janot, agora pinta o rosto para a guerra e
se faz passar por convicto. É mesmo? Até hoje Lula não esclareceu o que
quis dizer, naquela sua conversa vazada com Sigmaringa Seixas, ao
afirmar que, se Janot fosse formal, “não seria procurador-geral da
República, teria tomado no cu, teria ficado em terceiro lugar (…) Quando
eles precisam não tem formalidade; quando a gente precisa, é cheio de
formalidade”. Pois é…
As 82 perguntas entrarão para a
história, se for contada por gente com os meridianos democráticos
ajustados, como um momento infamante da PGR, da PF e do próprio Supremo.
Nos dois primeiros casos, porque representantes desses entes de estado
se uniram com o propósito de promover um assédio moral e policial ao
presidente. No terceiro, porque Fachin autorizou o, digamos,
interrogatório escrito sem que a tal gravação, imprestável desde sempre
para efeitos judiciais (nas democracias ao menos), tivesse sido
periciada.
As perguntas compõem, na verdade, um
roteiro de acusação e, no mais das vezes, não passam de arapucas. No
melhor dos mundos para essa frente anti-Temer — que hoje junta, além das
esquerdas, Janot, setores da PF e Fachin —, o presidente se incrimina
ao responder (já explico a circunstância). No pior, mas ainda muito bom
para estes que passo a chamar de “conspiradores”, Temer se nega a
responder (é o mais prudente) e acaba alimentando a suspeita de que tem
muito a esconder.
Uma pergunta pode ser tomada como um
verdadeiro emblema do que é uma campanha orquestrada para depor o
presidente, sempre destacando que, na origem de tudo, está uma gravação
que jamais poderia ter sido usada como instrumento por um juiz. E Fachin
não viu mal nenhum nisso. Sigamos.
Refiro-me à questão nº 19. Lá se lê o
inacreditável, o estupefaciente, o absurdo mesmo. Conversei nesta terça
com juristas de direita, de esquerda, de centro, escolham aí.
Unanimemente, consideram a questão, em si, um escândalo. Mais: para
eles, o conjunto das perguntas é típico de um Estado policial, uma vez
que, no mais das vezes, não cobra do presidente um esclarecimento sobre
fato apurado. Ao contrário: pede que o chefe do Executivo se posicione
sobre conjecturas.
Mas o que há lá? Vou transcrever, prestem atenção!
“Existe algum fato objetivo que envolva a pessoa de Vossa
Excelência e seja passível de ser revelado por Lúcio Bolonha Funaro ou
Eduardo Cunha, em eventual acordo de colaboração?”
Obviamente, não se trata de uma
pergunta, mas de um ameaça. De maneira clara e inequívoca, o agente da
PF sugere saber de coisas que o presidente está se negando a revelar. E,
dado o andamento das coisas, se tais revelações poderiam ser feitas nas
respectivas delações premiadas de Funaro e Cunha, então quem está no
domínio da caça ao presidente é mesmo o Ministério Público Federal.
Não há resposta possível para essa
pergunta. A rigor, ela poderia ser dirigida a qualquer político, que se
obrigaria a calar. Como é que o presidente pode tecer considerações
sobre uma hipotética delação de Funaro e Cunha? Se diz não haver nada
que o comprometa, ele se expõe ao risco da delação de um deles ou dos
dois. Como sabe Joesley, Janot paga bem a delator que acusa o
presidente. Se o mandatário admite o envolvimento, então assina a culpa.
Há muito o devido processo legal foi
mandado para o diabo. O que se desenha aí é, sim, um estado policial,
sem regras. Eu venho denunciando a coisa faz tempo. Há alguns incautos,
acho eu, que não percebem o risco que todos corremos. E há, finalmente,
os especuladores que apostaram alto na queda de Temer. E agora querem
colher o fruto de sua previsão.
A pena que sinto é que não são apenas os
inocentes úteis e os oportunistas que correm o risco de experimentar o
veneno que agora admitem como remédio. Também os defensores da
democracia estarão expostos a esse agente maligno. Sim, estão aí as sementes de um estado
policial, com características de fascismo de esquerda. Não por acaso, o
parlamentar que é hoje o porta-voz de novo golpista o Randolfe
Rodrigues, que o vermelho que tem a cara de pau de se pintar de verde e
marinheiro.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo