Janot
está flanando no populismo mais rasteiro. Como sabe a rejeição que há hoje contra Cunha na
imprensa e na opinião pública, evoca a toda hora o
Belzebu para esconder as suas artimanhas e a deficiência técnica de sua
argumentação
Rodrigo Janot, procurador-geral
da República, é mesmo um fenômeno. Ninguém atuou de
forma tão determinada, precisa e pontual para impedir o impeachment de Dilma
Rousseff como este senhor! Nunca! E, no entanto, até setores de movimentos de
rua que lutam pelo impedimento da presidente o têm como herói. Confundem o procurador-geral com a força-tarefa de Curitiba, o que é, além de falso, uma burrice.
Janot está numa guerra pessoal
contra Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), presidente da Câmara. Por mim, o deputado já teria sido cassado ou
teria renunciado. Mas o fato de Janot ser seu inimigo pessoal não torna o
procurador-geral meu herói. Nesta quarta, mais uma vez, a gente descobre por que ele é hoje o
principal aliado de Dilma Rousseff.
O Supremo, por obra e
graça do ministro petizado Roberto Barroso, resolveu criar o rito do não impeachment. A maioria dos ministros houve por bem seguir Barroso na farra
constitucional e regimental. Explico. Por maioria, o Supremo considerou
inválida a eleição da comissão do impeachment, que se deu por voto secreto. Quem abriu a divergência, contrariando
o voto de Edson Fachin, foi justamente
Barroso. Ele
alegou que o Inciso III do Artigo 188 do Regimento Interno da Câmara não prevê
voto secreto nesse caso.
Ocorre que isso é mentira!
Lá está escrito, literalmente, que a eleição por escrutínio secreto se
fará nestes casos, prestem atenção:
“para eleição do
Presidente e demais membros da Mesa Diretora, do Presidente e Vice-Presidentes
de Comissões Permanentes e Temporárias, dos membros da Câmara que irão compor a
Comissão Representativa do Congresso Nacional e dos 2 (dois) cidadãos que irão
integrar o Conselho da República e nas demais eleições”.
Eis aí. A expressão “demais eleições” compreende a comissão do impeachment. Barroso, no dia do julgamento, fez o que não se
faz. Justificou a sua tese lendo tal dispositivo, mas, acreditem, NÃO O FEZ ATÉ O FIM E
OMITIU A EXPRESSÃO “demais eleições”. Há um vídeo que evidencia essa leitura fraudulenta.
Vejam:
É preciso assistir ao
vídeo para constatar. Daria um episódio da séria “Lie
to Me”. Para quem não sabe, o protagonista é o agente especial do FBI Cal
Lightman, interpretado pelo ator Tim Roth, que é especialista em ler as
mentiras interpretando apenas a linguagem corporal e as expressões faciais das
pessoas. Quem vir o filme vai constar
que há uma fração de segundo em que Barroso entrega o jogo. Eu ousaria afirmar que ele sabe estar contando o contrário
da verdade.
Barroso e os que o
seguiram também impuseram a comissão única do impeachment, cujos membros devem
ser indicados pelos líderes. O ridículo então fica
assim: a
comissão é uma só, seus membros são os indicados pelas lideranças, mas ela tem de ser eleita em votação aberta. Ora,
então eleição pra quê?
Não esqueci de Janot,
não! Quero
só explicar mais um pouco a atuação desta criatura sinistra.
Mais: Barroso e os que o
seguiram também estupraram o caput do Artigo 86 da Constituição, onde se lê:
“Art. 86. Admitida a
acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal,
nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.”
Notem que, em momento nenhum, a Constituição prevê que uma comissão do
Senado possa se negar a processar e julgar o presidente se esta for a
demanda da Câmara. Pois esse foi o
ritual imposto pelo Supremo. Um grupo de senadores pode, por sua conta, mandar
pelo menos 342 deputados às favas.
Embargo
de declaração
No embargo de
declaração — um pedido para que o Supremo
aclare o seu voto e responda a eventuais desdobramentos indesejáveis e
imprevistos da decisão tomada —, a
Câmara levanta esses aspectos.
A Procuradoria-Geral da República sempre
é chamada a dar o seu parecer. Sabem o que disse
Janot? Que
Eduardo Cunha não se conforma com a votação do Supremo, que as questões são todas improcedentes e que o deputado está querendo
usar os embargos infringentes para rever o resultado da votação, o que, observa, é
descabido.
Em primeiro lugar,
não é. E já aconteceu. Se, na apreciação de embargo de declaração, for constatado um erro formal, a votação pode, sim, ser mudada. Em segundo lugar, é um acinte e um absurdo
que Janot simplesmente ignore a argumentação apresentada no embargo para, mais
uma vez, fazer proselitismo contra Cunha. Assim
como o impeachment não pertence ao parlamentar, o
embargo de declaração também não! Quem o move é a Mesa da Câmara, é a
instituição.
Janot está flanando no
populismo mais rasteiro. Como sabe a rejeição que há hoje contra Cunha na
imprensa e na opinião pública, evoca a toda hora o Belzebu para esconder as
suas artimanhas e a deficiência técnica de sua argumentação. “Ah, mas é Janot quem esta enquadrando Lula!!!” Uma ova! É a Lava Jato, ao arrepio do
procurador-geral. O que depende dele, fiquem certos,
empaca. Não caiam nessa conversa.
Com esse rito do
impeachment imposto pelo Supremo, que
frauda o Regimento Interno da Câmara e a Constituição, o que se pretende é proteger Dilma de duas formas:
a: criando uma comissão do
impeachment na Câmara indicada por líderes que será majoritariamente contrária
ao impedimento;
b: dando a
uma comissão do Senado, manipulada por Renan Calheiros, poder para nem levar a
questão a plenário caso a Câmara aceite a denúncia contra Dilma.
Não venham me oferecer
Rodrigo Janot como herói da Lava Jato. Por
enquanto, ele é herói apenas do “Fica, Dilma”. Por essa razão, Cunha deve se tornar réu no STF entre hoje e amanhã, e Renan Calheiros, o esbirro de Dilma, está flanando
por aí,
investigado em seis inquéritos do petrolão, mas ainda não denunciado nesse caso.
Parabéns, Janot!
Admito que a farsa é bem conduzida! Mas me permito não cair nela.
Dilma perde a compostura e pede “limites” ao se
investigar Lula
Fala
ocorre um dia depois de ela tirar José Eduardo Cardozo da Justiça, nomeando em
seu lugar, contra a Constituição, um aliado de Jaques Wagner
A presidente Dilma
Rousseff parece mesmo insaciável na arte de se cobrir de ridículo. Nesta terça, ela
recebeu em jantar as bancadas do PDT na Câmara e no Senado. Segundo informa a Folha, resolveu fazer uma
defesa firme de Lula. E mandou ver uma frase que dá pano pra manga. Disse que a
investigação que atinge o ex-presidente “não pode passar dos limites”.
Então deixem-me ver
se entendi direito a fala da notável soberana. Um dia depois de ela
promover a troca de guarda no Ministério da Justiça, atendendo a pressões
do PT, e de nomear para o cargo, contra a Constituição, Wellington César,
peixinho do lulista Jaques Wagner, ela vem a público para cobrar “limites” da investigação? A quem ela está mandando recado?
Ou
bem Dilma afirma que investigação nenhuma pode passar dos limites — no caso, os limites a que me refiro são os
legais —, ou
bem confessa que está pedindo um tratamento privilegiado para Lula. E, Santo Deus!, ela é nada menos do que a presidente da República. Quem
trabalha comigo sabe que detesto conversa frouxa, que não sei para onde vai.
Comigo, no trabalho, é “pão-pão,
queijo-queiro”. É
claro que Dilma está fazendo uma espécie de advertência oblíqua à Polícia
Federal. Dilma teria dito ainda que todos cometem erros e falhas, mas que uma
liderança como o petista “merece
solidariedade”.
Que coisa! Ela
diz essas barbaridades no dia em que vem à luz parte das delações de executivos
da Andrade Gutierrez dando ciência de que sua
campanha, em 2010, contou com dinheiro ilegal repassado pela empreiteira — dinheiro que, no caso, é sinônimo de propina.
O nome disso é perda
de compostura.
Fonte: Blog do Reinaldo
Azevedo – VEJA