Quantos picaretas
haverá em um Congresso de 513 deputados federais e 81 senadores? Nos anos 80 do século passado, o então deputado Luiz Inácio da Silva acusou o Congresso de
abrigar, pelo menos, 300 picaretas. Triste ironia! Pois
foi com o apoio de uma maioria deles que Lula governou duas vezes. E
é a eles que Lula novamente pede socorro para evitar, desta vez, a interrupção
do mandato de Dilma.
Aquele
que se apresenta como “a alma mais
honesta do país” recebeu plena
delegação de poderes de Dilma para empenhar o que for preciso em troca de
votos capazes de barrar a aprovação do impeachment na Câmara dos Deputados – de ministérios a cargos com orçamentos milionários; de
liberação de dinheiro para pequenas obras a dinheiro vivo para financiar
futuras campanhas.
De zica e de outras
doenças, Dilma deixou de falar, reparou?
Neste
momento, o estado de São Paulo vive um
surto da gripe H1N1, com 534 casos confirmados e 70 mortes relacionadas ao
vírus. Falta
vacina nos postos médicos.
Uma
multidão apinhou-se à porta de uma concessionária da BMW na capital paulista
atraída por 1,5
mil doses de vacina oferecidas de graça. Cadê Dilma? O Brasil está
desgovernado desde que ela foi reeleita sem saber direito o que fazer. No
primeiro mandato, parecia saber. Mandou
sete ministros embora em nome do combate à corrupção.
Depois, aconselhada por Lula,
trouxe-os de volta. No mais,
fez tudo errado e afundou o país como se vê. Errou até quando promoveu Lula a ministro na
tentativa criminosa de salvá-lo da Lava-Jato – e de salvar-se. O
trabalho sujo, agora, desempenhado por Lula, liberou Dilma para ficar rouca de
tanto apregoar que os corruptos jamais a derrubarão – logo ela, de biografia
imaculada.
Procede assim em comícios país a
fora e Palácio do Planalto adentro, animados pela palavra de ordem repetida por
militantes amestrados de que “impeachment
é golpe”. Virou
uma figura patética. Uma caricatura sem graça dela mesma. Falta estimar o número de
picaretas com direito a assento no plenário da Câmara. Mas
muitos estão divididos entre aceitar pagamentos à vista ou a prazo.
À vista é o que Lula lhes promete
desde que entreguem primeiro seus votos. A prazo é o que lhes
prometem os que dizem falar em nome do vice-presidente Michel Temer. Por
enquanto, o vice está recolhido ao silêncio. Faz acenos à distância. Esta
tarde, salvo uma surpresa na qual nem o
governo acredita, a Comissão Especial da Câmara
aprovará o relatório que recomenda a abertura do processo de impeachment contra
Dilma.
O relatório será votado no
plenário da Câmara entre a próxima sexta-feira e o domingo. Ali, para que o pedido possa ser
encaminhado ao Senado, serão necessários os votos de 342 de um total de 513
deputados. Os defensores do impeachment admitem não ter os 342 votos.
Mas dizem dispor de 330 a 335. Será?
No fim de
semana, a maioria dos deputados voou aos
seus Estados para encontrar parentes, amigos e eleitores. No Recife, Jorge
Corte Real (PTB-PE) reafirmou ao pai que
votará a favor do impeachment como ele lhe pedira. Convidado para
ser ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR) surpreendeu o governo no sábado com o anúncio de que está indeciso quanto ao impeachment.
A filha dele, deputada estadual pelo PP,
é a favor.
Espera-se
para breve uma nova fase da Lava-Jato. Fora outras coisinhas (alô, alô, Lula!).
Fonte: Blog do Noblat - Ricardo Noblat
Lula e Dilma (Foto: André
Coelho / Agência O Globo)