Fim da picada! Um dos principais delegados da força-tarefa sugere que morte de Teori Zavascki é parte de um complô contra a Lava Jato
Olhem aqui: movidas pela justa
indignação, por um medo compreensível ou, ainda, pela estupidez
circundante, boas pessoas podem escrever coisas impensadas. E há aqueles
que, mesmo sendo autoridades, mesmo tendo a obrigação de manter a
serenidade e a compostura, se comportam como adolescentes da mão
ligeira.
Francisco Prehen Zavascki, filho do
ministro Teori Zavascki, ilustra o primeiro caso. Em maio de 2016,
escreveu o seguinte no Facebook:
Duvido que seu pai tenha apoiado a
desabafo. É bem provável que Teori e família tenham recebido ameaças,
como acontece rotineiramente com autoridades, jornalistas, artistas ou,
simplesmente, pessoas públicas. Daí o texto irrefletido. Em primeiro lugar, resta evidente que
ele diz não confiar no próprio sistema de que seu pai era o principal
fiador. Até aí, ok. Isso é com ele. Mas é claro que os membros da
família Zavascki não estavam blindados contra todos os males do mundo —
exceção feita aos investigados… — só porque o patriarca era relator do
mensalão.
As redes exibem essa mensagem como se
ali estivesse “a prova” do atentado; como se o fato de Francisco ser
filho do ministro eliminasse a fragilidade essencial da afirmação. Não!
Ter a relatoria do petrolão não protege ninguém em caso de queda de
avião. Também não impede que este caia. Mas, reitero, compreendo o desabafo de um membro de uma família que estava sob constante pressão.
Delegado
O que é lamentável, aí sim, sob todos os aspectos, é a manifestação do delegado federal Marcio Adriano Anselmo, uma das estrelas da Lava Jato.
O que é lamentável, aí sim, sob todos os aspectos, é a manifestação do delegado federal Marcio Adriano Anselmo, uma das estrelas da Lava Jato.
Recorreu ao Facebook para cobrar uma
investigação “a fundo” [da morte do ministro Teori], “na véspera da
homologação da colaboração premiada da Odebrecht”. Eis aí a associação irresponsável, vinda
da pena de uma das principais autoridades da operação. Ele foi além:
“Esse ‘acidente’ deve ser investigado a fundo”. Sim, “acidente” está
entre aspas, inferindo que se trata, é evidente, de atentado.
Segundo o delegado, a morte de Teori é
“o prenúncio do fim de uma era”. Para ele, o ministro “lavou a alma do
STF à frente da Lava Jato”. [o delegado conseguiu ter seus quinze minutos de fama - poucos sabiam o seu nome e agora, falando demais, conseguiu se tornar conhecido.]
Inaceitável
Policiais investigam, não fazem conjecturas conspiratórias. O delegado não tem ainda nenhum elemento que justifique a sua hipótese, nada! Quando alguém com a sua influência e importância chama um acidente (e, por enquanto, é apenas isso) de “acidente”, está, é claro!, sugerindo uma conspiração, que ele liga, é inevitável constatar, aos descontentes com a delação da Odebrecht.
Policiais investigam, não fazem conjecturas conspiratórias. O delegado não tem ainda nenhum elemento que justifique a sua hipótese, nada! Quando alguém com a sua influência e importância chama um acidente (e, por enquanto, é apenas isso) de “acidente”, está, é claro!, sugerindo uma conspiração, que ele liga, é inevitável constatar, aos descontentes com a delação da Odebrecht.
Anselmo está tão convencido da
conspiração que chama a morte de “prenúncio do fim de uma era”. É mesmo?
Prenúncio, segundo o Houaiss, é “aquilo que precede e anuncia, por
indícios, um acontecimento”.
De que acontecimento tem ciência o
doutor que nós, os mortais comuns, ignoramos? Estaria ele anunciando,
sei lá, o desmantelamento da operação?
Tem de se desculpar
Delegados da Polícia Federal investigam, não especulam. É justo que se pergunte se Anselmo é do tipo que só busca na realidade aquilo que ele julga já saber ou se ainda é do tipo que se deixa surpreender pelos fatos.
Delegados da Polícia Federal investigam, não especulam. É justo que se pergunte se Anselmo é do tipo que só busca na realidade aquilo que ele julga já saber ou se ainda é do tipo que se deixa surpreender pelos fatos.
Ele deveria retirar o seu post e se
desculpar. Comentando o texto, destacou que se trata de uma análise
pessoal. Bem, toda análise é, em certa medida, “pessoal”. Ocorre que
certas “pessoalidades” podem comprometer seriamente a vida de terceiros. De resto, sejamos claros e objetivos: em temas de natureza pública, uma autoridade nunca emite uma “opinião pessoal”.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo