Aneurismas, mesmo quando no cérebro, como o que tive, não fazem escolhas morais, comportamentais, éticas, estéticas, nada!
O aneurisma não existe para livrar
ninguém de suas culpas, responsabilidades, tarefas. Aneurismas, mesmo
quando no cérebro, como o que tive, com cirurgia feita no dia 28 de
dezembro passado, não fazem escolhas morais, comportamentais, éticas,
estéticas, nada… A gente faz essas coisas. Com outras partes do cérebro.
Por que isso? O ex-deputado Eduardo
Cunha teve uma audiência nesta terça com o juiz Sergio Moro. Leu uma
carta para o magistrado. No texto, diz ele “sofrer do mesmo mal que
acometeu a ex-primeira-dama Marisa Letícia, um aneurisma cerebral”. E
aproveitou para “prestar solidariedade à família pelo passamento”.
Quero me ater, por enquanto, a este
aspecto: a formação aneurismal. O fato de um trem desse ter aparecido no
meu cérebro não me faz um especialista. Mas eu andei lendo coisas a
respeito. Vamos ver. Aneurismas cerebrais são sempre graves. O
risco evidente é o de rompimento. Marisa Letícia sabia ser portadora de
um. Por alguma razão, não se fez procedimento nenhum. Quando os exames
me informaram do meu, os médicos disseram tudo com clareza: em caso de
rompimento — possível porque eu havia tido três dores sentinelas (de
advertência) —, a morte imediata atinge 40% das vítimas; outras tantas
terão severíssimas e gravíssimas limitações físicas; o percentual
restante fica reservado a vários tipos de sequela.
Dadas as modernas técnicas, a
intervenção quase sempre é um procedimento recomendável: ou a clipagem,
que se faz com uma fissura no crânio, ou a embolização, por cateter —
como fiz. Tais procedimentos costumam ser bem-sucedidos, mas são de alto
risco. Até onde acompanho, leigo como sou, o risco maior é ficar com o
aneurisma — e, infelizmente, dona Marisa Letícia, mulher do
ex-presidente Lula, é um exemplo.
Só se constata o aneurisma com exames de
imagem das artérias cerebrais. Não consta que Cunha tenha se submetido a
um depois de preso. A ser verdadeira a sua informação, ele já tinha o
mal antes de ir para a cadeia. Mas, se está lá e se ele se encontra sob a
guarda do estado, é preciso decidir o que fazer. E isso caberá aos
médicos. Eu vivo o período pós-cirúrgico (ou
pós-embolização). Não é irrelevante. A cabeça dói. As tais “molas” de
platina (minúsculas!!!) que ocupam o lugar do aneurisma são irritativas.
Com o tempo, a dor se vai. Já posso levar uma vida normal. E, de
preferência, abandonando alguns hábitos antigos. O mais difícil tem sido
deixar o cigarro. Mas não vou desistir.
Cunha está no Complexo Médico de
Pinhais. Reclamou das condições: “O presídio onde ficamos não tem a
menor condição de atendimento se alguém passar mal. São várias as noites
em que presos gritam, sem sucesso, por atendimento médico, e não são
ouvidos pelos poucos agentes que lá ficam à noite”. Bem, certamente inexiste, no Brasil e
mesmo no mundo mais desenvolvido, um presídio que consiga atender às
necessidades de alguém com aneurisma. Se Cunha não está sendo submetido a
tratamento degradante — ainda que bom não seja —, não há razão para
inferir que corra risco adicional.
O risco que há, e não sei o grau, está
mesmo ligado à existência do aneurisma. Será preciso que médicos, com
independência, façam uma avaliação técnica. Se for o caso de uma
cirurgia, de crânio aberto ou fechado, que ela seja feita. E depois ele
volta novo, ao menos em relação a esse mal, para a cadeia. Em suma, havendo aneurisma, é preciso
fazer a devida intervenção. Ele não existe nem para absolver nem para
redimir ninguém. Ainda volto ao deputado em outro post.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo