Lula é vigiado por uma equipe
de segurança exclusiva. São oito policiais que se revezam de dois em dois em
plantões de 24 horas
No
dia 14 de novembro de 2014 a Operação Lava Jato deu um salto em
importância ao prender empreiteiros, lobistas, advogados, executivos e
operadores financeiros.
As
seis pequenas celas da carceragem da sede da Polícia Federal em
Curitiba ficaram superlotadas com mais de 20 presos endinheirados,
misturados a criminosos comuns que ali estavam por se envolver com
tráfico de drogas, contrabando e estelionato.
O
fluxo de visitantes e advogados na sede da PF aumentou
significativamente desde então. Mas nada comparado com o que aconteceria
a partir de 7 de abril de 2018, quando a rotina da PF e da vizinhança
seria alterada radicalmente. Lula
está preso há um ano e quatro meses após condenação em segunda
instância na Lava Jato, acusado de aceitar a promessa de um tríplex em
Guarujá como propina em troca de contratos da empreiteira OAS com a
Petrobras. Um
esquema especial foi montado para acomodar o ex-presidente no 4º andar
do prédio. O local foi isolado e um aposento com banheiro foi adaptado
para atender as exigências de uma sala de Estado-maior, benefício
concedido pelo então juiz federal Sergio Moro a Lula "em atenção à
dignidade do cargo que ocupou".
A
cela onde vive o ex-presidente mede 15 metros quadrados e antes era
usada como quarto de descanso de policiais em viagem a Curitiba. Ali
Lula tem à disposição armário, aparelho de TV, rádio e esteira
ergométrica, onde faz caminhadas matinais.
Um
isopor é usado para armazenar alimentos como presunto, queijo, sucos e
frutas. No corredor, um pequeno frigobar fica a disposição tanto de Lula
quanto dos policiais que o escoltam. Sozinho
no último andar do prédio, Lula é vigiado por uma equipe de segurança
exclusiva. São oito policiais requisitados de outras unidades da Polícia
Federal e que se revezam de dois em dois em plantões de 24 horas por 72
horas de descanso. A
cada 30 dias a equipe muda, o que impede que algum deles crie
intimidade excessiva com o petista. Os agentes federais ficam de guarda
no corredor, enquanto Lula, na maior parte do dia, está fechado no seu
quarto.
O normal é que ele passe cerca de 22 horas do dia sem contato com alguém.
Às
segundas, terças, quartas e sextas-feiras, o ex-presidente recebe duas
vezes por dia em sua cela a visita de seus advogados --uma hora durante a
manhã e uma hora à tarde. Os presos comuns, na carceragem da PF,
encontram seus advogados no parlatório. Nas
quintas-feiras o ex-presidente recebe familiares. Permanece com eles do
começo da manhã até o meio da tarde. Nas duas horas do final do dia ele
recebe amigos. Os
admiradores também demandam atenção dos funcionários e policiais
federais. Não é raro que pessoas se apresentem na recepção da PF pedindo
para enviar presentes e cartas para Lula. Recepcionistas e agentes
gastam tempo explicando que o ex-presidente não pode receber agrados,
sobretudo objetos como vasos de vidro, materiais com pontas cortantes e
até bebidas alcoólicas.
Lula
vai para o banho de sol em uma área antes usada como fumódromo. Nessas
horas é preciso esvaziar o corredor para que o ex-presidente se desloque
do 4º para o 3º andar. Ele desce uma escada, já que não há elevador
entre esses andares. Há
preocupação especial com a imagem de Lula. Antes de ele entrar no
espaço do banho de sol, um agente verifica se não há drones ou
helicópteros sobrevoando o espaço com câmeras. Em
nenhum momento Lula encontra outros presos, seja os da Lava Jato ou
prisioneiros acusados de outros crimes. Eles tomam banho de sol num
pátio que fica do lado da carceragem, no 1º andar.
Responsável
pela solicitação de transferência de Lula para outra unidade prisional,
o superintendente da PF no Paraná, Luciano Flores, argumenta no
documento que após a prisão do ex-presidente "diversas pessoas passaram a
se aglomerar no entorno da Sede da Polícia Federal; que a presença de
grupos antagônicos passou a demandar atuação permanente dos órgãos de
segurança de forma a evitar confrontos, garantir a segurança dos
cidadãos e das instalações; que toda a região teve sua rotina alterada". Antes
mesmo de Lula chegar ao Paraná já havia militantes contra e a favor do
presidente no entorno da sede da PF esperando sua chegada. Os apoiadores
do petista montaram um acampamento num terreno baldio distante algumas
quadras. Depois, alugaram um espaço bem em frente ao prédio e lá
permanecem.
Em
episódios em que se enxergou a possibilidade de Lula ser colocado em
liberdade, como numa decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal
Marco Aurélio Mello que, em dezembro de 2018, determinou que presos
cumprindo pena antecipada por condenação em segunda instância fossem
soltos, o entorno da PF foi tomado por manifestantes contra Lula. Em dias de protesto a segurança é reforçada e os grupos de apoiadores e opositores do petista são separados. A decisão de Marco Aurélio foi derrubada pelo presidente do STF, Dias Toffoli, e o dia terminou sem incidentes.
O PT mantém em Curitiba uma estrutura para dar apoio a Lula, que é presidente de honra do partido. Desde
o dia da prisão está na cidade o cientista social Marco Aurélio
Ribeiro, que cuida da agenda do ex-presidente há cinco anos. Ribeiro é
responsável por organizar a correspondência de Lula com os familiares,
amigos, militantes e líderes de movimentos sociais. Ele
recebe e-mails e cartas enviadas para Lula, organiza tudo e depois envia
ao ex-presidente por meio do advogado que visita o petista. Na
saída, pega com o defensor as respostas de Lula e envia para os
destinatários. Ele também mantém o petista informado fazendo uma
compilação de notícias de jornais, sites, revistas e artigos de opinião. [Lula já foi flagrado lendo jornais de cabeça para baixo - os jornais.]
Demandas
do cotidiano do ex-presidente, como roupas, material de higiene
pessoal, toalhas e roupa de cama, ficam a cargo dos seguranças de Lula. A
equipe é formada por oito militares do Gabinete de Segurança
Institucional, uma prerrogativa para todo ex-presidente da República.
Dois desses militares estão sempre em Curitiba para fornecer o que Lula
precisar. [só no Brasil acontece um absurdo desse: um bandido cumprindo uma condenação e outra já pronta para emendar e mais oito processos - que vão gerar novas condenações - ter assessores;
queriam liberar até motorista para o presidiário, é que alguém lembrou que bandido quando sai da cadeia para prestar depoimento é transportado em viatura policial. ]