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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Perigo lá fora? - Resumo da Nova Ética

Guilherme Fiuza

Tem um perigo lá fora e todos devem ficar em casa. Quem sair coloca não só sua própria vida em risco, mas também – e principalmente – a dos outros, porque o perigo é contagioso
 
O perigo está no mundo todo, então a solução é simples, porque é a mesma para todas as pessoas em todos os lugares: não circule
Uma pessoa andando sozinha ao ar livre é um ser incompreensivo, insensível e abjeto.
O herege moderno. Deve ser imediatamente detida e recolhida exemplarmente, com a energia necessária, e o mundo aprenderá a ver uma mulher sozinha algemada e arrastada por vários homens armados como uma imagem redentora, um emblema da salvação, um manifesto humanista. A coletividade quando resolve ser ética e levar sua empatia até as últimas consequências ninguém segura. É o maior espetáculo da Terra. E aqueles ali, circulando amontoados?  
 
Olha! Tem mais ali! Lá também! Pra cima deles! Pega! Prende! Esfola! Não? Por que, não? Eles não estão colocando vidas em risco? Ah, eles estão indo trabalhar para servir aos empáticos que estão fazendo o distanciamento social perfeito em suas residências espaçosas, coberturas e sítios? Ufa. Então pode, né?
 
Claro. Para podermos parar o mundo com segurança é preciso abastecer os que estão parados, senão eles morrem de fome e não poderão nem tirar foto do seu isolamento ético. Fica resolvido assim: fotografamos as mais lindas quarentenas (a da Lady Gaga ficou sensacional) e não fotografamos a muvuca nos ônibus, para não confundir o público e não prejudicar a mensagem da nova ciência sanitária. 
É muito importante que ninguém se confunda. Com o pessoal das belas quarentenas bem abastecido pelo pessoal dos ônibus e dos trens fica tudo bem e ninguém morre de fome. 
E os que não trabalham em casa de rico e precisam buscar informalmente a sua sobrevivência a cada dia nas ruas? 
Aí a mensagem da nova ciência é clara: quem mandou ser informal? Agora aguenta. Mas isso não é desumano?
 
Segundo a nova ciência, desumano é caminhar na praia. Fica assim: o governo (você) se endivida para dar dinheiro de graça para uma parte desses informais e o resto fica aglomerado nas periferias esperando que a sorte lhes caia do céu, porque na nova agenda de higienização social não tem lugar para gente desorganizada. 
Por falar em higiene, além do distanciamento profilático você vai inocular uma substância que te protege do perigo. Protege você e os outros. Ou, mais exatamente, protege os outros de você. Quem não se inocular está colocando vidas em risco. Lembra dessa parte? Então não se esqueça nunca mais dela.

Este será para sempre o chamado irrecusável de todas as medidas que a nova ética te mandará tomar e você obedecerá, porque é um cidadão consciente, empático e moderno. Mas considerando-se que o perigo não se revelou fatal para a imensa maioria das pessoas, não seria suficiente os que forem vulneráveis ou que assim desejarem se protegerem com a substância inoculável e tocarem todos a vida em frente? Não. Os não-inoculados são um perigo para os inoculados. Mas a substância não protege os inoculados contra o perigo? Claro que protege, mas na dúvida melhor não arriscar. Dúvida? Que dúvida?

Apareceram inoculados infectados.
Ok, mas se o inoculado pode se infectar, consequentemente pode transmitir, por que determinar a inoculação de todos? Cala a boca e dá o braço. Ok. Mas é seguro mesmo, né? É. E as pessoas jovens e saudáveis que tiveram reações graves e eventualmente letais exatamente após se inocularem?

Provavelmente foi coincidência, devia ser a hora delas. A hora de todos um dia chega. Ah, ok. E como foi possível atestar a segurança sem o tempo de observação que todas as outras substâncias imunizantes na história demandaram? Muita grana. Hein? Isso mesmo que você ouviu: dessa vez tinha muito dinheiro envolvido, e os caras são bons demais, entende? Os caras são feras. Eu vi numa palestra do Bill Gates que... Ok. Não precisa continuar. Já entendi. Viva a ciência e a ética.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 19 de março de 2020

Sem clientes e boates vazias: o coronavírus abala a prostituição de luxo - Blog Gente - VEJA

O relógio marca 21h30 de quarta, 18, na boate Bahamas, a famosa casa frequentada por prostitutas de luxo em São Paulo, quando logo na entrada se vê uma recepcionista resignada ao ser perguntada sobre o número de profissionais do sexo trabalhando naquele momento na casa: dezesseis. Em época pré-coronavírus, esse número nunca era inferior a sessenta. Em alguns dias, chegava a 100. Ao entrar pela porta de vidro que dá acesso ao lounge do andar térreo, constata-se semblantes de desolação. Mulheres vestidas de lingerie cavadas conversando entre si e mexendo no cabelo. Elas estão sem ter com quem interagir. A pista de dança com um pufe que imita salto alto está vazia. Duas discoballs giram solitárias, sem a presença de ninguém por perto.

Há apenas quatro clientes em toda a casa, que tem área de 1.740 metros quadrados. Um deles joga sinuca com uma loira, outro circula de roupão entre as mesas e dois amigos dão baforadas em cigarro eletrônico no fumódromo. “Estamos desesperadas”, diz Cecília, de 25 anos. Mineira de Belo Horizonte, Cecília diz estar preocupada com as contas que não deixarão de chegar. “Ainda mais porque passei o Carnaval em Ilhabela e fui em bazar de roupas de blogueiras, não guardei dinheiro nas últimas semanas.”

Pista de dança do Bahamas: sem uma alma viva João Batista Jr./VEJA

Ela cobra entre 400 e 500 reais pelo programa – mas não descarta reduzir o valor caso a demanda por seus serviços continue em baixa. No subsolo do Bahamas, onde há um enorme bar, além de vestiário e banheiro coletivo, não há uma mísera alma. O bar de lá, aliás, está desativado, mantendo o atendimento de comidas e bebidas apenas no térreo. Se antes a regra era a profissional aguardar um contato visual do potencial cliente para se aproximar, a crise causada pelo coronavírus fez o approach, digamos assim, ser mais direto — como invadir o banheiro masculino quando um homem entra no local. Duas garotas de programa contam que a casa de Oscar Maroni Filho adotou algumas medidas para evitar a contaminação de coronavírus. Se elas estiverem com febre ou tosse, não podem aparecer para dar expediente.

Há apenas um frasco de álcool em gel em cima do bar. “Atender por aplicativo me irrita, mas talvez seja uma solução diante desses problemas de saúde”, diz uma morena de 23 anos usando um maiô recortado mostrando a barriga tanquinho.
Por volta das 23h, um rapaz de cerca de 27 anos chega ao local. As duas TVs exibiam clipe de Bad Romance, de Lady Gaga. De barba, calça cáqui e camisa polo da Lacoste preta, ele chamou a atenção de Cecília – imediatamente, ela levantou-se para conversar. Terminada as tratativas, ele comprou um vinho branco Crios e os dois subiram para o quarto, que fica no “hotel colado ao Bahamas.”

Em VEJA, MATÉRIA COMPLETA


domingo, 3 de março de 2019

Obedece quem tem juízo

É da natureza da cadeia de comando que os superiores autorizem ou desautorizem seus subordinados. Novidade seria o contrário. No governo Bolsonaro, aliás, isso já aconteceu, mas foi logo no começo, quando o presidente disse uma coisa e o sub do sub do sub o desmentiu dizendo que ele se equivocara. Assim, a decisão de Bolsonaro sobre Ilona Szabó, que foi desconvidada para um cargo no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, não seria mais do que um simples constrangimento se o desautorizado não fosse Sergio Moro. Afinal, trata-se do ex-juiz ícone da Lava-Jato que havia recebido uma carta branca do presidente.
O problema não é Ilona, uma das mais importantes e renomadas especialistas em segurança no Brasil, referência internacional no setor. Sua presença daria prestígio e engrandeceria intelectualmente qualquer conselho. [não se pode olvidar que a cientista seria tentada a se valer do seu cargo para sabotar as atividades do conselho que integraria; é público e notório sua repulsa a muitos dos porjetos anticrime desenvolvido em andamento no governo Bolsonaro, muitos deles diretamente ligados  a Sérgio Moro.
 
O vacilo foi todo do ministro a convidar uma 'inimiga', com potencial para ser uma sabotadora, para a sua equipe- e em um democracia - esquecendo que  no Brasil vivemos no 'estado democrático de direito' e muitos ainda cultuam o maldito 'politicamente correto' e as nefastas políticas de valorizar a 'diversidade ' e a 'ideologia de gênero'.] O problema não é, tampouco, a natureza da atividade para a qual Ilona foi convidada e depois desconvidada. O problema é Sergio Moro. Embora seja um ministro acima da média no governo, Moro não pode tudo. Enganou-se quem pensava que ele seria um ministro que jamais seria demitido em razão do imenso poder e popularidade que reunia. Enganou-se o próprio Sergio Moro.
O ministro, está claro agora, pode muito bem ser demitido. A qualquer hora. Pito público ele já tomou. Para sair, basta pisar na bola com mais empenho. Do ponto de vista de Bolsonaro, Moro errou feio ao convidar Ilona para o conselho. Faz todo sentido, não se pode negar coerência a Bolsonaro, Ilona pensa exatamente o contrário do presidente sobre soluções para a segurança pública. Moro não sabia disso? Difícil acreditar que não sabia. Se de fato sabia e mesmo assim a convidou, quis testar o chefe. Se deu mal.

O apetite de Sergio Moro pelo poder estaciona-se alguns degraus acima do de Carlos Bolsonaro, o filho que demitiu o primeiro ministro do seu pai. Soube-se nos últimos dias que o ministro está trabalhando para fazer o substituto de Raquel Dodge na Procuradoria-Geral da República. Como já detém enorme poder investigativo, com a Polícia Federal e o Coaf sob seus domínios, se fizer o Ministério Público, Moro fecha a tríplice coroa e passa a ser dono de todo o arsenal de investigação federal disponível.
Não é pouca coisa. Parece movimento de quem tem planos políticos importantes. Moro sabe que o terreno é pantanoso e caminha olhando para o chão. Foi assim que cedeu ao Congresso e separou o crime de caixa dois do pacote anticrime que havia apresentado para deliberação legislativa. Suas palavras são normalmente bem medidas e equilibradas. Sempre respeitoso com todos, sobretudo com “o senhor presidente Jair Bolsonaro”. Por isso,o convite a Ilona surpreendeu.
Mesmo os que concordam com Ilona sabiam que o convite encerrava um enorme risco. Imediatamente após sua formulação, o festival de ataques a Moro e à própria Ilona infestaram as redes sociais. E esta foi outra ingenuidade de Moro. Não perceber que o convite geraria essa enorme confusão nas redes, aquelas que Lady Gaga chama de “privadas da internet”, e que obviamente culminaria na irritação de Bolsonaro, na bronca que levou e no constrangimento de se ver obrigado a retirar um convite formulado.
Moro não é o presidente da República. Tampouco faz parte da equipe que formulou o programa para o governo. Ele é uma pessoa escolhida para executar parte desse programa. Parte importante, é bom que se diga. Com o imenso prestígio obtido na Lava-Jato, Moro teria, e tem, com certeza, mais facilidade para enfrentar os desafios que o projeto anticrime encontrará pela frente. Mas será sempre um executor. Quem manda é o chefe. E obedece quem tem juízo.
 

Ascânio Seleme - O Globo