Em três
meses de governo, Jair Bolsonaro ofereceu muito pouco aos brasileiros em
matéria de discernimento. Eis que, de repente, numa entrevista do tipo
quebra-queixo, dessas em que os repórteres enfiam gravadores e microfones na
goela do entrevistado, baixou sobre o presidente uma revelação do óbvio.
Bolsonaro reconheceu diante das câmeras que há "problemas" no
Ministério da Educação.
Embora
fale em "problemas", assim, no plural, a encrenca é singular. Atende
pelo nome de Ricardo Vélez. "Ele é novo no assunto", disse Bolsonaro
sobre o ministro da Educação, "não tem tato político, vou conversar com
ele." Na noite da véspera, Bolsonaro havia desmentido no Twitter uma
notícia sobre a demissão do ministro. Na entrevista, disse que o Ministério da
Educação "tem que dar certo", pois é "um dos mais importantes"
da Esplanada.
Eis aqui
um paradoxo desconcertante: Bolsonaro nomeou para "um dos ministérios mais
importantes" um sujeito que ele considera "novo no assunto". E
não foi por falta de alternativa. Havia na praça gente com experiência e
qualificação. Mas essa gente não tinha o aval do autoproclamado filósofo Olavo
de Carvalho, o guru de Bolsonaro. Vélez produziu no ministério apenas fumaça
ideológica. Afastaram-se 16 assessores recém-nomeados. Se houvesse um caos
semelhante no Ministério da Economia, o país viria abaixo. Mas o MEC só é
prioridade no gogó. Num país como o Brasil, onde 2,8 milhões de seres de 4 a 17
anos estão fora da escola, onde apenas 9% dos estudantes terminam o ensino médio
com um aprendizado adequado em
matemática, onde três em cada dez pessoas convivem com o analfabetismo
funcional… num Brasil assim, a permanência de Vélez no MEC é um crime de
lesa-educação.
Blog do Josias de Souza