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sábado, 27 de junho de 2020

O professor que queria ser doutor e virou ministro de Bolsonaro - VEJA - Blog do Noblat

Ricardo Noblat

O currículo encolheu

O ex-oficial da Marinha e professor de finanças Carlos Alberto Decotelli foi escolhido para ministro da Educação porque, entre os candidatos ao cargo, ele era o que tinha o currículo mais longo, segundo o presidente Jair Bolsonaro. Não deve ter sido só por isso. Pesou o apoio dos militares a Decotelli. E também a sua cor. Será o primeiro ministro preto do governo. De todo modo, o currículo do ministro ficou mais curto menos de 24 horas depois do anúncio.

Constava na plataforma CNPq Lattes que Decotelli era doutor pela Faculdade de Ciências Econômicas e Estatística da respeitável Universidade Nacional de Rosário, na Argentina. Fraude! Ele concluiu o curso, mas não foi aprovado. Descoberto, o ministro admitiu que concluíra o curso, mas que não defendera tese, exigência essencial para que pudesse se apresentar como doutor. Fraude! Em entrevista ao Jornal Nacional, o reitor confirmou que ele defendeu tese, mas que ela obteve notas baixas.

Estava escrito no currículo de Decotelli que o orientador de sua tese fora o professor Antônio Freitas Júnior, da Fundação Getúlio Vargas, e presidente do Conselho Nacional de Educação. Fraude! Freitas nunca pertenceu aos quadros da universidade.Por lá, não há registro da passagem de Freitas Junior, nem como professor permanente ou visitante, nem como membro de banca examinadora. Provocado a se pronunciar a respeito do assunto, o professor preferiu manter-se calado.

Não está sendo um bom começo para Decotelli como ministro da Educação. Ele não é a primeira figura pública a falsificar parte do seu currículo. A ex-presidente Dilma Rousseff se dizia pós-graduada em Economia pela Universidade de Campinas. Fraude! A joia da coroa no currículo do governador Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, era ter feito parte do seu doutorado na Universidade de Harvard, uma das mais importantes dos Estados Unidos. Fraude! Que Witzel preferiu chamar simplesmente de erro.

A sorte de Decotelli é que ele substituirá as duas maiores nulidades que já ostentaram na história deste país o título de Ministro da Educação – Ricardo Vélez e Abraham Weintraub, que fugiu para os Estados Unidos com medo de ser preso. Difícil que Decotelli possa ser pior do que os dois. O risco que corre é de ser melhor do que supõe Bolsonaro e se tornar popular a ponto de incomodá-lo. Foi por isso, mas não só, que o médico Luiz Henrique Mandetta acabou demitido do Ministério da Saúde.

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA

sexta-feira, 29 de março de 2019

Vélez no MEC virou um crime de lesa-educação



Em três meses de governo, Jair Bolsonaro ofereceu muito pouco aos brasileiros em matéria de discernimento. Eis que, de repente, numa entrevista do tipo quebra-queixo, dessas em que os repórteres enfiam gravadores e microfones na goela do entrevistado, baixou sobre o presidente uma revelação do óbvio. Bolsonaro reconheceu diante das câmeras que há "problemas" no Ministério da Educação.

Embora fale em "problemas", assim, no plural, a encrenca é singular. Atende pelo nome de Ricardo Vélez. "Ele é novo no assunto", disse Bolsonaro sobre o ministro da Educação, "não tem tato político, vou conversar com ele."  Na noite da véspera, Bolsonaro havia desmentido no Twitter uma notícia sobre a demissão do ministro. Na entrevista, disse que o Ministério da Educação "tem que dar certo", pois é "um dos mais importantes" da Esplanada.

Eis aqui um paradoxo desconcertante: Bolsonaro nomeou para "um dos ministérios mais importantes" um sujeito que ele considera "novo no assunto". E não foi por falta de alternativa. Havia na praça gente com experiência e qualificação. Mas essa gente não tinha o aval do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro. Vélez produziu no ministério apenas fumaça ideológica. Afastaram-se 16 assessores recém-nomeados. Se houvesse um caos semelhante no Ministério da Economia, o país viria abaixo. Mas o MEC só é prioridade no gogó. Num país como o Brasil, onde 2,8 milhões de seres de 4 a 17 anos estão fora da escola, onde apenas 9% dos estudantes terminam o ensino médio  com um aprendizado adequado em matemática, onde três em cada dez pessoas convivem com o analfabetismo funcional… num Brasil assim, a permanência de Vélez no MEC é um crime de lesa-educação.

Blog do Josias de Souza





segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Medo da Ursal

O assunto é sério: o misticismo está no poder

O Brasil já temeu a mula sem cabeça, o boitatá, a cuca, o corpo-seco, a iara e o curupira. Hoje, teme a Ursal. Os medos antigos assombravam o universo rural de caipiras e caboclos. O medo atual assombra o novo governo que, para dormir em paz, entregou dois ministérios estratégicos a apóstolos do Bruxo da Virgínia, um astrólogo repaginado como filósofo místico. Daqui em diante, a superstição norteará nossas políticas externa e educacional. Não adianta dizer que a Ursal não existe, pois ela existe na mente dos que nos governarão.

A Ursal, União das Repúblicas Socialistas da América Latina, ganhou popularidade pela voz do Cabo Daciolo. A evocação da sigla exprime a crença de que uma conspiração comunista internacional ameaça a pátria brasileira. O Bruxo da Virgínia e seus evangelistas compartilham o credo de Daciolo, mas o vestem em peças de estilistas. Na linguagem arcana que preferem, a conspiração é conduzida por uma liga constituída por “liberais globalistas” e “marxistas”. Armados com as teses de Antonio Gramsci, os maléficos conspiradores apropriam-se silenciosamente tanto das chaves do poder quanto das mentes dos indivíduos por meio de uma prolongada guerra cultural. É Ursal, em versão de butique. [A Ursal é bem mais antiga do que o Cabo Daciolo - na verdade foi criada pelo Foro de São Paulo, famigerada organização esquerdista fundada por Lula e Fidel Castro e que pretendia transformar a América Latina em 'substituta' da extinta URSS;
o nome UNASUL foi escolhido para dar uma aparência 'inocente'  - o comunismo, a esquerda, são tão nojentas que sempre procuram camuflar seus planos de expansão com nomes inocentes, limpos.


De acordo com as superstições do Bruxo da Virgínia, a China lidera o tentáculo marxista da conspiração mundial. Ernesto Araújo, futuro ministro das Relações Exteriores, dá indícios de que submeterá as relações com a China ao “Deus de Trump”, engajando o Brasil na guerra comercial deflagrada pelos EUA. O medo da Ursal ameaça degradar uma de nossas principais parcerias econômicas, fonte de quase um terço do superávit brasileiro no comércio exterior e de vultosos investimentos externos diretos.

Segundo as crendices do Bruxo da Virgínia, a escola funciona como palco de uma doutrinação dos jovens destinada a destruir a família e a religião. Ricardo Vélez, futuro ministro da Educação, declara que enfrentará o perigo por meio do projeto de lei Escola Sem Partido — ou seja, pelo uso do poder público como polícia pedagógica destinada a perseguir professores “desviantes”. O medo da Ursal ameaça bloquear os caminhos para a reforma e qualificação da educação no Brasil. No lugar dessa tarefa inadiável, o Estado anuncia uma estratégia de “contrainsurgência cultural” nas escolas.

As teocracias medievais e os regimes totalitários do século passado imaginavam-se como representações de uma verdade suprema, oriunda de Deus, do Destino Nacional ou da História. A separação entre Estado e Igreja (isto é, a laicidade estatal) e a separação entre Estado e partido (isto é, o princípio do pluralismo político) formam dois pilares estruturais dos sistemas democráticos. [lembrem que  Churchill dizia que a 'democracia é o pior sistema de Governo', mas, não há nenhum melhor que ela'; 
sendo o pior sistema tem muitos defeitos, sendo um deles a separação entre Estado e Igreja, que abre caminho para a institucionalização do ateísmo como 'religião' do Estado, situação esta que abre caminho para a destruição de todos os valores, começando pela religião e família.] Nas democracias, o Estado administra as coisas, não as mentes. Os dois ministérios ocupados por acólitos do Bruxo da Virgínia ambicionam administrar as mentes, libertando-as das forças alienígenas da Ursal. Há fortes doses de ridículo nisso, mas o assunto é sério: o misticismo está no poder.

Um paralelo apropriado é com a Arábia Saudita. O reino nasceu de uma longa jihad (“guerra santa”) empreendida pela aliança do clã guerreiro dos Saud com a seita islâmica puritana Wahab. Na base da monarquia saudita, encontra-se o pacto original entre esses componentes, que se exprime pela entrega dos ministérios da Educação e das Comunicações à facção religiosa. A seita liderada pelo Bruxo da Virgínia ocupa, no governo Bolsonaro, um lugar semelhante ao dos wahabitas no reino dos Saud. A diferença é que sua doutrina não repousa sobre a leitura literal de um livro sagrado, mas sobre crendices cozidas no forno de uma espécie de ocultismo pós-moderno.

A “confluência entre História e Mito” alardeada por Ernesto Araújo, o combate sem trincheiras à “revolução cultural gramsciana” pregado por Ricardo Vélez são piadas que saltaram de túneis escuros das redes sociais para o aparelho de Estado. Uma festa estranha, com gente esquisita — nisso transformaram-se o Itamaraty e o Ministério da Educação. A Ursal passeia entre nós. Deus não é brasileiro.

Demétrio Magnoli - O Globo