A grave doença ainda afeta 23 milhões no mundo
A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa, na qual o coração é incapaz de bombear sangue para atender às necessidades dos tecidos. Esta síndrome pode ser causada por alterações estruturais ou funcionais do coração, sendo que a maioria dos pacientes apresenta a queixa de cansaço e edema (inchaço). Esta doença repercute intensamente em perda da qualidade de vida, necessidade de internações e morte.
A função cardíaca é mensurada quantitativamente por meio de um critério chamado fração de ejeção e a IC pode ocorrer com fração de ejeção preservada ou reduzida. No tratamento da IC com fração de ejeção reduzida existem, há décadas, medicamentos que trazem melhora da qualidade de vida e reduzem internações e morte. Os primeiros medicamentos com estes benefícios foram os inibidores da enzima conversora da angiotensina, bloqueadores dos receptores da angiotensina II e betabloqueadores, que reduziram em 19 a 31% eventos e morte.
A despeito destes benefícios do tratamento medicamentoso atual, a IC mantém-se como uma doença grave, afetando no mundo mais de 23 milhões de pessoas. A sobrevida, após 5 anos de diagnóstico, pode ser de apenas 35%, podendo chegar a 17,4%, em pacientes com idade maior a 85 anos. Conforme as características e gravidade da apresentação do paciente, estima-se que até 80% dos homens e 70% das mulheres morram em 8 anos. Dados da população americana publicados em 2020 indicam mortalidade 22%, após um ano, e de 42%, após 5 anos de uma hospitalização por IC. No Brasil, é uma das principais causas de morte e é a primeira responsável por internação em pacientes com mais de 65 anos.
Nos últimos 5 anos, somou-se a este tratamento acima descrito, considerado padrão, a associação dos inibidores dos receptores da angiotensina a uma nova classe de medicamento, os inibidores da neprilisina, o que mostrou uma redução de 16% em mortalidade por qualquer causa, 20% na redução da morte cardiovascular e de 21% na hospitalização por IC.
Ainda na última década, durante o desenvolvimento de novos medicamentos antidiabéticos, os estudos realizados para avaliar a segurança em pacientes com doença cardíaca mostraram ser seguros em cardiopatas, e além, trazendo proteção cardiovascular adicional aos pacientes. Nos anos de 2019 e 2020, foram apresentados estudos com antidiabéticos da classe dos inibidores da SGT2 (dapaglifozina e empaglifozina) que reduziram em 26% o risco de morte cardiovascular e piora da IC, tanto em pacientes diabéticos como não diabéticos.
Esta é uma nova revolução no tratamento medicamentoso da IC e soma-se aos esforços para melhorar a qualidade de vida e sobrevida dos pacientes cardiopatas.
Letra de Médico - Revista VEJA
Por:João Fernando Monteiro Presidente Sociedade Cardiologia do Estado de S. Paulo