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sexta-feira, 24 de julho de 2015

A redução dos objetivos a atingir no reequilíbrio das finanças públicas estreita a margem de tolerância com o Planalto e Legislativo, num cenário de crise prolongada 

A primeira reação dos mercados à revisão para baixo das metas de superávit fiscal não foi amistosa. O dólar subiu mais de 2% e a Bolsa caiu 1%, reflexo de alguns sentimentos negativos diante do futuro, mais fortes, neste primeiro momento, do que análises serenas sobre a adequação das metas a contingências da realidade.  De um lado, os efeitos, na receita tributária, de uma recessão mais severa que a esperada e, de outro, um Congresso em surto demagógico, refratário ao ajuste fiscal, levaram o governo a reduzir o objetivo de 1,13% do PIB, deste ano, para apenas 0,15%; de 2% para 0,7% em 2016; e 1,3% no ano seguinte, em vez de 2%, sendo mantido este índice para 2018.

Ao mau humor de ontem creditem-se, entre outros fatores, preocupações com o espaço do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no governo — ele chegou a se opor à revisão — e com relação a reavaliações da nota de risco do Brasil por agências internacionais do ramo. Seguindo o senso comum, pode-se achar que o corte de metas é positivo para governo e políticos, por torná-las factíveis. Mais uma vez o senso comum está errado. Pelo contrário, a questão é bem outra, porque, com a redução das metas, também diminui a margem de tolerância política com o Planalto e Congresso. Como o período do ajuste ficou mais longo, a duração da crise tende a ser maior. Espera-se que não, mas a previsão é lógica.

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Além disso, se vier o rebaixamento da nota de risco do país por agências internacionais, algo de que, de fato, o Brasil ficou mais próximo com a frustração fiscal, o consequente agravamento da conjuntura degradará ainda mais o humor da população diante de Dilma e políticos. 

A piora na avaliação do risco de crédito do país tem impacto no câmbio, desvalorizando o real, gatilho de mais pressões inflacionárias. Isso, no momento em que o índice de inflação aponta para os dois dígitos. A perda de poder aquisitivo pela elevação do custo de vida é indutor infalível da má avaliação de governantes pela população. Acrescente-se que, se o tempo da crise for longo — porque o ajuste demorará a ser executado —, a irritação dos eleitores com Dilma e Congresso tende também a se estender pela eleição municipal do ano que vem, e com o risco crescente de se refletir em 2018. Continuar a boicotar o ajuste, portanto, não é o melhor conselho aos parlamentares, incluindo a oposição. Nem o Planalto deveria continuar fazendo cara de paisagem diante da necessidade gritante de cortes em gorduras escandalosas existentes num governo de 39 ministérios e 22 mil cargos de confiança, sempre ocupados por apaniguados políticos.

Pode parecer pouco na gastança pública, mas fazer economia nesta conta de custeio seria um gesto político positivo para uma presidente tão mal avaliada. E também um gesto de comprometimento com a solução dos problemas, numa fase em que o pessimismo tende a crescer.

Fonte - Editorial - O Globo