Justiça, política e fé
Confiar
na justiça e lutar por ela sempre fez parte de mim. Tenho orgulho de
poder ter servido, ao longo de 18 anos de minha carreira, como
procurador da República, uma função que sempre identifiquei como de amor
ao próximo, porque é isso que o Ministério Público faz: cuida das
pessoas garantindo o cumprimento da lei e da ordem, punindo a
criminalidade, combatendo a corrupção, protegendo o meio ambiente e os
direitos difusos e coletivos.
Esses
mesmos ministros têm, segundo a imprensa, interesse em emplacar
candidatos seus à próxima vaga no STF, após a aposentadoria da ministra
Rosa Weber. Dizem os jornalistas, ainda, que Gilmar Mendes está
especialmente empenhado em influenciar a sucessão de Augusto Aras na
PGR, e que Dias Toffoli tem tomado decisões absurdas contra a Lava Jato
movido por um desejo de fazer as pazes com Lula e o PT, após ele mesmo
ter destruído pontes com seus velhos amigos.
Num
cenário desses, em que Lula - justamente quem vai fazer as indicações
aos poderosíssimos cargos que são de interesse dos ministros - não
esconde que seu maior sonho é a vingança total e completa contra a Lava
Jato, é fácil de perceber que sobra pouco espaço para a Justiça, essa
coitada entidade pouco lembrada pelos supremos. Ela fica ali, nas
sombras do Plenário do STF, cegada, ensurdecida, emudecida, amarrada e
impotente, esmagada pelo tamanho das pretensões políticas e desejos
inconfessáveis por poder absoluto que permeiam o local.
Não
há como acreditar porque não há mais respeito à lei e à Constituição.
Não há mais Império da Lei e Estado Democrática de Direito. Por conta
disso, 35%
dos brasileiros acreditam que não é permitido afirmar que o STF
prejudica a democracia. Uma a cada quatro pessoas entende que não há
liberdade de opinião no Brasil, que deveria ser garantida pelo Supremo.
Além disso, 45% já sentiram medo de perseguição por criticar
autoridades. As pessoas já perceberam que, hoje, há apenas o
exercício puro e simples do poder e a manipulação da lei e das regras
conforme as conveniências políticas do momento, em que salvam-se os
amigos e aos inimigos sobra apenas a destruição.
Hoje,
como a maioria dos ministros me identifica como inimigo da corte, terei
apenas isso à minha espera lá - abuso, arbitrariedade, ilegalidade e,
ao fim, destruição. Isso no tribunal que deveria ser o primeiro a
defender impessoalidade, imparcialidade e império da lei. Um dos maiores
problemas é que os ministros que seguem a lei são os que têm menos
poder, justamente porque não estão dispostos a violar as regras para
beneficiar amigos e prejudicar adversários. Enquanto isso, vemos o poder
dos demais crescer assustadoramente.
E é por isso que vou continuar a lutar. As 344.917 mil vozes que foram caladas pelo TSE não serão caladas para sempre. A sua voz, leitor, também não será calada para sempre.