A
questão é como o país, atolado como está, poderá atravessar os próximos 40
meses com um governo tão fraco
Há três semanas houve quem achasse que a presidente
saíra das cordas. Mas o alívio durou
pouco. E a impressão que agora se tem
é de que o governo voltou a se debater, dia a dia, para não ser tragado pelo
vórtice formado pela interação da crise econômica com a crise política.
Parte
do alívio momentâneo sentido pelo Planalto adveio da constatação de que a elite
política do país ainda resiste à ideia do impeachment. Mas não é o apoio à presidente
que vem impedindo a formação de uma coalizão decisiva a favor do impeachment e,
sim, a falta de um consenso mínimo em torno do day after.
Por
enquanto, persistem visões divergentes
sobre a conveniência e a oportunidade do brusco rearranjo de forças políticas
que seria deflagrado pelo impeachment. Ainda há muita incerteza sobre quais dos
atores políticos relevantes sobreviverão à Operação Lava-Jato. E, também, desalento com a ingrata agenda que seria herdada pelo
sucessor da presidente Dilma, enquanto,
de mão beijada, o PT se livraria do imbróglio e, em boa hora, readquiriria
o privilégio de ser oposição.
Mas, se a solução do impeachment ainda esbarra
em tanta resistência, a preservação de Dilma no cargo também se afigura altamente
problemática. É difícil entrever como a presidente conseguirá
escapar do círculo vicioso que a vem arrastando para uma posição cada vez mais
vulnerável.
O agravamento da crise
econômica tem acentuado a fragilização da presidente. E frágil como está, o Planalto
só consegue dar respaldo a uma política econômica de pouco alcance, muito aquém
da que se faz necessária para superar o quadro de alta incerteza e paralisia de
decisões que o país enfrenta. Persistindo essa falta de perspectiva, não há
como evitar aprofundamento da crise econômica, fragilização adicional da
presidente e estreitamento ainda mais severo das possibilidades de condução da
política econômica.
O
pior é que esse círculo vicioso vem sendo reforçado por outro processo
independente de fragilização da presidente, decorrente do avanço da Operação Lava-Jato.
Tivesse o Planalto alguma folga para enfrentar o duplo desgaste decorrente da
interação do agravamento da crise econômica com a Lava-Jato, as dificuldades
ainda seriam mais manejáveis. Mas com
seus níveis de aprovação tão baixos como já estão, a situação de Dilma torna-se a cada dia mais
crítica. Com todo o desconforto adicional que a deterioração do
quadro econômico ainda promete impor ao país, é difícil que sua avaliação nas
pesquisas de opinião possa melhorar nos próximos meses.
O risco de afastamento da
presidente não vai desaparecer de repente. E depende de fatores fora de controle do sistema
político. Por enquanto, não é possível vislumbrar um marco inequívoco a partir
do qual a presidente poderia voltar a se sentir segura. No limite, o Planalto poderá continuar assombrado por esse risco até o
final do mandato.
Sobram
razões para crer que o cenário de permanência de Dilma está fadado a ser
dominado pelas enormes dificuldades que a presidente terá de enfrentar para
conter sua fragilização política. A questão é como o país, atolado como está,
numa crise econômica de grandes proporções, poderá atravessar os próximos 40
meses com um governo tão fraco. O que o Planalto teme é que, mais dia menos dia, a elite política do país afinal se dê
conta de que, comparado a esse cenário, os desdobramentos do impeachment possam se afigurar menos custosos do
que por enquanto aparentam ser. E, no entanto, o Planalto não se emenda.
É
espantoso que, em meio a esse quadro tão delicado, em que a presidente luta pela preservação do seu
mandato, o governo se tenha permitido anunciar, na semana passada, medidas que
sinalizam abandono do plano de jogo da política econômica e volta à
improvisação imediatista do primeiro mandato. Ao sabor da estridência dos
lobbies de sempre, vêm sendo reabertos, em Brasília, os velhos guichês de favores. No Planalto, continuam acreditando
que é com medidas desse tipo que a presidente conseguirá superar sua
fragilidade política.
Fonte: Rogério Furquim
Werneck é economista e professor da PUC-Rio