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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Atos em dezenas de cidades apoiam Bolsonaro e Moro e atacam Maia e o STF - Estadão

Manifestações convocadas para defender a Lava Jato e o veto ao projeto que pune abuso de autoridade também defendeu impeachment de Toffoli e Deltan na PGR


Manifestações realizadas em dezenas de cidades neste domingo, 25, em defesa da Operação Lava Jato e do veto total ao projeto de lei que pune abuso de autoridade aprovada pelo Congresso tiveram críticas ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ao Supremo Tribunal Federal, em especial o seu presidente, Dias Toffoli. No ato que mais reuniu manifestantes, na Avenida Paulista, em São Paulo, houve manifestações de apoio ao ministro Sergio Moro (Justiça), à Lava-Jato, ao Ministério Público e ao presidente Jair Bolsonaro e muitas críticas ao STF e ao projeto de abuso de autoridade.

Políticos bolsonaristas participaram do ato e discursaram no carro de som, entre eles o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). Um boneco inflável representando o presidente Jair Bolsonaro foi inflado no meio da manifestação. Em Belo Horizonte, manifestantes também atacaram o STF e cobraram de Bolsonaro veto total ao projeto de abuso de autoridade, avaliado pelos manifestantes como um caminho para reduzir o combate à corrupção e o impacto de operações como a Lava Jato.  Sanitários químicos alugados por fundadores do Patriotas, que participaram da organização do ato junto com o movimento Vem Pra Rua, tiveram cartazes pregados com a inscrição “STF – Sanitário Togado Fedorento”. Pela primeira vez em atos pró-Bolsonaro na capital mineira ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficaram em segundo plano.

“As pessoas elegeram Jair Bolsonaro para ele mudar o que vinha ocorrendo no País em relação à corrupção”, afirma a coordenadora do Vem Pra Rua na cidade, Kátia Pegos, que acredita em possível perda de apoio da população ao presidente caso a lei não seja vetada integralmente. Para a militante, as instituições estão querendo se blindar contra investigações. “Há indícios de que o presidente não está sendo tão incisivo como deveria nesta questão. Bolsonaro não tem que ter medo de enfrentar deputados, senadores ou ministros do STF. O povo está com ele”, disse.

Mensagens eram exibidas e lidas por manifestantes do alto de um caminhão de som do Vem Pra Rua. “Não elegemos Bolsonaro para abafar investigações contra bandidos”, dizia uma delas. “Veta tudo, Bolsonaro”, afirmava outra. Faixas e cartazes também cobravam o veto do presidente à lei. Com o embate ao longo da semana entre o governo brasileiro e países europeus sobre as queimadas na Floresta Amazônica, o tema também acabou sendo incluído na manifestação na capital mineira. Participantes do ato reclamaram da reação dos governos estrangeiros às queimadas. Com uma bandeira da França em que se lia “a Amazônia é nossa. Respeitem nossa soberania”, a advogada Fátima Lima, de 59 anos, reclamou das críticas do presidente do país, Emmanuel Macron, sobre as queimadas. “A França está cheia de problemas internos. O que ele quer é usar a Amazônia de forma política para se reeleger”, disse.

Brasília
Na capital federal, ato organizado pelo Vem Pra Rua reuniu cerca de 5 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios na manhã deste domingo, 25, segundo estimativas dos próprios organizadores. A Polícia Militar não divulgou números de participantes no protesto e não foram registradas ocorrências.
Boneco representando o ministro Sergio Moro como Super-Homem em ato na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (Wagner Pires/Futura Press/Folhapress)

O ato pediu o veto ao projeto de lei que pune abuso de autoridade e o impeachment de Toffoli. Além disso, outras duas bandeiras do protesto eram a manutenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cadeia e a escolha do procurador Deltan Dallagnol para a Procuradoria-Geral da República (PGR). Os manifestantes se reuniram em frente ao Congresso Nacional pela manhã, vestidos de verde e amarelo. Havia um boneco inflável do ministro da Justiça, Sergio Moro, vestido de super-homem.

Rio de Janeiro
O humorista Marcelo Madureira teve que sair escoltado pela Polícia Militar de um ato organizado pelo Movimento Vem Pra Rua na praia de Copacabana, no Rio, por fazer críticas ao governo Jair Bolsonaro.
Do alto do carro de som, ele foi alvo de gritos de “fora” e “desce, teu carro é outro” por parte de manifestantes vestidos de verde e amarelo e com camisas com o rosto do presidente da República e do ministro da Justiça e Segurança, Sergio Moro. “Não tenho medo de vaias. Votei no Bolsonaro e vou criticar todas as vezes que for necessário. Como justificar uma aliança do Jair Bolsonaro com o Gilmar Mendes para acabar com a Operação Lava Jato? É isso que está acontecendo”, disse Madureira antes de ter o microfone cortado.
 
Os organizadores tiveram que apelar ao público para “não dividir o movimento”. Pouco depois, Madureira desceu e foi escoltado por policiais militares até um táxi, recebendo vaias de alguns e os parabéns de outros. “É uma minoria de pessoas que não sabem viver em um regime democrático. O governo está fazendo coisa errada”, disse. O Movimento Vem Pra Rua escolheu a casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) como um dos dois pontos de concentração no Rio. Ele é visto pelo movimento como o comandante de “manobra” que levou à aprovação “à toque de caixa e de madrugada” do projeto de abuso de autoridade pelos deputados federais no último dia 14.

Por volta das 10h30 cerca de 80 pessoas vestidas de verde e amarelo se concentraram na porta do prédio de Maia, na praia de São Conrado, aos gritos de “Fora Maia” e “Veta Bolsonaro”. Também levavam cartazes e faixas com inscrições como “Rodrigo Maia Inimigo da Lava Jato” e “Botafogo apoia a corrupção”, em referência ao suposto codinome atribuído a Maia em planilha da Odebrecht. O texto aprovado na Câmara define os crimes de abuso de autoridade cometidos por servidores públicos, militares, membros dos poderes Legislativo, Executivo, Judiciário, do Ministério Público e dos tribunais ou conselhos de contas. A proposta lista uma série de ações que poderão ser consideradas crimes com penas previstas que vão de prisão de três meses até 4 anos, dependendo do delito, além de perda do cargo e inabilitação por até cinco anos para os reincidentes.

Na ocasião Maia disse que o texto aprovado é o mais justo, por abranger todos os Poderes: “O texto é o mais amplo, onde todos os poderes respondem a partir da lei”, destacou. “É uma lei que não está protegendo o cidadão comum, mas os bandidos da velha política. O vetar tudo seria o recado de que ele (Bolsonaro) não vai retroceder na luta contra a corrupção”, disse a coordenadora do Vem Pra Rua no Rio, Adriana Balthazar, para quem Maia é considerado um traidor.

O presidente Jair Bolsonaro vem sofrendo pressão de políticos, entidades de classe e até de Moro para barrar a lei. A medida é vista como uma reação do mundo político à Operação Lava Jato, pois permitiria criminalizar condutas que têm sido comuns em investigações no País. Na quinta-feira, 22, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao presidente que vete o texto. “O que temos visto é um ataque orquestrado contra algumas das maiores instituições do País, responsáveis pela maior operação anticorrupção do mundo, como o Ministério Público e seus agentes”, diz o Vem Pra Rua no texto de convocação da manifestação.

Durante o ato, os manifestantes criticaram a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça. Por medida provisória, o órgão foi transferido para o Banco Central, transformado, teve seu nome mudado para Unidade de Inteligência Financeira e sua composição alterada, permitindo o recrutamento de integrantes fora do serviço público o que foi visto como uma forma de abrir o órgão para indicações políticas. Vestida com uma camiseta com a foto de Moro e a hashtag #Morobloco, a manifestante Suzana Correa disse que a fritura do ministro pelo governo Bolsonaro é coisa da imprensa”. Afirmou, porém, que o ex-juiz e o ministro da Economia, Paulo Guedes, são os pilares do atual governo.

Com Estadão Conteúdo