Se ministro
do Supremo prender deputado, eles dizem: “Dane-se, não gosto dele!”. Se
aplicarem tornozeleira, tudo bem. Se desarmarem deputado, eles assistem.
Se cortarem o acesso de parlamentares às redes sociais, ninguém se
importa.
Façam os “supremos” o que fizerem contra a governabilidade do
país ou contra as liberdades de expressão e o direito de ir e vir dos
cidadãos – a Casa do Povo a tudo assiste com cara de paisagem.
Rodrigo
Maia, depois que largou a presidência da Câmara, foi ser secretário de
Estado em São Paulo e abandonou a política.
Seu sucessor, Arthur Lira,
também largou a política.
O que ele faz é outra coisa, parecida, mas não
é política, na perspectiva da sociedade. Tudo isso a Casa tolera, com
as raras, notórias e brilhantes exceções (que por poucas, todos
conhecem).
Vou usar a
palavra tolerância, mas não no sentido que o leitor está pensando. Direi
que a tolerância do Congresso tem um limite e esse limite atende pelo
nome vulgar de “grana”.
Mexeu na grana das emendas e até quem está em
casa de cuecas, veste as calças e se manda para Brasília expressar
indignação. E pasmem: imediatamente começaram a falar em excessos do
Judiciário, em ativismo judicial, em desprestígio do parlamento e até na
indignação dos cidadãos...
Sim, sim, sei. Não precisa explicar. Eu só queria, mesmo, entender. Como aluno
atento do mestre Alexandre de Moraes, aprendi dele algumas “categorias
criminais” novas, de criação própria, desenhadas à perfeição para
aplicar restrição de direitos conforme seu gosto.
São categorias
fluidas, gasosas, tais como, entre outras, atos antidemocráticos, fake
news, militância digital, desordem informacional.
Na mesma
batida, eu alinho algumas condutas igualmente etéreas, aplicáveis ao
descomunal protagonismo do STF agora percebido pelo Poder Legislativo
brasileiro. Ele pode começar a reagir usando as seguintes “categorias
criminais”: ativismo judicial, militância cartorial, desordem
hierárquica, agilidade punitiva em contradição com a morosidade
processual.
Se precisarem de outras, eu arrumo aqui.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.