J. R. Guzzo
É
óbvio que Lula está querendo exatamente o contrário do que querem os
trabalhadores; eles falam com o seu bolso, Lula fala com os seus
interesses
A realidade, mais talvez que
qualquer outra coisa, tem o dom de deixar a esquerda brasileira fora de
si. A realidade atrapalha o tempo todo, revela mentiras e, sobretudo,
não vai embora quando é ignorada – simplesmente continua onde está,
façam o que fizerem. Acontece o tempo inteiro e, é claro, tem de
acontecer muito nas campanhas eleitorais. Está acontecendo de novo, na
presente campanha de Lula para voltar à Presidência da República.
Os fatos são bem simples. Você
se lembra do imposto sindical que ficou pagando durante anos a fio, não
lembra?
Foi uma das piores modalidades de extorsão jamais inventadas
contra o trabalhador neste país, com o roubo anual de um dia de salário
de cada brasileiro, e sua entrega de presente para os sindicatos. Essa
praga foi eliminada cinco anos atrás, numa das realizações mais notáveis
do governo Michel Temer e do Congresso Nacional, dentro da reforma
maior da legislação trabalhista – o principal passo para a modernização
das relações de trabalho dos últimos 80 anos no Brasil.
Ficou assim,
então. Em 2017, último ano em que o imposto sindical foi cobrado, os
sindicatos enfiaram no bolso R$ 3 bilhões, arrancados diretamente do
esforço de quem trabalha.
De lá para cá, o pagamento passou a ser
voluntário.
Só paga quem quer, e quem acredita em sindicato; quem não
quer não paga. E o que aconteceu? Aconteceu que ninguém pagou mais. No
ano passado a arrecadação do imposto sindical caiu para R$ 65 milhões –
[ queda superior a 95%] ou seja, praticamente sumiu.
É uma simetria perfeita. Poucas
vezes se viu um benefício financeiro para o trabalhador tão direto como
esse.
Poucas vezes os sindicatos ficaram tão irados com um prejuízo. Foi
automático: quem trabalha gostou e continua gostando, os sindicatos
detestaram e continuam detestando.
Eis aí exatamente a quantas andam,
medindo em dinheiro, o apreço, a simpatia e a solidariedade do
trabalhador brasileiro por seus sindicatos; assim que foi permitido
pagar ou não, todo mundo sumiu. É esse o valor que dão ao sistema que a
esquerda nacional acha essencial para a sua proteção. Realidade é isso.
É óbvio que Lula está querendo
exatamente o contrário do que querem os trabalhadores; eles falam com o
seu bolso, Lula fala com os seus interesses. Um dos pontos-chave do
“programa de governo” de Lula,[o descondenado, jamais inocentado,luladrão.] justamente, é ressuscitar a cobrança do
imposto sindical. Trata-se, à sua maneira, de outro ataque frontal às
realidades. É um clássico, em matéria de mentira integral: ele diz em
público que vai salvar o operário, mas, na vida real, o que quer é tirar
o seu dinheiro. É só isso.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S.Paulo