No momento em que as enormes
dificuldades e incertezas da conjuntura política, econômica e social do País
não encorajam previsões auspiciosas de um Feliz Ano Novo, soa como escárnio a
desfaçatez com que o Partido dos Trabalhadores vem a público para confirmar a
intenção de lançar a pré-candidatura de Lula à Presidência da República “com um
programa de reconstrução da economia nacional”. Porque assim, afirma o
presidente nacional do partido, Rui Falcão, “ficará muito claro para a
população qual o objetivo dessa perseguição”, de que seu líder é “vítima”.
É um desafio estimulante imaginar
qual possa ser o “programa de recuperação da economia” a que se refere o alto
comissário petista. O País tem um governo em exercício há menos de oito meses,
encabeçado por Michel Temer, cuja prioridade tem sido criar condições
exatamente para resgatar dos escombros o que sobrou da economia nacional,
varrida pela “nova matriz econômica” que Dilma Rousseff tirou da manga do
colete. Talvez os petistas tenham em mente agora uma “novíssima matriz
econômica”, já que nem mesmo um surto de insanidade poderia justificar a
repetição de um erro pelo qual pagam hoje, de modo muito especial, mais de 12
milhões de brasileiros desempregados.
Em resumo: qual a credibilidade
do PT para propor qualquer coisa na área econômica depois de ter praticamente
destruído o mercado brasileiro com sua obstinação pela concentração de poderes
nas mãos de um governo que prometia “distribuir” a riqueza mas acabou dizimando
o que compartilhar? Pior: um governo que liberou os cofres públicos a políticos
e empresários corruptos, todos eles beneficiários de uma promiscuidade que, a
partir do Palácio do Planalto, alastrou-se como nunca antes na história deste
país por todos os desvãos da administração federal direta e indireta.
O lançamento da pré-candidatura
presidencial de Lula, na verdade, é o derradeiro recurso do PT para garantir a
sobrevivência política de ambos: o partido e seu líder maior. Do ponto de vista
eleitoral, até onde a vista alcança deverá prevalecer o veredicto selado nas urnas
municipais de outubro, que transformou o PT exatamente naquilo que sempre usou
para desqualificar as legendas concorrentes: um partido sem votos. A
pré-candidatura presidencial de Lula – cuja imagem, como sempre, sobrepaira à
de seu partido – serviria, pelo menos, para lembrar à militância que o PT ainda
existe.
Ocorre que é no mínimo improvável
que Lula consiga sobreviver ileso à Lava Jato. Foi-se o tempo em que os
figurões da República estavam fora do alcance da Justiça. Hoje as cadeias estão
abarrotadas de vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores,
juízes, executivos, donos de grandes corporações privadas e criminosos do
colarinho branco das mais variadas extrações, a maior parte lá colocados a
partir do advento da Operação Lava Jato.
Mas, de acordo com o que deixou
claro Rui Falcão, é necessário fazer uma distinção entre os petistas e os
demais investigados e condenados pela Lava Jato. Os episódios de corrupção que
envolvem correligionários de Lula, segundo Falcão, “nós vamos avaliá-los a
nosso próprio juízo, dado o processo de parcialidade que tem na Justiça
brasileira”. Quer dizer, quanto à condenação de um Eduardo Cunha ou de um
Sergio Cabral, ambos do PMDB, nada a opor. Mas, quando se trata de petistas
acusados, “temos mecanismos internos, comissão de ética, uma corregedoria, para
avaliar comportamentos de filiados dentro de nossas regras, com direito de
defesa, contraditório, no devido processo legal do PT”. Ou seja, a Justiça que
vale, para os petistas, é a do PT. O que não é novidade, pois já no julgamento
do mensalão os dirigentes petistas condenados foram imediatamente glorificados,
pela direção partidária, com a honrosa condição de “guerreiros do povo
brasileiro”.
Em resumo, Lula e o PT continuam
exatamente os mesmos. Haverá quem caia de novo nessa esparrela?
Fonte: Editorial - O Estado de S. Paulo