A crise ganhou um novo componente. E ele veste farda e pilota tanques
A condução coercitiva de Lula para depor à procuradores da Lava-Jato não foi o fato que marcou a escalada preocupante da crise política que abala o país e ameaça derrubar o governo. A crise ganhou um novo componente. Ele veste farda e tem porte de arma. Sua entrada em cena, foi o fato mais importante do dia em que o país quase parou, surpreso com o que acontecia em São Paulo.Não é comum ver-se um ex-presidente da República, o primeiro operário entre nós a chegar ao poder, ser conduzido por agentes federais na condição de investigado em bilionário escândalo de corrupção. Nunca antes na história deste país... O episódio serviu para demonstrar a solidez de uma democracia reinaugurada por aqui há apenas 31 anos. A lei deve ser igual para todos. Um ex-presidente não merece tratamento especial.
O receio de que a ordem pública virasse desordem foi o que assustou os militares, levando-os a se manifestarem por meio dos canais disponíveis para isso. Há muito que eles não procediam assim. Um batalhão do Exército, em São Paulo, foi posto de sobreaviso caso os protestos contra e a favor de Lula resultassem em violência, e as polícias militar e civil perdessem o controle da situação.
Geraldo Alckmin não foi o único governador avisado de que poderia contar com a ajuda do Exército se pedisse ou se a presidente da República a autorizasse. Integrantes do Alto Comando do Exército telefonaram para os governadores dos Estados mais sujeitos a conflitos entre militantes políticos e os preveniram para a necessidade de manter a paz social.
O elenco de autoridades alcançadas pelos telefonemas de generais foi mais amplo. E incluiu ministros de Estado e líderes de partidos, de quase todos os partidos. Os do PT ficaram de fora. A tensão entre os generais foi desatada quando militantes políticos se agrediram diante do prédio onde Lula mora em São Bernardo. E atingiu seu pico com o discurso de Rui Falcão, presidente do PT.
Enquanto Lula era interrogado na delegacia da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, Falcão pregava a ida para as ruas dos adeptos do PT e a realização de manifestações ruidosas. Foi um duro discurso, embora pronunciado no tom ameno que caracteriza as falas de Falcão. De imediato, as várias instâncias do partido começaram a se mobilizar em obediência à nova palavra de ordem.
Até então, a máquina do PT parecia inativa, perplexa. No Twitter, por exemplo, os termos mais em uso se referiam à prisão de Lula. Nas horas seguintes, os termos mais populares passaram a ser “golpe” e “ruas”. Os generais estão temerosos com a conjugação das crises política e econômica e com o que possa derivar disso. Cobram insistentemente aos seus interlocutores do meio civil para que encontrem uma saída.
Não sugerem a solução A, B ou C. Respeitada a Constituição, apoiarão qualquer uma – do entendimento em torno de Dilma ao impeachment ou à realização de novas eleições. Mas pedem pressa. Por inviável, mas também por convicções democráticas, descartam intenções golpistas. Só não querem se ver convocados a intervir em nome da Garantia da Lei e da Ordem como previsto na Constituição. [apesar de não ser dito, é óbvio que se a classe política continuar enrolando na aplicação da única solução existente e válida - afastamento da Dilma por impeachment - os militares terão que escolher entre:
- deixar o Brasil continuar a queda livre rumo ao caos; ou,
- optar pela Intervenção Militar Constitucional.
Apesar de não ter sido declarado formalmente, a comunicação entre os membros do Alto Comando do Exército com governadores e ministros - excluídos os do PT - não ocorreu por determinação da presidente da República ou do ministro da Defesa e sim por iniciativa dos próprios oficiais generais do Alto Comando do Exército.
Se a situação é de crise, séria e urgente, não tem sentido submeter decisões do Alto Comando do Exército a um exame prévio da presidente ou do ministro da Defesa.
Se faz o necessário, o melhor para o Brasil, depois se comunica.]
Fonte: Blog do Noblat