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domingo, 3 de fevereiro de 2019

“A hora dos profissionais” e outras notas de Carlos Brickmann

O tufão Bolsonaro provocou renovação na Câmara e no Senado. Mas, entre os que ficaram, estão os profissionais que conhecem o caminho das pedras



Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

Há alguns anos, numa das periódicas ondas de preocupação sobre a tomada do poder pelo comunismo, perguntaram ao deputado pernambucano Thales Ramalho quem seria o chefe da revolução se os comunistas fossem vitoriosos. Thales, que conhecia como poucos a política, respondeu: “O chefe militar, não sei. Mas o primeiro-ministro será Marco Maciel”. Maciel era hábil, bom de manobra, sem inimigos – gente do ramo, como os que hoje botam a cabeça de fora. Só que era leal e honesto. O furacão Bolsonaro provocou renovação de quase 50% na Câmara e de 85% dos que disputaram vaga no Senado. Mas, entre os que ficaram, estão os profissionais que conhecem o caminho das pedras. Deles depende muita coisa: por exemplo, o destino da reforma da Previdência, a mãe de todas as reformas, a chave que abrirá (ou fechará) o cofre dos investidores. E a sorte de Flávio Bolsonaro, importantíssima: se a questão for mal resolvida, ou o presidente ficará sob fogo ou correrá o risco de perder Sérgio Moro, seu aval. Talvez não ocorra nenhuma das hipóteses – mas vale a pena correr o risco de ter a seu lado um Sérgio Moro que deixou de ser Sérgio Moro?

O regime militar tinha um profissional como Petrônio Portela para negociar com os profissionais da oposiçãoThales, Tancredo, Montoro – a anistia e a redemocratização. Onyx Lorenzoni está longe de ser um deles. Sem gente sua, Bolsonaro está nas mãos dos profissionais do Congresso.

(...) 

A Vale e o Vate
Os romanos atribuíam aos poetas (vates) o dom de prever o futuro (vaticínios). Não é à toa que dominaram o mundo por mil anos: sabiam das coisas. Eis um poema de Carlos Drummond de Andrade, Lira Itabirana, que saiu em 1984 no jornal O Cometa Itabirano, de sua cidade, Itabira:
“I – O rio? É doce./ A Vale? Amarga./ Ah, antes fosse/mais leve a carga.
II- Entre estatais/ E multinacionais/ Quantos ais!
III- A dívida interna./ A dívida externa/ a dívida eterna.
IV- Quantas toneladas exportamos/ De ferro?/ Quantas lágrimas disfarçamos/ Sem berro?”

Palpite infeliz
Do presidente da Vale, Fábio Schvartsman, explicando por que a sirena de alarme não soou: porque estava submersa pela lama. Ou seja, quando a sirene não toca, é sinal de perigo, pois ela pode estar submersa

Quando toca, fique mais tranquilo: se há enchente, não deve ser tão grande assim.

Imaginemos: que diria Dilma a esse respeito? [a resposta,  em dilmês, será fornecida por Augusto Nunes em época oportuna.
Quantas saudades da erudição da escarrada Dilma.]