O tufão Bolsonaro provocou renovação na Câmara e no Senado. Mas, entre os que ficaram, estão os profissionais que conhecem o caminho das pedras
Há alguns anos, numa das periódicas
ondas de preocupação sobre a tomada do poder pelo comunismo, perguntaram
ao deputado pernambucano Thales Ramalho quem seria o chefe da revolução
se os comunistas fossem vitoriosos. Thales, que conhecia como poucos a
política, respondeu: “O chefe militar, não sei. Mas o primeiro-ministro
será Marco Maciel”. Maciel era hábil, bom de manobra, sem inimigos –
gente do ramo, como os que hoje botam a cabeça de fora. Só que era leal e
honesto. O furacão Bolsonaro provocou renovação
de quase 50% na Câmara e de 85% dos que disputaram vaga no Senado. Mas,
entre os que ficaram, estão os profissionais que conhecem o caminho das
pedras. Deles depende muita coisa: por exemplo, o destino da reforma da
Previdência, a mãe de todas as reformas, a chave que abrirá (ou fechará)
o cofre dos investidores. E a sorte de Flávio Bolsonaro,
importantíssima: se a questão for mal resolvida, ou o presidente ficará
sob fogo ou correrá o risco de perder Sérgio Moro, seu aval. Talvez não
ocorra nenhuma das hipóteses – mas vale a pena correr o risco de ter a
seu lado um Sérgio Moro que deixou de ser Sérgio Moro?
O regime militar tinha um profissional
como Petrônio Portela para negociar com os profissionais da oposição –
Thales, Tancredo, Montoro – a anistia e a redemocratização. Onyx
Lorenzoni está longe de ser um deles. Sem gente sua, Bolsonaro está nas
mãos dos profissionais do Congresso.
(...)
A Vale e o Vate
Os romanos atribuíam aos poetas (vates) o dom de prever o futuro (vaticínios). Não é à toa que dominaram o mundo por mil anos: sabiam das coisas. Eis um poema de Carlos Drummond de Andrade, Lira Itabirana, que saiu em 1984 no jornal O Cometa Itabirano, de sua cidade, Itabira:
“I – O rio? É doce./ A Vale? Amarga./ Ah, antes fosse/mais leve a carga.
II- Entre estatais/ E multinacionais/ Quantos ais!
III- A dívida interna./ A dívida externa/ a dívida eterna.
IV- Quantas toneladas exportamos/ De ferro?/ Quantas lágrimas disfarçamos/ Sem berro?”
Palpite infeliz
Do presidente da Vale, Fábio
Schvartsman, explicando por que a sirena de alarme não soou: porque
estava submersa pela lama. Ou seja, quando a sirene não toca, é sinal de
perigo, pois ela pode estar submersa.
Quando toca, fique mais
tranquilo: se há enchente, não deve ser tão grande assim.
Imaginemos: que diria Dilma a esse respeito? [a resposta, em dilmês, será fornecida por Augusto Nunes em época oportuna.
Quantas saudades da erudição da escarrada Dilma.]