Então, no
novo perfil da mídia brasileira, a coisa fica assim. Alguns, diante desse erro descomunal que foram os
governos petistas, vão além
das aparências e abandonam o barco porque percebem as causas. Entre muitas,
saliento estas, bem evidentes: o poder como objetivo ao
qual tudo se sacrifica; a justificação
dos fins pelos meios; o cultivo da insegurança pública como instrumento
da luta de classes; o fracasso humano e
social do assistencialismo vitalício como política de Estado; a impossibilidade
técnica de se produzir
desenvolvimento econômico e social sem economia de mercado; a apropriação indébita dos poderes de
Estado, da administração pública e da política externa por um partido político,
seja qual for.
Outros,
no entanto, continuam convencidos de que fora dos
fracassos estrondosos da esquerda não há salvação para a humanidade. Apoiaram e votaram sempre no PT e se
empenharam em preservar-lhe a imagem muito mais do que os líderes do partido.
Aliás, enquanto estes trocavam os pés pelas mãos e enfiavam os quatro nos mais
pantanosos negócios, eles cuidavam de espalhar o ônus moral de tais condutas
sobre uma linha de tempo que, se a gente deixar, acabará remontando à criação
do Reino de Portugal no século 12.
Se há algo que abala os
formadores de opinião é
constatar que quanto mais escrevem e falam, menos opiniões formam. Então, com a credibilidade da presidente caindo para um dígito,
ainda por cima quebrado, já não se encontram mais, na mídia, prosélitos
com disposição de exaltar as virtudes do petismo reinante. Para os obstinados, porém, o passado ainda pode ser requentado. Tal
é a aposta, por exemplo, do sempre oculto Foro de São Paulo (que antes diziam não existir e, agora,
afirmam estar morrendo...).
Não havendo condições propícias ao proselitismo
puro e simples, resta à mídia
esquerdista e seus agentes dois meios de ação. No primeiro, obedecem à
regra segundo a qual o contra-ataque é uma forma de defesa na qual dificilmente
se passa vexame, porque sempre haverá o que atacar. Então, atacam quem ataca
para defender quem não mais se atrevem a defender. No segundo, aí sim, agarram-se no Estado de
Direito para proclamar a intangibilidade do mandato da presidente. A
esse coro ela mesma aderiu em suas últimas manifestações: "Ninguém vai tirar a legitimidade que o voto me deu",
afirmou a presidente, falando em Roraima no dia 7 deste mês.
Dilma está, neste caso,
defendendo a legitimidade da mentira como instrumento de ação política e eleitoral. Com
efeito, ela foi
eleita em 2014 mentindo à nação sobre a realidade nacional e atribuindo a
seu adversário os flagelos que ela trazia a tiracolo para enfrentar a macabra situação
que seu governo produzira. Nada que não tenhamos visto e não
estejamos vendo. Assim, a presidente e os formadores de
opinião que a acompanham, ao falarem em "legitimidade" no cenário atual, consagram a soberania do Pinóquio e promovem o
linchamento do Grilo Falante.
* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e
escritor e titular do site www.puggina.org.