Vídeo de Bolsonaro em templo maçom traz associação aos holofotes novamente; a maçonaria se define como instituição religiosa - não como religião - e declara não ser uma ‘sociedade secreta’, mas afirma ter segredos [Bolsonaro não participou de um ritual maçônico; participou, assim pode ser considerado, de um evento social, não ritualístico, um rito profano.Ops ... antes que considerem ser o termo profano indicativo da ocorrência de atos de profanação, significa apenas que pode ser assistido por não iniciados. Com certeza a maçonaria não é uma religião.]
Os “mistérios” e “segredos” da maçonaria costumam intrigar e tomar as manchetes de jornais ou estamparem posts virais. A campanha do 2º turno das eleições já começou com ataques mentirosos vinculados a religiões. Entre eles está a associação do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) à “sociedade secreta”. Mas, afinal, o que é a maçonaria e qual sua relação com a política?
A maçonaria é uma instituição “essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista”, segundo o Grande Oriente do Brasil (GOP), que se define como a “mais antiga Potência Maçônica brasileira”. Ela tem como objetivo “a investigação da verdade, o exame da moral e a prática das virtudes”, além de “unir os homens entre si”.
Embora exija o reconhecimento da existência do “Grande Arquiteto do Universo”, não é considerada uma religião, mas, sim, uma associação religiosa. Inclusive, não é preciso renunciar de sua religião para ser maçom, conforme a GOP.
A Grande Loja Unida da Inglaterra explica que questões como quando, como, por que e onde a maçonaria surgiu seguem sendo “objeto de intensa especulação”. Segundo o corpo governante da maçonaria britânica, a versão amplamente aceita é de que teria raízes nas tradições dos pedreiros medievais. Inclusive, usa de analogias à construção para “ensinar os membros a levar uma vida produtiva que beneficie as comunidades em que vivem”.
O órgão britânico explica que a maçonaria se organiza em unidades menores, chamadas de Lojas, onde são realizadas reuniões. Conforme o portal britânico BBC, homens e mulheres são segregados em lojas distintas.
Não é incomum que postagens sobre maçonaria viralizem ou que o tema marque presença nas manchetes de jornal. Conforme o portal britânico BBC, o interesse tem raízes na antiguidade da sociedade, na tradicional discrição dela e também na relevância de alguns de seus membros, como Winston Churchill e o Príncipe Philip, por exemplo.
No entanto, as lideranças da maçonaria vêm reclamando da estigmatização dos membros há alguns anos. Em 2018, após matéria do jornal britânico The Guardian sobre supostas lojas secretas maçônicas para parlamentares e jornalistas, David Staples, executivo-chefe da Grande Loja Unida da Inglaterra, reclamou da “imerecida estigmatização” e se comprometeu a fazer uma série de sessões abertas para provar que a sociedade não é secreta.
“Fico feliz que vocês tenham questionamentos sobre quem somos e o que fazemos, mas por que não fazê-los a quem entende?”, escreveu, em nota. Em seu site, a GOP destaca que a maçonaria não é uma sociedade secreta, pois “sua existência é amplamente conhecida” e “seus fins são amplamente difundidos em dicionários, enciclopédias, livros de história": “O único segredo que existe e não se conhece senão por meio do ingresso na instituição, são os meios para se reconhecer os maçons entre si, em qualquer parte do mundo e o modo de interpretar seus símbolos e os ensinamentos neles contidos”.
Após o resultado do primeiro turno, um vídeo de Bolsonaro discursando em um templo maçom viralizou. Na gravação, que parece ter sido feita antes da campanha eleitoral de 2018, ele fala sobre pautas de costumes e combate à corrupção.
No início de setembro deste ano, a Ordem Maçônica no Paraná (GOB-PR) divulgou um posicionamento reforçando que a maçonaria é apartidária. “Isso significa que nossa organização se mantém afastada das cores partidárias, das pessoalidades ou personificações. Estamos, porém, sempre próximos das questões políticas amplas, que são tão importantes e necessárias para a construção dessa Obra Social que falamos anteriormente”, escreveu a entidade, em nota.
“É nesse sentido que abrimos nossas portas para recebermos candidatos. Ouvimos suas propostas, interagimos, e agora deixamos que cada um, de forma livre, avalie e construa suas opiniões sobre elas”, completou.
Política - O Estado de S. Paulo