Um número resume o fracasso do atual governo: 10,67%. Essa foi a
inflação brasileira de 2015. Não é resultado do que se fez no ano
passado, mas sim dos erros, vacilações, distorções do pensamento
econômico e energético da presidente Dilma. Ela compartilha com o PT
convicções que demonstram desprezo pela estabilidade. O Banco Central
teve que escrever uma carta se explicando.
O regime de metas de inflação tem rituais, e um deles é o Banco
Central escrever uma carta ao Ministério da Fazenda explicando por que a
inflação estourou o teto da meta. No caso atual, foi além até dos 10%.
Deveria ser obrigado também que a presidente da República se explicasse.
Dilma tomou decisões que levaram a esse resultado. O número pertence
principalmente a ela.
Os economistas estão prevendo a queda da inflação ao longo deste ano.
Esquadrinham cada número, de cada mês, pensam nas probabilidades de
chover ou não, de cair o consumo por causa da recessão, noves fora o
impacto de alta do câmbio. A chance maior é de o índice cair um pouco e
terminar o ano de novo acima do teto da meta, no patamar de 7%. É alto,
mas este é o cenário benigno.
Temores rondam os conhecedores da dinâmica da economia brasileira. O
PT aumentou a indexação e elevou o percentual do dinheiro em circulação
que está fora do alcance da política monetária, através dos empréstimos
subsidiados ao capital. Isso faz com que o remédio amargo dos juros
tenha efeito menor. O temor é o de que a inflação suba mais, pelos
sinais de hesitação dados pelo governo. No fundo, pode haver até uma
torcida por isso.
A inflação reduz a crise fiscal quando ela é grande demais e o
governo não sabe como resolver o problema. É a pior forma de ajuste e a
mais perigosa. Normalmente, é usada por incompetentes. Funciona assim:
todos os custos governamentais não indexados caem pela corrosão
inflacionária, e a dívida pré-fixada diminui também. O governo deixa a
inflação fazer o trabalho sujo. Esse caminho é a véspera do desastre
maior, que é a escalada dos preços.
Quem não entende os erros que cometeu não os corrigirá. Veja-se a
patética entrevista da presidente Dilma Roussef. Ela não consegue dizer
em que errou. Terceiriza a culpa. Alega que seu erro foi não ter visto
que a crise externa era mais grave e não ter notado que a seca era forte
demais. Tergiversações.
O que se abateu sobre o país foi o peso dos erros do governo Dilma:
pedaladas, nova matriz, gastos excessivos, leniência com inflação,
manipulação de preços. O mundo teve pouco a ver com isso. Durante a
campanha, todos os bons jornalistas que a entrevistaram falaram sobre a
gravidade da crise, que ela fingia não ver. A seca foi forte, sim, mas o
que elevou a tarifa da energia foi a administração da política do
setor.
Ex-ministra da área, suposta especialista, Dilma reduziu os
preços em ato de preparação da campanha eleitoral quando a seca já havia
começado. Administrou mal os leilões, e as distribuidoras ficaram
expostas e tiveram que comprar no mercado livre. O incentivo na hora
errada e a barbeiragem nos leilões de oferta alimentaram a bola de neve
de prejuízos das empresas. Aí o governo fez outro absurdo: mandou as
distribuidoras pegarem empréstimos bancários e cobrarem o custo do
crédito e dos juros dos consumidores na conta de 2015. Isso produziu o
tarifaço que explica parte do estouro da inflação. Mas Dilma quer fixar a
ideia de que foi apenas a seca. Culpa do imponderável, e não dela.
Há erros factuais e ideológicos no número 10,67%. Ele é pior porque
castiga o Brasil em plena recessão. Normalmente, a frieza de um ambiente
recessivo até impede a alta dos preços, mas o governo Dilma conseguiu
servir esses dois purgantes ao país: inflação acima de 10% e PIB caindo
quase 4%. Os erros factuais são os dos equívocos das decisões diárias,
os ideológicos são mais profundos e nascem do conjunto de crenças do PT.
O partido não participou do esforço do país para estabilizar a
economia e tentou sabotá-lo porque jamais entendeu o valor da
estabilização. Esse ideário é que produz os monstrengos que foram
inflacionando a economia. Esse resultado pertence ao PT e é
responsabilidade de Dilma Rousseff. Contudo, é sobre o país como um todo
que pesa esse número do fracasso.
Coluna da Miriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo
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sábado, 9 de janeiro de 2016
Número de um fracasso
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Alvaro Gribel,
campanha eleitoral,
inflação acima dos 10%,
manipulação dos preços,
Miriam Leitão
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