O Globo
País precisa de foco para a retomada do crescimento
Melhor um resultado positivo no trimestre do
que nada. Ainda mais quando ele vem puxado pela indústria de
transformação, o setor de construção e o investimento. Não é, contudo, o
início da aceleração da economia. Os primeiros dados do terceiro
trimestre são fracos, a situação internacional é complicada, a Argentina
se aprofunda na crise, o governo entregou menos do que prometeu e o
presidente continua sendo uma fonte de instabilidade e tensão. Falta
foco ao governo Bolsonaro. Os dados não enganam. A economia brasileira está passando pelo mais
longo e penoso processo de estagnação. Nas recessões anteriores, no
vigésimo trimestre após o início da crise, o PIB já estava muito acima
do ponto pré-crise. Ou seja, a economia havia recuperado as perdas e
subido para outro patamar. Agora, tanto tempo depois do início da crise,
o país conseguiu recuperar apenas 42% do que perdeu.
No lado da boa notícia, dois economistas com quem eu conversei esta semana disseram que tinham sinais, das conversas com empresários, de que a construção residencial estava melhorando. Tanto José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, quanto Gustavo Loyola, da Tendências Consultoria, disseram esperar que isso viesse no PIB. O movimento é mais forte em São Paulo, mas o índice registrou 1,9% de alta nesse setor no país. A indústria de transformação subiu 2%, enquanto a extrativa mineral ainda tenta se recuperar da tragédia de Brumadinho. Há nos dados do segundo trimestre números positivos, só não se tem é certeza de que esse movimento vai continuar. Uma das razões é a crise em si que se realimenta, na opinião da economista Laura Carvalho, da USP: —No momento em que você está com a economia desacelerando, sem motores de demanda, consumidores endividados, firmas com capacidade ociosa, endividadas também, de fora não vem motor para as nossas exportações, se o Estado está de mãos atadas e vai cortando seus investimentos, acaba exacerbando a situação.
A economista Silvia Matos, da FGV, acha que houve uma decepção com o governo neste começo de mandato: — Apesar de todas as expectativas de que ele poderia fazer grandes reformas, nós não conseguimos avançar muito e se criou muito ruído. Houve uma melhora ao longo dos últimos meses, mas agora em agosto foram criados novos problemas do ponto de vista da avaliação do Brasil. Isso afeta o investimento. Como tomar uma decisão de investimento com cenário tão incerto?
A crise ambiental foi também econômica e pode ter efeitos de médio e longo prazos. A perda reputacional da imensa exposição negativa do país afeta os produtos que têm origem brasileira. O presidente agravou a crise com suas declarações e aquela reunião de governadores em que, em vez de focar no combate às queimadas, preferiu atacar as terras indígenas. A crise da Argentina que a levou à moratória não declarada mas, como todas as outras, é uma imposição aos credores de uma quebra de contrato, vai aprofundar a recessão do país e diminuir sua capacidade de importar.
Quase tudo o que o Brasil exporta para lá é da indústria. Em 2018, da exportação total de US$ 14,9 bi, US$ 13,5 bi eram de manufaturados. Em 2011, no auge do comércio bilateral, o Brasil exportou US$ 22,7 bilhões. Desses, US$ 20,4 bi eram manufaturados. A indústria sentirá o efeito do agravamento da crise. A curva dos últimos anos mostra que o país desacelerou o ritmo no começo deste ano. Apesar de estar crescendo pouco, 1,4% em meados do ano passado, foi a 0,9% e agora voltou a 1%. Outro dia, na entrevista que divulgou a modesta lista de privatização, um dos ministros falou que o governo tinha “muitos anos pela frente”. Se achar isso, perderá tempo. Precisa focar no projeto que vendeu ao país de que retomaria o crescimento.
[importante: a crise da Argentina mostra que produtos industrializados podem ter sua importação reduzida ou mesmo suspensa, sem grandes consequências - no caso, será ruim para o Brasil.
Já a importação de grãos, carnes - com algum valor agregado, nenhum país pode abrir mão totalmente - se deixar de comprar do Brasil vai ter que comprar de outro e outro talvez tenha que comprar de outro e assim vai.
Produção agropecuário não pode crescer exageradamente da noite para o dia.
O senhor Macron não pensou nisso - lhe falta a sabedoria dos idosos - felizmente os demais parceiros da França pensaram. ]
Coluna da Míriam Leitão - Alvaro Gribel de São Paulo - O Globo
No lado da boa notícia, dois economistas com quem eu conversei esta semana disseram que tinham sinais, das conversas com empresários, de que a construção residencial estava melhorando. Tanto José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, quanto Gustavo Loyola, da Tendências Consultoria, disseram esperar que isso viesse no PIB. O movimento é mais forte em São Paulo, mas o índice registrou 1,9% de alta nesse setor no país. A indústria de transformação subiu 2%, enquanto a extrativa mineral ainda tenta se recuperar da tragédia de Brumadinho. Há nos dados do segundo trimestre números positivos, só não se tem é certeza de que esse movimento vai continuar. Uma das razões é a crise em si que se realimenta, na opinião da economista Laura Carvalho, da USP: —No momento em que você está com a economia desacelerando, sem motores de demanda, consumidores endividados, firmas com capacidade ociosa, endividadas também, de fora não vem motor para as nossas exportações, se o Estado está de mãos atadas e vai cortando seus investimentos, acaba exacerbando a situação.
A economista Silvia Matos, da FGV, acha que houve uma decepção com o governo neste começo de mandato: — Apesar de todas as expectativas de que ele poderia fazer grandes reformas, nós não conseguimos avançar muito e se criou muito ruído. Houve uma melhora ao longo dos últimos meses, mas agora em agosto foram criados novos problemas do ponto de vista da avaliação do Brasil. Isso afeta o investimento. Como tomar uma decisão de investimento com cenário tão incerto?
A crise ambiental foi também econômica e pode ter efeitos de médio e longo prazos. A perda reputacional da imensa exposição negativa do país afeta os produtos que têm origem brasileira. O presidente agravou a crise com suas declarações e aquela reunião de governadores em que, em vez de focar no combate às queimadas, preferiu atacar as terras indígenas. A crise da Argentina que a levou à moratória não declarada mas, como todas as outras, é uma imposição aos credores de uma quebra de contrato, vai aprofundar a recessão do país e diminuir sua capacidade de importar.
Quase tudo o que o Brasil exporta para lá é da indústria. Em 2018, da exportação total de US$ 14,9 bi, US$ 13,5 bi eram de manufaturados. Em 2011, no auge do comércio bilateral, o Brasil exportou US$ 22,7 bilhões. Desses, US$ 20,4 bi eram manufaturados. A indústria sentirá o efeito do agravamento da crise. A curva dos últimos anos mostra que o país desacelerou o ritmo no começo deste ano. Apesar de estar crescendo pouco, 1,4% em meados do ano passado, foi a 0,9% e agora voltou a 1%. Outro dia, na entrevista que divulgou a modesta lista de privatização, um dos ministros falou que o governo tinha “muitos anos pela frente”. Se achar isso, perderá tempo. Precisa focar no projeto que vendeu ao país de que retomaria o crescimento.
[importante: a crise da Argentina mostra que produtos industrializados podem ter sua importação reduzida ou mesmo suspensa, sem grandes consequências - no caso, será ruim para o Brasil.
Já a importação de grãos, carnes - com algum valor agregado, nenhum país pode abrir mão totalmente - se deixar de comprar do Brasil vai ter que comprar de outro e outro talvez tenha que comprar de outro e assim vai.
Produção agropecuário não pode crescer exageradamente da noite para o dia.
O senhor Macron não pensou nisso - lhe falta a sabedoria dos idosos - felizmente os demais parceiros da França pensaram. ]
Coluna da Míriam Leitão - Alvaro Gribel de São Paulo - O Globo