Que fique
claro! A eleição venezuelana não é fraudulenta apenas porque a
verdadeira oposição está proibida de participar. A eleição venezuelana
não é um engodo só porque mais da metade do eleitorado não se dispôs a
sair de casa para votar. Faltou ao processo até a dignidade aparente das
farsas. Desde sempre, saibam, os adversários de Nicolás Maduro estão
proibidos de falar no rádio e na televisão. O governo, por sua vez, é
onipresente.
As
evidências de fraude são de tal ordem que Luis Emilio Rondón, o único
dos cinco juízes do Conselho Nacional Eleitoral não-chavista, negou-se a
reconhecer o resultado anunciado por Tibisay Lucena, uma bolivariana
alucinada. Mais uma vez, as milícias armadas estavam nas ruas para
intimidar os eleitores. Aliás, a extrema-direita brasileira que defende
que a população se arme deveria eleger a Venezuela como sua
pátria-modelo. Entre outras delicadezas, os chavistas ofereceram
transporte gratuito para quem se dispusesse a votar.
Não só. Os
venezuelanos atendidos por programas assistencialistas do regime
dispõem de uma identificação chamada “Carteira da Pátria”. O governo
criou próximo aos postos eleitorais os chamados “Pontos Vermelhos”. Os
eleitores eram instados a comparecer a esses lugares e apresentar o
documento — vale dizer: tratava-se de um controle paralelo do
eleitorado. E ainda recebiam 10 milhões de bolívares, meros US$ 12, que
correspondem, no entanto, a quatro salários mínimos. No país que tem uma
inflação anual de 14 mil por cento, a moeda é uma ficção.
Tibisay Lucena, mero esbirro de Nicolás Maduro, anuncia resultado da farsa
A
Venezuela já chegou a ser o segundo destino das exportações brasileiras
na região e o oitavo no mundo. Entre janeiro e maio de 2012, no melhor
momento, exportamos US$ 1,9 bilhão para o país, Hoje, o regime
bolivariano não figura nem entre os 50 primeiros destinos dos nossos
produtos. No ano passado, na comparação com 2012, a queda já tinha sido
de 91%.
Se o
Brasil não reconhecer o resultado das eleições, uma eventual retaliação
venezuelana será irrelevante. Mas não é nesse ponto que ancoro a minha
defesa, não. Ainda que as relações bilaterais fossem vigorosas, a maior
democracia da América Latina não pode condescender com uma ditadura
homicida que, ademais, tem provocado danos objetivos ao nossos país,
como sabe o Estado de Roraima. Não! Eu não defendo que o Brasil vire as
costas aos refugiados. Defendo, isto sim, que vire as costas a um tirano
de chanchada, sanguinolento e asqueroso.
Blog do Reinaldo Azevedo