Motim de policiais com apoio do presidente pode ser embrião para milícia paraestatal
A semana pré-Carnaval foi marcada pelo violento motim da Polícia Militar
do Ceará, que ameaça se espalhar por outros Estados, desafia a
autoridade dos governadores, conta com a simpatia e o incentivo
declarados do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos e asseclas nas
redes sociais e pode ser, caso se alastre, o embrião da criação de uma
milícia paraestatal bolsonarista inspirada na criada por Hugo Chávez e
inchada por Nicolás Maduro na Venezuela.
Não é de hoje que o bolsolavismo bebe na fonte da criação bolivariana,
replicando seus métodos de organização e lhes dando uma roupagem
ideológica de extrema direita. A proliferação de escolas cívico-militares, impostas a partir de
Brasília aos Estados, a militarização total do Palácio do Planalto, a
convocação, feita por um desses militares do gabinete, o general Augusto
Heleno, de manifestações de rua em apoio ao presidente e para emparedar
o Congresso são todos movimentos combinados que têm clara inspiração na
escalada chavista a partir de 2005. [chega a ser cômico, além de ridículo, o esforço de alguns jornalistas para envolver o presidente da República, JAIR BOLSONARO, em situações nas quais ele nem remotamente está envolvido ou temalguma responsabilidade sobre tais situações.
Sabemos que o ponto principal da insatisfação dos policiais é o fato do governo Zema, de Minas Gerais, o estado mais quebrado do Brasil, ter concedido um aumento em torno de 41% aos policiais daquele Estado, sendo secundado pelo petista que governa o Ceará que concedeu 13% as mesmas categorias.
Os policiais militares dos demais estados seguem o velho padrão de se fulano pode, nós também podemos.
Para completar o desastre o alienado do senador Cid Gomes, integrante da turma do 'quanto pior, melhor' resolve invadir um quartel - ato duplamente criminoso,seja pela invasão quanto pelo dano ao patrimônio público - colocando em risco a vida de dezenas de policiais militares e familiares.]
O movimento dos policiais militares é o mais ousado e controverso desses
movimentos, porque inclui o incentivo, que era tácito e vai se tornando
cada vez mais implícito, a motins já classificados como
inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e cuja ilegalidade
foi reiterada pela Justiça, no caso do Ceará.
Bolsonaro e os filhos oscilam entre a brincadeira simpática e o apoio
escancarado ao movimento dos amotinados cearenses, que perpetraram na
última quarta-feira a tentativa de homicídio do senador Cid Gomes – que,
em outro ato tresloucado muito representativo dessa polarização
patológica da política brasileira, havia investido com uma
retroescavadeira contra um grupo que tomava um batalhão da PM em Sobral.
Não se ouviu do presidente da República, do ministro da Justiça, Sérgio
Moro, e de nenhum dos militares do governo, que deveriam ser os
primeiros a serem intransigentes na defesa da hierarquia e da disciplina
militares, nenhum pio condenando o movimento ilegal dos PMs cearenses,
cobrando o imediato desligamento dos amotinados nem a investigação e
prisão dos autores dos disparos que alvejaram um senador da República. [e a punição do senador da República? deve ser laureado por seu descontrole emocional e irresponsabilidade ao investir contra dezenas de inocentes?]
No lugar disso, Bolsonaro estendeu sua fanfarronice, demonstrada dias
antes na piada sexual de botequim com uma repórter, ao brincar que Cid
Gomes não tinha habilitação para dirigir retroescavadeira, na sua última
live. Flávio Bolsonaro foi mais explícito, ao chamar os amotinados que
fazem uma greve ilegal de pessoas em busca de “melhores salários”, mais
parecendo um sindicalista petista.
O movimento dos PMs não começou agora. Teve uma primeira onda em 2017,
quando o levante violento no Espírito Santo teve incentivo explícito do
então deputado Bolsonaro. Agora, os líderes da greve ilegal no Ceará são
todos políticos com patentes militares – outra onda que veio na esteira
do bolsonarismo em 2018. A Milícia Nacional Bolivariana da Venezuela foi criada por Hugo Chávez
em 2007, e hoje conta com mais de 1 milhão de cadastrados. Maduro quer
chegar a 2 milhões. Seus homens e mulheres armados recebem salários de
fome e uniformes cáqui para defender o governo, encher comícios,
espionar a oposição e evitar a deposição do ditador.
Insuflar em policiais militares um sentimento de louvor político,
passando por cima dos governadores e usando pressão salarial como
combustível coloca o Brasil no caminho da criação de uma milícia
paraestatal. Cabe ao Congresso, ao STF e aos governos estaduais cortar o
mal pela raiz, punindo e reprimindo os movimentos dos PMs, sem ceder a
chantagens por reajustes nem negociar anistias a criminosos. [Bolsonaro não precisa de apoio de milícias, ele tem o apoio de quase 60.000.000 de eleitores, número que aumentará substancialmente em 2022.]