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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Está valendo a pena o socorro das Forças Armadas para reverter a crise da segurança?




'não há como 10 mil militares possam compensar esforço de quase 60 mil policiais do estado'
 Militares do Exército durante operação na Rocinha - Fábio Guimarães / Agência O Globo


O socorro das Forças Armadas ao Rio de Janeiro pela “enésima” vez suscita a velha questão:  



está valendo a pena ou o custo, até aqui, estimado em 48 milhões de reais, o suficiente para comprar 800 viaturas policiais para reverter a crise da segurança do Estado? O que vimos foi mais socorro político do que efetiva resposta operacional para afetar a violência que se distribui em insistentes picos localizados como na Rocinha, nas comunidades dominadas por traficantes e milicianos e nas variadas manifestações criminosas que se espalham de forma crescente pelas ruas. 

Não há como 10 mil militares federais possam compensar o esforço de quase 60 mil policiais do estado. Ou reparar suas mazelas como a falta de integração das polícias civil e militar, o envolvimento de policiais com criminosos, a precariedade de planejamento ou a dificuldade do governo do estado em colocar nas ruas boa parte dos oito mil policiais que fugiram para órgãos estranhos, se escondem na burocracia ou vigiam presos. Somente policiais podem cuidar com proficiência de seus afazeres que demandam conhecimento e experiências específicos, ingredientes não existentes nos arsenais militares. [os 10 mil militares federais podem fazer toda a diferença desde que sejam utilizados em ações específicas, realizadas simultaneamente em dois ou três locais diferentes, com duração mínima de dez a quinze dias, realizando cerco, asfixia e varredura.
Enquanto estes dez mil homens realizam suas missões os 60 mil policiais estaduais executam suas ações de rotina, na qual são especialistas.
Ao final de cada conjunto de operações específicas as FF AA iniciam outras operações enquanto a PM assume as favelas recém limpas.
PMs e FF AA trabalhando no mesmo local, em conjunto, não funciona - exceto em situações excepcionais.]

 É preciso parar com essas “operações quebra-galho”. Se o governo do estado quer o apoio federal deve assinar documento reconhecendo a incapacidade do aparato estadual para cuidar efetivamente da segurança da população e, nessa condição, passar todo o controle da segurança pública para comando e coordenação federal. E é melhor que o faça. Não há a menor perspectiva de que algo vá melhorar no derradeiro ano deste governo. Uma boa ação do governo Pezão em 2018 seria cuidar da transição da segurança pública para o próximo governo, através da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro para identificar e corrigir seus problemas internos e preparar estratégias mais eficientes para contenção do crime e evoluir para patamar mais civilizado de segurança que a população do Rio está a merecer.


José Vicente da Silva Filho - *O autor é coronel reformado da PM de São Paulo, ex-secretário nacional de segurança pública, ex-consultor do Banco Mundial e consultor de segurança pública