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domingo, 12 de junho de 2016

Após recuos, Temer cede a pressões para Dilma não voltar

Há um mês no poder, presidente interino evita confrontar Congresso para garantir permanência no poder

 Há exato um mês no comando interino do país, Michel Temer confidenciou a aliados ter a impressão de que já se passaram anos. Nos primeiros dias, governando sob intensa pressão, demitiu dois ministros; enfrentou grampos com diálogos pouco republicanos envolvendo a cúpula de seu partido, o PMDB; descumpriu promessas; e enfrentou protestos que chegaram à porta de sua casa, em São Paulo. Nesses 30 dias, o peemedebista buscou administrar cobranças e, na maioria das vezes, teve que ceder pela percepção elementar de que seu governo não é um governo de fato, mas interino. E, ironicamente, apesar da pressão, a decisão no Planalto é seguir nessa toada. Ao menos até agosto, quando ocorrerá no Senado o julgamento final do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, Temer decidiu entrar no jogo do Congresso e engolir muitos sapos, construindo as alianças necessárias para garantir sua permanência definitiva.

Com maioria frágil no Senado 59 votos contabilizados por sua equipe a favor do impeachment de Dilma, apenas cinco a mais que os 54 necessários —, o presidente interino tem se desdobrado em atenção aos senadores, de quem tem ouvido centenas de pedidos. Quase todas as demandas, contam auxiliares presidenciais, se resumem a cargos. Em seu gabinete, recebeu em audiência oficial ao menos dez senadores. Nesta semana irá pela segunda vez ao Congresso desde que assumiu a Presidência, agora para entregar o projeto que estabelece teto para os gastos públicos. Um gesto de aproximação e de cordialidade com deputados e senadores que na gestão Dilma reclamavam da falta de atenção da presidente.

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O governo acredita ter a situação sob controle e publicamente nega que esteja agindo com vistas à votação do impeachment. O ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) nega que Temer esteja sendo chantageado por senadores por conta da manutenção do voto contra Dilma e garante não temer uma reviravolta no placar de votação. Não temos preocupação com isso — afirma Geddel.
 
No entanto, desde que voltou ao Senado depois da efêmera passagem pelo Ministério do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR) tem se dedicado prioritariamente à tarefa de garantir os votos que enterrem a possibilidade de Dilma voltar ao Planalto. A propósito, a saída de Jucá do governo foi considerada pelo presidente interino a situação politicamente mais difícil que enfrentou até agora. Ele gostaria de mantê-lo pela lealdade que o peemedebista teve desde o início do processo de impeachment e por considerá-lo altamente capacitado para o cargo. No entanto, Temer percebeu logo nas primeiras horas após a revelação das gravações das conversas entre Jucá e Sérgio Machado que seria impossível suportar a pressão da opinião pública. Ao fim, Temer trabalhou para minimizar os danos e mantê-lo como um importante aliado.

Acima inclusive das questões políticas, o fato que mais tirou Temer do sério neste período foram os protestos em frente à sua casa que deixaram a mulher, Marcela, e seu filho caçula, Michelzinho, receosos de uma invasão. No dia em que anunciou suas primeiras medidas econômicas, Temer fugiu ao seu tom discreto habitual, bateu com a mão na mesa e disse que quando Secretário de Segurança de São Paulo “tratava com bandidos”, em recado aos manifestantes.

Na Câmara, o presidente interino engoliu um dos maiores sapos de seu primeiro mês, que foi aceitar a indicação imposta pelos deputados do centrão de André Moura (PSC-SE) para líder do governo. Absorveu as críticas de aliados do PSDB, DEM, PSB e PPS e da opinião pública para evitar uma crise. Apesar de ter colocado Moura na liderança a pedido do centrão, o presidente interino continua sendo alvo de pressões do grupo por mais cargos. Na semana passada, a fome pelo comando de órgãos públicos quase paralisou a votação em segundo turno da DRU.

A rebelião foi contida antes de chegar ao plenário pela promessa de Temer de que o assunto será resolvido. O presidente explicou que seu governo é interino, mas que a partir de agosto, se o Senado afastar permanentemente a presidente Dilma, as nomeações serão aceleradas.  Se por um lado a interinidade causa incômodo aos novos inquilinos do Planalto, que operaram para acelerar o calendário da Comissão do Impeachment no Senado, por outro, serve como uma boa desculpa para Temer negociar com mais cuidado os espaços de cada aliado no poder. Apesar de ter se apresentado antes mesmo da confirmação do afastamento de Dilma como preparado para a função, Temer e sua equipe não contavam com os surpreendentes desdobramentos da Lava-Jato e as cobranças de que tem sido alvo desde que assumiu o poder. — Ele reclama da cobrança. De fato, há uma atmosfera mais pesada no Palácio do Planalto, mas não ficamos dando graças a Deus a cada dia que passa como se estivéssemos numa luta pela sobrevivência — diz um auxiliar.

Um assessor próximo de Temer admite que os acontecimentos relacionados à Lava-Jato o obrigaram a adotar um comportamento múltiplo, com os pés no Executivo, o olho no Legislativo e atento aos movimentos do Judiciário. Além dos tiros fatais que atingiram dois de seus ministros, Jucá e Fabiano Silveira (Transparência e Combate à Corrupção), também pego em grampos, o afastamento do presidente da Câmara Eduardo Cunha gerou uma situação de fragilidade no comando da Casa, por onde precisam passar as matérias econômicas.

Pela situação atípica em que vive a Câmara, com o presidente afastado e o interino, Waldir Maranhão (PP-MA), sem nenhum respaldo dos parlamentares, o Planalto virou uma segunda casa da base aliada. Rodrigo Rocha Loures, assessor especial de Temer, diz que Temer acredita que o Congresso deva ser o protagonista da ação governamental.


Fonte: O Globo