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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

JBS - FRIBOI, ainda vai render = Palocci, o homem de 200 milhões de reais

Palocci é investigado por negócio bilionário entre BNDES e JBS

Ex-ministro petista é suspeito de ter atuado junto a banco estatal para favorecer grupo frigorífico num investimento de 3,5 bilhões de reais

O ex-ministro Antonio Palocci, preso há dois meses em Curitiba na Operação Lava-Jato, está na mira de outra complexa investigação em Brasília. O petista é suspeito de ter ajudado o grupo frigorífico JBS a receber um investimento bilionário do BNDES. Instaurado a pedido do Ministério Público Federal, o inquérito sigiloso, obtido por VEJA, é conduzido pela Polícia Federal.

O objetivo da investigação é “apurar prática de atos de improbidade administrativa por parte de dirigentes do BNDES em razão dos investimentos, possivelmente fraudulentos, realizados nas empresas Bertin e JBS, bem como eventual participação de Antonio Palocci Filho com fins de beneficiar a empresa JBS”, segundo documento do MPF.

Com bom trânsito entre grandes empresários do país, Palocci tinha uma extensa lista de clientes, dos mais variados setores – de banqueiros a dono de rede de supermercados e hospitais. Entre as companhias que recorreram aos serviços de consultor do ex-ministro da Casa Civil está a JBS. De 2009 a 2010, a dona da marca de carnes Friboi pagou 2 milhões de reais para a Projeto Consultoria Empresarial e Financeira, de Palocci.

Oficialmente, o médico sanitarista assessorou o grupo frigorífico com análises das “perspectivas do mercado de carnes de frango” nos Estados Unidos. No mesmo período, a JBS recebeu um investimento de 3,5 bilhões de reais do BNDES. Os investigadores suspeitam que Palocci esteja por trás dessa operação financeira que apresenta indícios de fraudes.

O ex-ministro alega que ajudou a JBS na aquisição da produtora de frango americana Pilgrim’s, em setembro de 2009. No entanto, as negociações dessa transação começaram no segundo semestre de 2008 – e foram conduzidas por grandes escritórios de advocacia e bancos de investimento, especializados em fusões e aquisições.

Palocci, então deputado federal pelo PT, foi contratado pelo grupo frigorífico em julho de 2009, pouco antes da transação ser finalizada. No mesmo período em que comprou a Pilgrim’s, a JBS também anunciou a aquisição do grupo Bertin, parceiro de negócios do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula.

O aporte do banco estatal na JBS foi um negócio e tanto. O BNDES comprou 3,5 bilhões de reais em títulos de dívida emitidos pela empresa, chamados de debêntures. Esses papéis foram convertidos em ações da companhia. A transação foi vantajosa para o grupo frigorífico, que não teve que arcar com juros de um empréstimo normal e ainda ganhou o governo como sócio. O Tribunal de Contas da União já identificou indícios de que essa operação causou prejuízo aos cofres públicos. O caso está sendo analisado.

Em 2010, após receber os recursos do BNDES, a JBS doou 10 milhões de reais para a campanha que elegeu Dilma Rousseff à presidência da República. A vitória da petista nas urnas foi coordenada por Palocci, que logo em seguida foi nomeado como ministro da Casa Civil, em janeiro de 2011. Seis meses depois, o petista caiu após o jornal Folha de S.Paulo revelar que ele multiplicara o seu patrimônio prestando consultorias para diversas empresas.

Em setembro deste ano, Palocci foi preso na 35ª fase da Operação Lava-Jato, suspeito de ter uma relação criminosa com a empreiteira Odebrecht, que teria desembolsado mais de 128 milhões de reais em propinas para o ex-ministro e outros integrantes do PT. De acordo com a Polícia Federal, Palocci ajudou a construtora a destravar, por exemplo, um empréstimo do BNDES para desenvolver projetos em Angola. No início deste mês, o ex-ministro sentou pela primeira vez no banco dos réus, acusado pelo Ministério Público Federal de ter praticado os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Procurado, o advogado José Roberto Batochio, que defende Palocci, disse que o ex-ministro deu consultoria para a JBS, auxiliando no processo de aquisição da Pilgrim’s. “Foi entregue um relatório do serviço prestado. Não há, portanto, qualquer irregularidade”, afirmou o criminalista. A JBS informou, em nota enviada por sua assessoria de imprensa, que não teve acesso ao inquérito. “A JBS contratou a Projeto para a elaboração de estudos, análises e informações de cenários macroeconômicos e  do mercado mundial e norte-americano de proteína. O contrato realizado com a Projeto, em 2009, e seus  respectivos pagamentos estão devidamente formalizados e documentados”, diz a companhia. [óbvio que tudo está devidamente 'documentado', ainda que os documentos sejam falsos.
Especialmente a comprovação dos pagamentos - não teria sentido firmar um fictício contrato de consultoria, sem documentar os pagamentos.
Afinal, o objetivo é exatamente 'provar' que aqueles milhões que o consultor recebeu - no caso o presidiário Palocci - se referem a serviços efetivamente prestados. 
Este é o passo essencial para a lavagem de dinheiro.
Só o estúpido governador de Minas, o Pimentel,  é que apresentou recibos de consultoria, para lavar grana de propina e 'esqueceu' de arranjar plateia para as inexistentes consultorias.] “Em nenhuma situação ou circunstância, Antonio Palocci ajudou, se envolveu, ou teve qualquer relação entre os negócios da companhia e o BNDES”, afirmou a JBS, ressaltando que o investimento do banco estatal está “em linha com as melhores práticas de governança e transparência, em uma transação típica de mercado”. O BNDES ainda não se manifestou.

 LEIA TAMBÉM: Palocci: o homem de 200 milhões de reais

Relatório com movimentações suspeitas do ministro detalha operações milionárias com pessoas físicas e jurídicas, mas não consta o nome da Odebrecht

Ao prender o ex-ministro Antonio Palocci, a força-tarefa da Operação Lava-Jato poderá jogar luz sobre suas milionárias operações financeiras. O petista foi homem forte nos governos Lula e Dilma. O ex-ministro, registrado sob a alcunha “Italiano” na planilha de propinas da Odebrecht, tornou-se uma verdadeira máquina de ganhar dinheiro.

Palocci foi objeto de comunicações de operações financeiras no valor de 211 milhões de reais entre 2010 e 2015. Esses relatórios foram produzidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), órgão do Ministério da Fazenda que investiga lavagem de dinheiro. A maior parte do dinheiro foi movimentada através da empresa do ex-ministro, a Projeto Consultoria Empresarial e Financeira. O COAF enumerou operações suspeitas de Palocci em pelo menos 11 comunicações enviadas ao Ministério Público, à Polícia Federal e à CPI do BNDES. A prisão de Palocci nesta segunda-feira poderá arrastar várias empresas para o escândalo.


A força-tarefa da Operação Lava-Jato conclui que há indícios de que Palocci atuou de forma direta “a propiciar vantagens econômicas” à Odebrecht nas mais diversas áreas de contratação com o poder público, beneficiando-se de “vultosos valores ilícitos”. O ministro teria recebido propina nas tratativas para a aprovação do projeto de lei de conversão da Medida Provisória 460/2009, sobre benefícios fiscais, no aumento de linha de crédito para a construtora junto ao BNDES e ainda na intermediação da aquisição de 21 navios-sonda para o pré-sal. A Odebrecht, no entanto, não aparece nos relatórios do COAF como uma das empresas que depositaram dinheiro para Palocci.

O relatório do COAF cita vários outros nomes de empresas e pessoas jurídicas, que agora poderão ser definitivamente levados para o epicentro do escândalo. Entre os remetentes de recursos para a conta bancária da empresa de Palocci estão o empresário Edson de Godoy Bueno, ex-dono da Amil, com 20 milhões de reais, e a montadora CAOA, com 5,3 milhões de reais. A CAOA está envolvida em um esquema de compra de medidas provisórias e já vinha sendo investigada nas operações Acrônimo e Zelotes.

Para prender Palocci, a força-tarefa fez uma análise detalhada de e-mails e anotações registradas nos celulares apreendidos, mostrando evidências de que o ex-ministro contava com o auxílio de seu então assessor Branislav Kontic para atuar em favor da Odebrecht, entre 2006 e 2013, interferindo em decisões do governo. A atuação de Palocci e Branislav ocorreu mediante recebimento de propinas pagas pela Odebrecht dentro do contexto do “caixa geral” de recursos ilícitos que se estabeleceu entre a construtora e o PT. Uma planilha apreendida durante a operação identificou pagamentos de 128 milhões de reais ao PT e seus agentes, incluindo Palocci. Era tanto dinheiro movimentado que em 2013 havia um saldo remanescente de 70 milhões de reais em propina, que eram administrados por Palocci, em favor do PT.

Fonte: Revista VEJA