Faltou gente, e sobrou truculência. É a morte do demiurgo;
é a morte do partido que se queria hegemônico
Lula
deu com os burros n’água. De novo! Lula se tornou o anti-Midas do PT e
da política. A maldição do lendário rei era transformar em ouro tudo
aquilo em que tocava. O mau augúrio que acompanha o companheiro-chefe
hoje é outro: tudo aquilo em que ele se mete dá errado, vira zerda. Na
minha coluna da Folha de sexta, afirmei que o quase mítico chefe petista
está morto. Eu me referia, obviamente, à morte não do homem, mas do
demiurgo; não do político, mas daquele chefe que era capaz de encantar e
de mesmerizar as multidões.
Um
ex-presidente da República, comportando-se de forma notavelmente
irresponsável, convocou seu partido a engrossar as manifestações desta
terça, lideradas pela CUT, pelo MST e pelos ditos movimentos sociais
contra o Projeto de Lei 4.330, que regulamenta as terceirizações. Lula
chamou, Lula convocou, Lula se esgoelou, mas as ruas não compareceram.
Em São Paulo, o protesto reuniu, segundo a Polícia Militar, 400 pessoas.
Em Brasília,
os truculentos convocados pelo ex-poderoso chefão decidiram fazer um
cerco ao Congresso e intimidar a democracia. Entraram em confronto com a
Polícia Militar. Um dos manifestantes exibe, quem sabe com o orgulho, o
rosto sujo de sangue. Eis Lula na parada. Escrevi a
respeito de sua tática ontem e hoje. O Babalorixá de Banânia quer que
Dilma arrende seu governo para o PMDB — ao menos o PMDB que ele tem em
mente —, que sele uma espécie de “pax” com o Congresso, e ele, Lula,
quer se encarregar de criar uma suposta nova agenda que chama
“progressista”, com os sindicatos, outros partidos de esquerda e
movimentos sociais.
Deu errado!
Ninguém ouviu o chamado. Como de hábito, o que se viu foi um espetáculo
de truculência em Brasília, que só reforça a necessidade de aprovar o
Projeto de Lei 4.330. Os únicos que não gostam do seu conteúdo são os
sindicalistas, muito especialmente aqueles ligados à CUT, que é, como
todo mundo sabe, um dos braços operativos do PT.
Lula, é
preciso deixar claro de novo, convocou uma manifestação que hostiliza o
próprio governo Dilma. O homem chegou à conclusão de que a única saída
para seu partido é se descolar das medidas do Planalto — especialmente
as de caráter recessivo —, manter o clima da constante mobilização, mas
sem derrubar a presidente. E, para tanto, ele contava com o PMDB: o
aliado garantiria a estabilidade política, no limite do possível, para
que ele, Lula, liderasse a instabilidade social e preparasse a sua
candidatura a 2018.
Naufragou
espetacularmente. Para o bem do Brasil. O Projeto de Lei 4.330 é um
avanço e moderniza relações trabalhistas que hoje engessam a economia e
suprimem empregos, em vez de garanti-los. Lula, o
demiurgo, o mito, reitero, está morto. Da mesma sorte, é defunto o
partido que ousou um dia sonhar coma hegemonia política, de sorte que
todas as outras legendas fossem seus satélites.
Há um Brasil
novo surgindo. Lula e o PT não perceberam. Lula e o PT perderam o
bonde. Lula e o PT foram superados pela história. Felizmente!