A
presidente deveria se mancar, aproveitar a boa ideia que será – se for – mal executada e extinguir o governo. Mas Dilma Rousseff deseja mesmo continuar
não governando o país. Ora, e não é isso mesmo o que faz o desejo?
Prende-nos naquilo que não é nosso. Traída pelo desejo de vergar sem quebrar,
enquanto quebra o país, a presidente dedilha sua lira do delírio fragmentando-se
em ações sucessivas que há muito só cuidam dos cacos da figura política mais
tosca da história do país – qualquer país.
O Brasil toca sozinho a própria
rotina na qual tudo o que funciona só funciona apesar da presidente atada ao
desejo de salvar aparências vazias. Consumando
outra mentira da campanha eleitoral, o anúncio dos
ministros aparvalhados quanto à redução aleatória de 10 ministérios – por que não 9 ou 11? – não explicou o
planejamento da coisa, os objetivos e as estratégias para alcançá-los. Nas
mentiras transparentes, a verdade é antevista na tentativa de enrolar o público
pagante e ganhar tempo para uma pausa na morte cotidiana do governo.
A proposta é ótima, pena que não
há proposta; o país
só teria a ganhar, mas é aí que entra Dilma acabando com as chances de a nação
ter algum ganho. Ainda que haja a redução, restará esse governo cuja chefe
instala, na equipe multidisciplinar da articulação política com várias
disciplinas da imbecilidade política do governo, o secretário pessoal que, mais do que tudo,
é um amigo-funcionário que é tão popular entre os políticos quanto um amigo de
Dilma pode ser.
Giles Azevedo deve ser ótimo
confidente e tal, daqueles
para quem se confessa até o índice de massa corporal, mas é perturbador saber
que o obscuro articulador político esteve ao lado de Dilma em cada, vá lá,
ideia que ela teve. Torço pelo dia em que a lei despejará a súcia do poder e é
exasperante perceber que os planos que o bando tem são o de fugir da realidade com esses espetáculos de bisonhice
explícita e aquele implícito de arranjos paridos por quem nem mesmo pode se
garantir.
É cada vez mais entristecedora e
intolerável a constatação renovada de que o Brasil se deixou submeter, por tanto tempo, por uma
escória que é tão ruim para a política quanto é boa para a vigarice.
Fonte: Valentina de Botas – Coluna do Augusto Nunes