Marcada por idas e vindas, a negociação com os caminhoneiros acelerou a corrosão do governo, potencializando a falência da autoridade presidencial.
Michel Temer virou, por assim dizer, um ioiô. É cada vez mais curto o prazo de validade das decisões chanceladas pelo presidente. A penúltima —uma nova tabela de preços para os fretes— foi revogada menos de quatro horas depois de sua divulgação. Deve-se a meia-volta à ameaça de nova paralisação dos caminhoneiros autônomos. O vídeo que ilustra esse post exibe uma cena constrangedora. Nela, o ministro Valter Casimiro (Transportes) aparece cercado de representantes da nação caminhoneira. Estavam indóceis. Exigiam a revogação da nova tabela, pois ela reduzia em 20%, em média, os preços fixados na planilha anterior. Pressionado, o ministro autorizou a filmagem de sua rendição, que foi espalhada pelos caminhoneiros nas redes sociais como prova de força.
Reunião as pressas no Ministério dos Transportes, com os companheiros e o
Ministro Casemiro.
Ficou acordado que a tabela publicada hoje não está valendo. A Que está
valendo é a Resolução ANTT 5.820/18 publicada no dia 30/06/2018.
A crise leva à vitrine um velho paradoxo das chamadas forças produtivas do país. No gogó, todos defendem o livre mercado. Na prática, exigem proteção estatal e subvenção do Tesouro, empurrando para dentro do bolso do contribuinte a conta da ineficiência e das sazonalidades. Num país com as dimensões do Brasil, impor uma mesma tabela para o frete do Oiapoque ao Chuí é uma sandice irrealizável. E não é a única. O governo ainda não entregou na bomba o desconto integral de R$ 0,46 no litro do diesel. Não entregou nem deve entregar.
No fim das contas, apenas duas coisas ficaram em pé na negociação: os R$ 13,5 bilhões em verbas do contribuinte que o governo jogou na fogueira da subvenção ao diesel e a manutenção da desoneração da folha salarial das empresas transportadoras —um contrabando que o baronato do transporte incluiu na pauta de reivindicação dos caminhoneiros. Quando o governo é fraco, o contribuinte perde 100% das batalhas. Quem tem o grito mais alto não perde por esperar… Ganha.
Blog do Josias de Souza