Nem tudo ainda está perdido
Ao presidente da
República deveria ser permitido no fim de semana sair para almoçar na
casa de um amigo sem ser importunado pelos jornalistas, sem ter a
obrigação quase sempre desagradável de responder a perguntas fora de
hora, principalmente as mais incômodas que não quer ou que não saberia
responder. No caso de Bolsonaro,
dentro ou fora do expediente de serviço, nada se lhe deveria indagar
sobre economia porque ele simplesmente não entende. Quantas vezes ele
não disse que de economia entende o ministro Paulo Guedes? Ou que os que
diziam entender de economia empurraram o país para o buraco? Referia-se
aos petistas, claro.
Mas os jornalistas são
uma praga. E ontem, à saída de Bolsonaro da casa de um amigo no Lago
Sul, em Brasília, quiseram saber o que ele acha das projeções sobre o
crescimento do Produto Interno Bruto do país depois da queda de 0,2% no
primeiro trimestre deste ano. Isso é lá coisa que se pergunte a um
presidente num sábado luminoso? “Já falei que não
entendia de economia?” – devolveu Bolsonaro. “Quem entendia afundou o
Brasil e eu confio 100% na economia do Paulo Guedes”. Ante a pressão de
repórteres ansiosos por notícias, o presidente decidiu saciá-los com
platitudes do tipo: “A gente quer melhorar os nossos índices, agora
passa por questões até externas”.
Das internas preferiu não
falar, e com razão. Sempre que tenta demonstrar domínio de alguns
temas, é encrenca na certa. Foi assim quando mandou a Petrobras
suspender o reajuste do diesel. Ou quando anunciou um milagroso projeto
econômico do qual ninguém ouvira falar dentro ou fora do governo.
Admoestado, recuou.Depois de cinco meses de
governo Bolsonaro, a economia está ao rés-do-chão e não oferece o mais
pálido sinal de que possa levantar-se, nem quando. Guedes e equipe
parecem não ter tido tempo de pensar em algo para além da reforma da
Previdência que renderia uma economia de 1 trilhão de reais em 10 anos.
Fala-se vagamente de
outras reformas, da privatização de empresas estatais, do achatamento do
salário pago a determinadas categorias de servidores públicos, e coisas
que tais. Mas de medidas pontuais ou de longo prazo que reduza o número
de desempregados, neca de pitibiribas. Quem gosta de pobre é o PT,
disse Bolsonaro outro dia.Há presidentes
despreparados para governar, mas que mesmo assim acabam aclamados por
terem governado bem, e outros apenas despreparados e que ao fim do seu
mandato são esquecidos. O segredo do sucesso dos primeiros foi montar
boas equipes e não atrapalhar seu trabalho.
Os outros se deram mal por
fazer o inverso. Como quem nada aprendeu
antes de chegar à presidência e nada esqueceu depois de chegar,
Bolsonaro ainda tem a chance de dar-se bem.
O primeiro passo seria
reconhecer sua abissal ignorância sobre tudo. O segundo, reformar sua
equipe. O terceiro, atrapalhar o mínimo possível. Quem sabe assim não se
reelegeria? Não duvidem.
Abaixo do Brasil acima de tudo e de Deus acima de todos está o povo. Ou não? Um bom domingo para todos.