Maílson da Nóbrega
A oposição do presidente à privatização de Ceagesp indica seu descompromisso com o programa de desestatização do seu próprio governo
O ambicioso programa de privatização de empresas estatais, defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, nunca esteve nas prioridades do presidente Jair Bolsonaro. Seus sete mandatos como deputado federal se caracterizaram pelo apoio à presença de estatais e a outras formas de intervenção estatal na economia. A ideia de que Guedes seria o “Posto Ipiranga” pode ter levado o ministro à ilusão de que chegara a hora de livrar o país da maioria ou mesmo da totalidade dessas empresas. O capitão teria sido convencido da necessidade da agenda ultraliberal. Daí a estimativa de obter um trilhão de reais com as privatizações.
Essa expectativa começou a dissipar-se já no início do atual governo. O presidente decidiu excluir do programa todos os bancos oficiais e a Petrobras, o que representava mais de 80% do universo do patrimônio privatizável. Restavam para venda apenas a Eletrobrás e alguns gatos pingados. Nem isso, todavia, avançou. As dificuldades de articulação política do governo e de senso de urgência na matéria explicam a ausência de um esforço visível de privatizar. Derivou disso, provavelmente, a decisão do secretário Especial de Desestatização, Salim Mattar, de pedir demissão do cargo.
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