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quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Fraudes e golpes - Percival Puggina


Não entendo de fraudes. De fraudes entendem investigadores, peritos e criminosos. Mas percebo os hematomas do processo democrático quando golpeado e reconheço um complô quando o vejo produzindo efeitos.

Onde a nova configuração do Congresso mostra os votos de Lula? Mais da metade das cadeiras ficaram com os conservadores, ou com a direita! A esquerda raiz conquistou apenas 20% das cadeiras
O que aconteceu domingo, se não uma sequência daquilo que se viu durante quatro anos? Ou seja: as informações não coincidem com o que se vê; o discurso não fecha com a prática; a determinação judicial não confere com a lei; a pesquisa eleitoral vai para um lado e os votos para outro; a análise desconhece a realidade; toda ocultação e toda distorção beneficiam Lula e prejudicam Bolsonaro. [COMENTÁRIO: o termo ocultação nos faz lembrar que em 2018 a totalização dos votos ia a todo vapor, conhecido comentarista apresentava os dados com Aécio Neves na frente da petista Dilma; 
- de repente, houve uma interrupção do fornecimento dos números, as atualizações  ficaram indisponíveis por algum tempo e quando voltaram a petista liderava
Destacamos que o presente comentário não tem  intenção de contestar a inexpugnabilidade do sistema eleitoral brasileiro,  insinuar ocorrência de fraudes ou qualquer ato do tipo.  
Apenas apontamos um coincidência entre 2022 e 2014 - nas eleições deste ano, os números eram fornecidos em determinada rede de TV - de de deputado estadual a Presidente da República - quando por volta das 19, 20 horas, passaram a ser fornecidos apenas os envolvendo deputados estaduais e federais, governadores e senadores = nada sobre os número dos votos para presidente. 
A interrupção de informações sobre o andamento da totalização dos votos para presidente da República permaneceu por um tempo entre 30 a 60 minutos. Quando voltaram a ser fornecidos tais dados o petista liderava. Pensamos que foi uma coincidência.]

Diante do que disseram as urnas, não vou conjeturar sobre o que não sei, mas quem tenha observado registros desse enviesamento ao longo dos últimos quatro anos está pensando, sim, na falta de transparência do sistema.

Entendi que também a esse respeito nada é como a nação quer, mas como querem seus regentes togados. Entendi isso, muito claramente. Só não entendi o motivo capaz de levar um pequeno colegiado, encarregado de administrar os ritos do processo eleitoral, a exibir tamanho desdém à opinião majoritária da sociedade, expressa em sucessivas pesquisas que o próprio tribunal divulga.               Datafolha de julho sobre confiabilidade das urnas: confiam muito, 47%; confiam um pouco, 32%; não confiam, 20%, e não opinaram 3%

Ao apresentar esses dados, em coro com o consórcio do jornalismo militante, o tribunal considera que confiar um pouco é o mesmo que confiar! Então, soma as duas parcelas e divulga um índice de confiança de 79% em vez de um índice de desconfiança de 52%! Essa não, doutores!

Já a nação, ora a nação! Que se dane em incertezas.

Não entendo de fraudes. De fraudes entendem investigadores, peritos e criminosos. Mas percebo os hematomas do processo democrático quando golpeado e reconheço um complô quando o vejo produzindo efeitos.

A inédita e constrangedora vitória de Lula no último domingo é consequência de tudo que contra Bolsonaro foi orquestrado e de todo assédio que sofreu das instituições.  
É colheita do patrulhamento imposto às redes sociais, das trovejantes ameaças lançadas sobre os cidadãos, da restrição às liberdades de opinião e expressão e do colaboracionismo das plataformas com o ambiente político imposto ao país.

Os eleitores que deram maioria a Bolsonaro no Congresso não haverão de entregar o Brasil de volta ao ex-presidiário.

O prazo de validade do susto já se esgotou. Queremos nosso país de volta e não soltaremos a ponta da corda. Dia 30 tem a volta.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.