O que você achou do resultado geral das eleições?
Não me surpreendeu. Sua vitória afirmou três pontos. Primeiro, foi
uma grande crítica ao sistema político. Bolsonaro representa uma forma
de virar a mesa. Depois, uma possibilidade de luta contra a corrupção.
E, finalmente, a expectativa de uma política de segurança eficaz.
Embora, não necessariamente ele será capaz disso. Bolsonaro apenas
apresentou essas ideias com mais ênfase e de forma mais clara para o
entendimento popular.
As eleições de Bolsonaro e de Trump foram parecidas?
Há pontos em comum. O principal é a utilização das redes sociais. A
seguir, é a expectativa de alcançar o homem comum, colocando-o contra o
que dizem ser o sistema. Ambos os políticos se mantêm distantes dos
partidos políticos, apesar de Trump ter a força do partido Republicano
por trás. Ambos também se mostram distantes da mídia, de especialistas,
de técnicos e de intelectuais. Todavia, Bolsonaro fez uma campanha bem
modesta. Trump não só tinha muito dinheiro arrecadado, como uma rede de
televisão [Fox] grande e conservadora ao seu lado. Por isso, acho que a
campanha do Bolsonaro foi mais difícil.
A democracia de coalizão que pautou a Nova República está exaurida?
Tanto que a proposta do vencedor é superá-la por meio da
escolha de ministros que sejam técnicos, competentes e independentes de
filiações partidárias. Será uma tentativa de superar o modelo anterior, o
que é de difícil realização. O novo presidente terá que ser um pouco
mais aberto, a ponto de entender que, se houver gente competente e
honrada nos partidos para ocupar alguns postos no governo, ele terá que
abrir espaço. Um governo não pode discriminar seus políticos. Seria algo
extraordinário.
Fernando Gabeira, Jornalista e escritor