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domingo, 2 de janeiro de 2022

O homem mais odiado – e um dos mais poderosos – dos Estados Unidos - VEJA - Mundialista

Vilma Gryzinski

Tucker Carlson toca o terror na esquerda, fala o que poucos têm coragem e exerce um enorme poder de influência sobre a opinião conservadora

 Com Donald Trump fora das redes, patinando para retomar sua projeção e disputar com Joe Biden em 2024, Tucker Carlson praticamente ocupou o espaço de maior guru da direita nos Estados Unidos.

Mesmo quem não assiste o Tucker Carlson Tonight, o programa campeão da Fox, e passa mal só de pensar na risadinha irônica do apresentador – uma hiena de história em quadrinhos, dizem os inimigos -, acaba indiretamente envolvido nos temas que aborda e na forma pugilística com que enfrenta qualquer assunto.

Tucker Carlson é tão de direita que às vezes parece deslocado na própria Fox, o canal criado sob o brilhante princípio de que faltava um espaço para os conservadores na tevê americana – ideia plenamente recompensada pelo retorno do público: no mundo pós-Trump, a Fox se reergueu e terminou o ano à frente dos competidores, a CNN e a MSNBC.

Enquanto outros caíam, devastados pela ausência avassaladora, em termos de geração de notícias, de Donald Trump – o site Politico perdeu nada menos que 48% dos acessos; o Washington Post teve uma queda de 34% de visitantes únicos -, Tucker, como é universalmente chamado, continuou incólume. Aliás, melhorou, do ponto de vista de seus próprios interesses. 

O apresentador foca mais nas batalhas culturais, o assunto de nossos tempos, de uma forma tão visceral que às vezes parece irreal – ou apenas encenada. Apela ao arco que vai desde os americanos conservadores que se sentem deslocados num ambiente de grandes mudanças sociais até as franjas mais obscuras dos que se identificam com teses

teses dos supremacistas brancos.

Em alguns casos, acaba acertando. Enquanto toda a imprensa convencional invocava as fúrias divinas contra Kyle Rittenhouse, o jovem que matou dois manifestantes em Kenosha, durante a explosão de protestos coordenada pelo Black Lives Matter, Tucker fechou questão no campo oposto. Ganhou o dia quando Rittenhouse foi absolvido, com o júri, orientado por fotos e vídeos, aceitando a tese da legítima defesa.

Ganhou também a primeira entrevista com Rittenhouse – uma sequência constrangedora de perguntas chapa branca.

Tucker Carlson é espertíssimo e tem uma equipe competente, que o escuda com fatos incontestáveis. Por exemplo, os da autópsia de George Floyd, mostrando a presença de drogas perigosíssimas, como o fentanil, e a ausência de sinais de que tenha morrido por asfixia, ao contrário do que parece com as imagens terríveis do policial Derek Chauvin (prisão perpétua) comprimindo-o com o joelho contra o chão.

Mencionar fatos assim virou anátema na imprensa tradicional – mesmo que uma coisa não elimine a outra: ele estava surtando com drogas e foi morto de forma brutal e criminosa. Tucker Carlson aproveita para jogar sozinho no campo.

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Tucker Carlson é tão de direita que às vezes parece deslocado na própria Fox, o canal criado sob o brilhante princípio de que faltava um espaço para os conservadores na tevê americana – ideia plenamente recompensada pelo retorno do público: no mundo pós-Trump, a Fox se reergueu e terminou o ano à frente dos competidores, a CNN e a MSNBC.

Enquanto outros caíam, devastados pela ausência avassaladora, em termos de geração de notícias, de Donald Trump – o site Politico perdeu nada menos que 48% dos acessos; o Washington Post teve uma queda de 34% de visitantes únicos -, Tucker, como é universalmente chamado, continuou incólume. Aliás, melhorou, do ponto de vista de seus próprios interesses. 

O apresentador foca mais nas batalhas culturais, o assunto de nossos tempos, de uma forma tão visceral que às vezes parece irreal – ou apenas encenada. Apela ao arco que vai desde os americanos conservadores que se sentem deslocados num ambiente de grandes mudanças sociais até as franjas mais obscuras dos que se identificam com teses dos supremacistas brancos.

Em alguns casos, acaba acertando. Enquanto toda a imprensa convencional invocava as fúrias divinas contra Kyle Rittenhouse, o jovem que matou dois manifestantes em Kenosha, durante a explosão de protestos coordenada pelo Black Lives Matter, Tucker fechou questão no campo oposto. Ganhou o dia quando Rittenhouse foi absolvido, com o júri, orientado por fotos e vídeos, aceitando a tese da legítima defesa.

Ganhou também a primeira entrevista com Rittenhouse – uma sequência constrangedora de perguntas chapa branca.

Tucker Carlson é espertíssimo e tem uma equipe competente, que o escuda com fatos incontestáveis. Por exemplo, os da autópsia de George Floyd, mostrando a presença de drogas perigosíssimas, como o fentanil, e a ausência de sinais de que tenha morrido por asfixia, ao contrário do que parece com as imagens terríveis do policial Derek Chauvin (prisão perpétua) comprimindo-o com o joelho contra o chão.

Mencionar fatos assim virou anátema na imprensa tradicional – mesmo que uma coisa não elimine a outra: ele estava surtando com drogas e foi morto de forma brutal e criminosa. Tucker Carlson aproveita para jogar sozinho no campo.

Cerca de três milhões de pessoas assistem este jogo toda noite – o maior público da história para um canal a cabo, embora equivalente a apenas menos de 1% da população americana. O que conta é a repercussão. Mesmo a negativa, como as várias campanhas para que anunciantes o boicotem – alguns atenderam, outros continuaram – e até pedidos diretos de sua cabeça feitos por organizações fortes, como a a ADL, a Liga Antidifamação, que nasceu para combater o antissemitismo.

“O estilo polarizador de Carlson deixa os espectadores desesperados para saber qual é a próxima”, anotou o site Mediate, que o escolheu como o nome mais influente da imprensa americana (Suzanne Scott, a CEO da Fox, ficou em terceiro lugar).

A revista Time o incluiu na lista dos mais influentes e conseguiu fotos raras de Tucker Carlson na sua casa de madeira na vastidão gelada do Maine, de onde ele comanda o programa que passa a impressão de ser feito em Washington, com o Capitólio ao fundo.

A casa tem lustre de chifres de veado, bandeira americana na parede e uma oficina de marcenaria onde Tucker relaxa ( fazendo o quê?  Miniaturas de mísseis antiaéreos?), embora as duas palavras – “Tucker” e “relaxa” – pareçam ser excludentes.

“Ame-o ou odeie-o, Tucker Carlson pode ser o conservador mais poderoso da América”, escreveu a Time.

“Se os americanos dão a impressão de não se por de acordo a respeito de nada – inclusive se as vacinas contra a Covid-19 funcionam e se Joe Biden ganhou a eleição para presidente -, isso é parcialmente prova da influência de Tucker Carlson”.

Um marqueteiro republicano, Jeff Roe, disse à Time que “ninguém, ninguém mesmo, pesa mais na política conservadora do que Tucker Carlson”, frisando que o comentarista tem o poder não de influenciar, mas de ditar quais são os assuntos relevantes.

Tucker Carlson ganha 10 milhões de dólares por ano na Fox – ainda bem atrás dos 25 milhões pagos ao comentarista que substituiu no primeiro lugar, Sean Hannity. A tensão entre os dois – o programa de Carlson vem primeiro, depois o de Hannity – faz tremer as estruturas da Fox. O apresentador, que também tem o site Daily Caller, ganha ainda pelo streaming que faz no canal, o que parece, ainda sem provas, ser o futuro do instável e cambiante universo das notícias.

Na Fox, os trumpistas de raiz são Hannity e Laura Ingraham. Tucker tem outro foco e detona a ala mais convencional do Partido Republicano, vestindo um figurino antiestablishment parecido com o que levou Trump à vitória em 2016. Um dos entrevistados mais habituais de seu programa é Glenn Greenwald, geralmente convidado para criticar os organismos de vigilância e espionagem e a grande imprensa. 

Um pela direita, outro pela esquerda, os dois acabam se encontrando em algum ponto – e ambos entendem muito bem o fator performático dos programas jornalísticos de televisão baseados em personalidades fortes.

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segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Bolsonaro representa uma forma de virar a mesa

Observador da realidade brasileira desde 1979, quando voltou do exílio após a Anistia, o mineiro Fernando Gabeira, 77 anos, foi jornalista, ativista e político, voltando ao jornalismo após o fim de seu quarto mandato como deputado federal pelo Rio de Janeiro, em 2011. Desde 2013, ele apresenta um programa de reportagens que leva seu nome no canal GloboNews. Com passagens pelo Partido Verde (PV), que ajudou a fundar, e Partido dos Trabalhadores (PT), com o qual rompeu, Gabeira crê na reconstrução da esquerda brasileira e dos movimentos sociais sem as amarras petistas. Dono de uma lucidez crítica e desprovida de pudores ideológicos, ele falou sobre os acertos da campanha de Bolsonaro, as conexões de seu populismo com o de Donald Trump, o surgimento de uma nova direita via redes sociais, a relevância do jornalismo diante das fake news e o papel dos militares no novo governo.


O que você achou do resultado geral das eleições?
Não me surpreendeu. Sua vitória afirmou três pontos. Primeiro, foi uma grande crítica ao sistema político. Bolsonaro representa uma forma de virar a mesa. Depois, uma possibilidade de luta contra a corrupção. E, finalmente, a expectativa de uma política de segurança eficaz. Embora, não necessariamente ele será capaz disso. Bolsonaro apenas apresentou essas ideias com mais ênfase e de forma mais clara para o entendimento popular.
As eleições de Bolsonaro e de Trump foram parecidas?
Há pontos em comum. O principal é a utilização das redes sociais. A seguir, é a expectativa de alcançar o homem comum, colocando-o contra o que dizem ser o sistema. Ambos os políticos se mantêm distantes dos partidos políticos, apesar de Trump ter a força do partido Republicano por trás. Ambos também se mostram distantes da mídia, de especialistas, de técnicos e de intelectuais. Todavia, Bolsonaro fez uma campanha bem modesta. Trump não só tinha muito dinheiro arrecadado, como uma rede de televisão [Fox] grande e conservadora ao seu lado. Por isso, acho que a campanha do Bolsonaro foi mais difícil.

A democracia de coalizão que pautou a Nova República está exaurida?
Tanto que a proposta do vencedor é superá-la por meio da escolha de ministros que sejam técnicos, competentes e independentes de filiações partidárias. Será uma tentativa de superar o modelo anterior, o que é de difícil realização. O novo presidente terá que ser um pouco mais aberto, a ponto de entender que, se houver gente competente e honrada nos partidos para ocupar alguns postos no governo, ele terá que abrir espaço. Um governo não pode discriminar seus políticos. Seria algo extraordinário.


Fernando Gabeira, Jornalista e escritor


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Leis e Justiça contra a Polícia - e ainda tem inúteis que são contra a redução da maioridade penal

Após 9 meses de internação, Justiça extingue pena e solta menor que matou policial

Aos 17 anos, ele voltou para as ruas na semana passada. Somente em abril, oito policiais foram mortos em tentativas de assalto no Rio de Janeiro

Em 3 de junho de 2013, o policial civil Luiz Cláudio Fonseca Perrota levava a esposa, grávida de três meses, para o trabalho quando seu carro, um Peugeot 207, foi interceptado por um Fox no bairro de Marechal Hermes, no subúrbio carioca. A reação instintiva teve um desfecho trágico e o inspetor de 50 anos morreu com um tiro na boca. 

Perrota engrossou uma estatística alarmante: a de policiais mortos em tentativas de assalto no Rio de Janeiro - somente neste mês, oito foram executados lutando pela própria vida. Um dos assassinos do inspetor foi preso 24 horas mais tarde. Roberto Alves dos Santos, o Bigu, tinha 29 anos e uma ficha com anotações de homicídio, tráfico, ameaça e porte ilegal de armas. Mesmo assim, nove dias antes do crime ele conseguiu um dos muitos benefícios da lei e foi colocado em liberdade. O menor que o acompanhava, porém, escapou. Até ser apreendido em julho do ano passado. Condenado a cumprir medida socioeducativa, R. J. A., de 17 anos, passou menos de nove meses dentro do Educandário Santo Expedito, em Bangu (RJ). No último dia 13, durante o mutirão judicial para reavaliar menores infratores que superlotam a unidade, o adolescente também ganhou outro benefício da lei, este bem mais significante: sua pena pelo assassinato do policial foi extinta e, assim, R. saiu pela porta da frente.

Enquanto o Congresso Nacional retoma o debate sobre a redução da maioridade penal, a Coordenadoria Judiciária de Articulação das Varas da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) implantou um mutirão que beneficiou 54 menores infratores em 56 possíveis, como mostra a reportagem de VEJA desta semana. Em reavaliações feitas nos dias 6 e 13 de abril, eles conseguiram a extinção das penas ou medidas mais brandas, o que revoltou o Ministério Público: "Inúmeras irregularidades estão sendo cometidas com o único escopo de esvaziar essas unidades superlotadas. Estamos presenciando um verdadeiro Tribunal de Exceção contra a sociedade", afirmam, em nota, promotores do Centro de Apoio Operacional da Infância.

A decisão de fazer um mutirão de reavaliação dos casos partiu do desembargador Siro Darlan, chefe da coordenadoria do TJ-RJ, durante uma visita que fez ao mesmo Educandário Santo Expedito, onde, cinco dias antes, houve uma rebelião e quatro pastores evangélicos foram feitos reféns. A confusão começou com uma tentativa de fuga. Na ocasião, 310 internos superlotavam a unidade com capacidade para noventa menores infratores. Para realizar as audiências a toque de caixa foi escolhida a juíza da 7ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, Cristiana Faria Cordeiro. Ela classifica o posicionamento do MP como desumano e garante: "Todas as decisões foram tomadas obedecendo as orientações e pareceres da equipe técnica que trabalha com esses internos na unidade".

O site de VEJA teve acesso a outros casos questionáveis. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o menor infrator tem direito a uma reavaliação a cada seis meses. O ladrão de carros Adriano Augusto da Silva, no entanto, fugiu a esta regra. Ele foi apreendido em 2013 depois de dar tiros em um veículo que tentara roubar na Barra da Tijuca. O rapaz chegou a ser reavaliado pelo juiz da 2ª Vara da Infância no último dia 7 de abril e teve a internação mantida. Na semana seguinte, dia 13, também ganhou a extinção de pena, sob o argumento de que já havia atingido a maioridade. O detalhe é que Adriano completou 18 anos no dia 27 de fevereiro, ou seja, antes da reavaliação anterior que o havia mantido internado.

Essas medidas que o MP classifica como descalabro também beneficiaram T. O. S., que em novembro de 2012 estuprou a bisavó em São Gonçalo (RJ) e um traficante da região oceânica de Niterói (RJ) que matou um outro rapaz que devia 3.000 reais na sua boca de fumo. Lucas Gonçalves dos Santos Norte foi capturado em 20 de junho do ano passado. Ele era procurado por assaltos na região de Queimados, na Baixada Fluminense, até que, numa crise de ciúmes, matou a namorada de 13 anos a facadas. Ela estava grávida e o então adolescente desconfiava que não fosse o pai.

O embate entre MP e o judiciário deve ter novos capítulos. A próxima sessão do mutirão está marcada para o dia 27 deste mês. Mas um encontro do último dia 30 de março causou ainda mais mal estar entre os promotores. Neste dia, a juíza Cristiana Cordeiro ouviu 170 menores infratores. O MP não estava presente e, agora, faz um levantamento para tentar descobrir quantos desses casos analisados tiveram novas decisões. "O MP é o fiscal da lei e tinha que estar fiscalizando as muitas irregularidades que existem, inclusive, nas unidades superlotadas que abrigam esses menores. Mas em vez de fazer isso, entrou na Justiça pedindo para não trabalhar [a ação é contrária ao mutirão da forma que vem sendo feito]. Nunca vi um funcionário público pedir, na Justiça, para não trabalhar", dispara o desembargador Siro Darlan.

Está claro que é preciso encontrar soluções para que menores (e maiores) não fiquem amontoados e em condições sub-humanas dentro de unidades prisionais no Brasil. [um mutirão buscando executar pena de morte - alegando urgência e necessidade de abrir novas vagas será uma boa solução = julgamento sumário e execução imediata.]  No Rio, em um Termo de Ajustamento de Conduta firmado em 2006 com o Ministério Público, o governo estadual se comprometeu a construir quatro novas unidades de internação para menores infratores. Até hoje, apenas duas foram erguidas, uma em Campos, região norte do Estado, e outra em Volta Redonda, região sul, - nesta última, as grades eram tão frágeis que foram arrancadas com as mãos dos alojamentos durante um motim.

Uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada semana passada revelou que 87% dos brasileiros são favoráveis à redução da maioridade penal para 16 anos. Em meio ao mutirão da Justiça do Rio e das discussões dos deputados em Brasília (DF), a julgar pelo ritmo adotado pelo judiciário, até o fim do ano as poucas unidades que abrigam menores infratores certamente estarão menos desconfortáveis para os mais de 700 adolescentes que, em média, são apreendidos cometendo crimes todos os meses.

Fonte: Revista Veja